62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 6. Genética
COMPARATIVO DO CLONE KU-20 COM A Tradescantia pallida QUANTO A SENSIBILIDADE AO BIOENSAIO DE MICRONÚCLEO EMPREGADO NO MONITORAMENTO DA GENOTOXICIDADE DA QUEIMA DA CASTANHA DE CAJU.
Marcos Felipe de Oliveira Galvão 1
Thiago de Melo Cabral 2
Paulo Hilário Nascimento Saldiva 2
Sílvia Regina Batistuzzo de Medeiros 1
1. Depto. de Biologia Celular e Genética - UFRN
2. Faculdade de Medicina - Universidade de São Paulo - USP
INTRODUÇÃO:
Apesar da importância social e econômica do beneficiamento da castanha de caju para o Rio Grande do Norte, a produção é realizada de forma artesanal. Para a coleta da amêndoa da castanha é necessário assá-la. A fumaça gerada durante a queima possui altas concentrações de material particulado (MP), sendo inalado por trabalhadores que participam da queima por um período que excede 8 horas diárias. A exposição ao MP tem sido relacionada ao desenvolvimento de doenças pulmonares crônicas e comprometimento do sistema cardiovascular. O uso de bioindicadores vegetais de genotoxicidade representa uma alternativa eficiente para avaliar o potencial genotóxico de agentes contaminantes ambientais. Neste sentido o teste de micronúcleo (MN) em Tradescantia com o clone KU-20 tem sido amplamente utilizado em todo o mundo. No entanto, tal clone não se desenvolve nas condições climáticas de algumas regiões do Brasil. Sendo assim, a Tradescantia pallida tem sido uma alternativa por apresentar fácil adaptação e ser sensível a compostos genotóxicos. Com o objetivo de avaliar o potencial genotóxico da fumaça gerada pela queima da castanha de caju foi utilizado o teste de MN em T.pallida e um comparativo com o clone KU-20, além da quantificação da concentração de MP durante a queima da castanha de caju.
METODOLOGIA:
As mudas de T. pallida e do clone KU-20 foram cultivadas numa casa de vegetação utilizando uma mistura de solo padronizada e regadas com água destilada. Em seguida, as floreiras foram distribuídas em dois pontos teste: comunidade do Amarelão (05°30'S; 35°54'O - local de queima da castanha de caju) e Fazenda Santa Luzia, (05°33'S; 35°46'O - próximo ao local de queima, porém sem influência da atividade), ambos no município de João Câmara - RN. Um mês após o período de aclimatação das mudas cerca de 30 inflorescências jovens foram coletadas em cada ponto e fixadas em solução de ácido acético e etanol (1:3 v/v) por 48 horas. A preparação citológica incluiu a escolha do botão floral apropriado contendo o estágio de tétrade, coloração com acetato-carmim, maceração das anteras, posicionamento da lamínula e aquecimento da lâmina a 80ºC. A analise citológica se deu através da contagem do número de micronúcleos presentes num grupo aleatório de 300 tétrades por lâmina, num total de 10 lâminas para cada ponto amostral. As coletas das inflorescências foram realizadas em 11/2008. As medições da concentração de MP na fração inalável foram realizadas em janeiro/2009 com o auxilio do amostrador Mini-Sampler. Os dados obtidos foram submetidos ao teste paramétrico de Dunnett adotando p < 0,01.
RESULTADOS:
Os resultados obtidos para o teste de MN na comunidade do Amarelão, tanto utilizando a T. pallida como o clone KU-20, diferiram estatisticamente (p < 0,01) dos resultados obtidos para a Fazenda Santa Luzia (controle negativo), indicando que o processo de queima da castanha de caju é capaz de elevar significativamente o número de MN em Tradescantia. Além disto, a T. pallida se demonstrou tão eficiente quanto o clone KU-20 na avaliação da genotoxicidade pelo ensaio de MN em tétrades de Tradescantia. Para as medições do MP foram encontradas altas concentrações na comunidade do Amarelão (2124,2 µg/m3) quando comparado a Fazenda (26,2 µg/m3). Os resultados do MP para a comunidade do Amarelão excederam o nível de exposição definido como "estado de emergência" estabelecido pelo CONAMA.
CONCLUSÃO:
O conjunto dos resultados indicaram genotoxicidade para a comunidade do Amarelão, sendo os altos índices de MP um dos prováveis contribuintes para esse efeito. Os resultados possibilitaram a identificação de um problema ocupacional grave, com sérios riscos aos trabalhadores que exercem a atividade. Diante disto, a adoção de medidas preventivas e de melhores práticas, tais como o uso de exaustores coletivos e equipamentos de segurança (máscaras) são de fundamental importância para o desenvolvimento sustentável da atividade e melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores que participam do processo de queima artesanal da castanha de caju.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Genotoxicidade, Tradescantia pallida, Castanha de caju.