62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 4. Odontologia - 5. Odontologia Social e Preventiva
AVALIAÇÃO COMPARATIVA DA RAZÃO DE CHANCES E RAZÃO DE PREVALÊNCIA EM ESTUDOS DE PREVALÊNCIA DE CÁRIE.
Gláucia Maria Bovi Ambrosano 1
Karinne Laura Cortellazzi 1
Elaine Pereira da Silva Tagliaferro 1
Antonio Carlos Pereira 1
Marcelo de Castro Meneghin 1
Eliana Aparecida Schammass 2
1. Depto de Odontologia Social, FOP/UNICAMP
2. Instituto de Zootecnia, C P D em Genética e Reprodução Animal - APTA
INTRODUÇÃO:

A cárie dentária é uma doença considerada multifatorial e complexa. Apesar de se observar uma redução na sua prevalência em vários países, altos níveis da doença ainda estão concentrados em pequena parte da população. Dessa forma, muitos estudos têm sido realizados com o objetivo de avaliar a prevalência de cárie em populações por meio de estudos transversais. Por outro lado, tem sido muito discutido na literatura a utilização de análise de regressão logística em estudos transversais. Quanto utiliza essa metodologia, o pesquisador obtém estimativas das razões de chances que muitas vezes são interpretadas erroneamente como razão de prevalência ou risco relativo. A razão de chances representa a relação entre duas razões (número de doentes/números de não doentes) para o grupo teste e o grupo controle, já a razão de prevalência representa a relação entre duas proporções (número de doentes/número total da amostra). Já existem na literatura métodos de se converter razão de chances em razão de prevalência, mas a sua utilização é muito discutida. O presente trabalho teve como objetivo analisar os métodos de avaliação de prevalências comparando-se a razão de chances estimada pela análise de regressão logística múltipla e a razão de prevalência estimada pela regressão de Poisson.

METODOLOGIA:

Trata-se de um estudo transversal com a amostra formada por 728 pré-escolares de 5 anos de idade da cidade de Piracicaba, SP, Brasil obtida por meio de amostragem por conglomerados. Após a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FOP/UNICAMP (Processo 137/2006), os examinadores foram calibrados e a amostra selecionada foi avaliada quanto à experiência de cárie em dentes decíduos (ceos), lesão inicial de cárie, gengivite, fluorose, apinhamento, espaçamento, e variáveis socioeconômicas (renda familiar mensal, número de pessoas na casa, escolaridade dos pais, habitação e posse de automóvel), além de hábitos orais deletérios (uso de chupeta e mamadeira). Inicialmente foi realizada análise bivariada pelos testes de qui-quadrado ou teste Exato de Fisher (para casos com freqüências inferiores a 5). As variáveis que apresentaram significância estatística com p≤0,15 foram testadas nas análises de regressão múltipla. Pela análise de regressão logística múltipla foram estimadas as razões de chances e pela análise de regressão de Poisson as razões de prevalência com os respectivos intervalos de 95% de confiança.

RESULTADOS:

Pela análise de regressão logística múltipla observou-se que escolares com presença de lesão inicial de carie tiveram 8,15 vezes mais chance (IC95%:4,48-14,48, p<0,0001) de apresentar carie em dentes decíduos. Crianças com gengivite apresentaram 1,56 (IC95%:1,10-2,21, p=0,0110)  vezes mais chance de apresentar carie. Já o grupo com renda familiar menor ou igual a 4 salários mínimo apresentou 2,85 vezes mais chance (IC95%:1,37-2,85, p<0,0001). A análise de regressão de Poisson indicou que a prevalência de carie em dentes decíduos é 5,30 vezes maior (IC95%:4,85-5,75, p<0,0001) no grupo com lesão inicial de cárie. O grupo de crianças com gengivite apresentou prevalência 1,12 vezes maior que o sem gengivite (IC95%:1,03-1,22, p<0,0001) e o grupo de escolares com renda familiar menor ou igual a 4 salários mínimo apresentou prevalência 1,88 (IC95%:1,70-2,07, p=0,0089) vezes maior. Pode-se observar que as razões de chances foram diferentes das razões de prevalência o que é esperado em casos de doenças de alta prevalência (maior que 10%). Observou-se ainda, intervalos de confiança menores para as razões de prevalências sugerindo que com essa análise pode-se obter estimativas mais confiáveis.

CONCLUSÃO:
O pesquisador deve escolher o melhor método para atingir os seus objetivos lembrando-se que cada metodologia leva a resultados diferentes devendo ser interpretados corretamente. As razões de prevalência foram estimadas com intervalos de confiança menores que as razões de chances fornecendo, portanto, estimativas mais confiáveis.
Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: Carie dentária, Razão de Chances, Razão de prevalências.