62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
UM ESTUDO DE CASO NA BAIXADA CUIABANA: A PEDAGOGIA DA AUTONOMIA E A ECONOMIA SOLIDARIA
Luciane Rocha Ferreira 1
Luiz Augusto Passos 1
1. Depto de Teorias e Fundamentos da /Programa de Pós Graduação em Educação (PPGE)
INTRODUÇÃO:
Em meados de 2003 discussões sobre a Economia Solidária foram inseridas nas discussões dos Movimentos Sociais em Mato Grosso, a partir da iniciativa de uma rede de incubadoras em que a UNEMAT faz parte, a UNITRABALHO - INCUBESS. Um trabalho assumido por um grupo de professores militantes com as causas sociais. De lá para cá muitas ações vêm sendo empreendidas com o intuito de tornar este movimento uma política pública que vislumbre reais possibilidades da melhoria da qualidade de vida das pessoas. O público alvo deste trabalho são trabalhadoras/es que Paulo Freire denominou de os "excluídos". Aqui será abordado, entre outras coisas, o conceito de Economia Solidária, bem como alguns de seus desdobramentos em âmbito regional e nacional. O enfoque fenomenológico assumido enquanto postura epistemológica em diálogo com a obra da Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire valoriza a praxis do trabalho que vem sendo realizado em algumas comunidades tradicionais e quilombolas na região de Nossa Senhora do Livramento e Poconé, respectivamente. O objetivo suleador é estabelecer uma interlocução entre o vivido nesta experiência e a da teoria de Paulo Freire, na obra Pedagogia da Autonomia. A autonomia é uma condição humana que pressupõem conquista, construção, e, que portanto, não é inata.
METODOLOGIA:

A metodologia utilizada é qualitativa fenomenológica (GEERTZ, 1989) utilizando-se como instrumento as Histórias de Vida e a Etnografia Geertziana. Foi estabelecido ainda um diálogo com a Educação Libertadora de Paulo Freire (FREIRE, 2005) e com Brandão (1990). Foram compilados dados referentes à população e ao arquivo de Pesquisa da ECOSOL. Também foram entrevistados membros da população envolvidos por representatividade, através da aplicação de um questionário semi-dirigido acerca das formas organizacionais e sociais. Verificou-se com os atores o caráter diferenciado das opções educacionais em curso e as mudanças que têm ocorrido, especialmente em relação à autonomia das mulheres, à emancipação econômica e às novas relações estabelecidas entre os atores e suas comunidades. Estes dados foram inseridos em um banco de dados, para que possam ser utilizados em futuros diagnósticos e interpretações. A relatoria de determinados encontros de formação foram realizadas e estão sendo utilizadas como ponto de pesquisa e reflexão para basear a interpretação das informações obtidas através das entrevistas, além de servirem como subsídios relevantes a cerca das dimensões científicas alcançadas através dela.

RESULTADOS:

Economia Solidária caracteriza-se como "o conjunto de atividades econômicas - de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito - organizadas e realizadas solidariamente por trabalhadoras e trabalhadores sob a forma coletiva e autogestionária" (SIES). Também é entendida como uma estratégia de enfrentamento aos processos de exclusão social e da precarização do trabalho que acompanham o desenvolvimento do capitalismo nos últimos dois séculos e conseqüentemente o empobrecimento em massa. Os princípios da ECOSOL são antagônicos aos valores e práticas estimulados pelo mundo globalizado, sistema bruto no qual a sociedade está imersa. As dimensões da cooperação, solidariedade, auto-gestão, cuidados com o ambiente com vistas à planetariedade, entre outras tantas - democracia, trabalho/renda, gênero, raça/etnias, as diferenças na diversidade - estão na base desta proposta contra-hegemônica. Na baixada cuiabana/MT, alguns fatores são desafios nacionais e internacionais: produção, comercialização, consumo, crédito e a formação para a auto-gestão com equidade de gênero e com respeito à natureza. O trabalho compartilhado, participativo e democrático é uma postura que se estimula na prática, estas prerrogativas não são naturais, pois não estão nas relações sociais estabelecidas pela sociedade. 

CONCLUSÃO:

Vislumbra-se neste processo uma possibilidade real de construção coletiva de superação ao que está posto. As bases de uma formação que privilegia o ser humano em detrimento ao consumismo desenfreado, ao individualismo e ao competitivismo selvagem, podem colaborar efetivamente para com o processo da construção da autonomia histórica, social, cultural, política e econômica destas comunidades. O comprometimento assumido pelas comunidades e parceiros envolvidos anima a aproximação de outras comunidades e municípios vizinhos. Está contagiando, envolvendo e trazendo de volta a esperança de uma vida digna, fraterna e solidaria à mulheres e homens que estavam desacreditados. A autonomia neste contexto é algo a ser praticado em cada etapa deste processo, e em todos os momentos da vida. Não é uma empreitada fácil, não é natural. É vivência e aprendizagem, sendo assim, e levando-se em conta que não é estimulada em nenhum espaço especifico ou mesmo discutida pelos aparelhos ideológicos disponíveis, é de se ter a clareza de que dependerá do interesse e esforço tanto individual quanto coletivo. A proposta político-pedagógica desta proposta contra hegemônica é justamente respaldada na educação popular, se faz no processo; se faz, fazendo juntos.

Instituição de Fomento: FAPEMAT
Palavras-chave: Autonomia, Construção, Economia solidária .