62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada
A PRESENÇA DO MAR NA POESIA DE WALFLAN DE QUEIROZ
João Antônio Bezerra Neto 1
1. Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem (PPgEL/UFRN)
INTRODUÇÃO:

A pesquisa tem como objeto de investigação literária a temática do mar na obra O Tempo da Solidão, publicada em 1960, pelo poeta norte-rio-grandense Walflan de Queiroz (1930-1995). Nascido na cidade serrana de São Miguel, no Alto Oeste, o poeta é autor de oito livros de poesia, - todos lançados entre as décadas de 60 e 70 do século XX -, em Natal. A presença do mar na sua vida e na sua poesia se justifica, pois na juventude ingressou na marinha mercante, chegando mesmo a embarcar em um cargueiro que fazia o percurso América do Sul e o Mar do Caribe. Mar e poesia nele se associam, de forma essencial, perene. Mar universal, punindo a solidão dos rochedos, remetendo a uma tradição que vai de Camões a Fernando Pessoa. Nesse sentido, os poemas de O Tempo da Solidão, seu livro de estréia, que mereceu o prefácio do escritor Luís da Câmara Cascudo, expressam o fascínio sobre o tema da viagem marcado pela presença constante do mar e de ilhas exóticas. Um mar sonoro que impregnou o poeta de melodias nostálgicas, de portos longínquos e de sentimentos amorosos. Na pesquisa, procuramos compreender o lirismo que emana da poética do mar na obra de Walflan de Queiroz, buscando estabelecer relações com outros poetas do Estado do Rio Grande do Norte que se identificaram com o tema do mar.

METODOLOGIA:

O método de trabalho consistiu inicialmente numa análise interpretativa do conjunto de poemas que compõem O Tempo da Solidão, tendo em vista o tema do mar, os traços caracterizadores que definem o seu fundamento e as recorrentes imagens extraídas da paisagem marinha. No contexto da literatura potiguar, foi interessante observarmos como o tema aparece no discurso poético de Walflan de Queiroz, assim como também no discurso de outros poetas potiguares, Zila Mamede, com o livro de poemas, Salinas (1958) e Gilberto Avelino, em O Moinho e o Vento (1977). A comparação, desde sempre, levando em consideração o texto poético em primeiro plano, ocorreu de forma legitima, visto que a tríade (Walflan-Zila-Gilberto) tem em comum o tom elegíaco e melancólico filtrados numa poesia ligada estreitamente ao mar. Por se tratar de um símbolo dinâmico, ou seja, o simbolismo da água e seus derivados, utilizamos as noções teóricas de C. G. Jung, em seu livro Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo e especialmente Bachelard, em A Água e os Sonhos.

RESULTADOS:

Durante a pesquisa e análise empreendida dos poemas de Walflan de Queiroz, identificamos o mar como sendo fonte de saudades, de angústias, de tormentos e de solidão. O mar se abre como inquietação, prorrompe como catarse. A linguagem metafórica que o poeta utiliza em seus versos para se dirigir a esse tema denota o abismo existencial em que ele se encontra. As ondas inquietas e seus ruídos lhe trazem a lembrança daquela que ficou em terra firme, ou seja, da amada. O poeta então é o marinheiro perdido no oceano. O mar, metáfora da separação, que abarca todas as suas dores, representa a impossibilidade do eu lírico em se unir a sua musa, destacando um discurso platônico, sentimental e sofredor. Por outro lado, na poesia de Zila Mamede e Gilberto Avelino, o mar se constitui como um referencial que remete quase sempre a um tempo perdido, ao passado, aos momentos da infância, diferentemente, como já assinalamos, da poesia de Walflan de Queiroz.

CONCLUSÃO:
O estudo dos poemas de Walflan de Queiroz, de Zila Mamede e Gilberto Avelino comprova que o mar se inscreve dentro de uma diversidade enorme de signos, símbolos e imagens. O Tempo da Solidão, objeto principal de nossa pesquisa, está repleto de imagens que remontam ao universo marinho. O poeta trouxe de sua antiga viagem de navio não somente o cheiro da maresia oceânica, mas também as penas da saudade, as aflições de uma alma decaída em paixões. Amou o mar da mesma forma que celebrou a poesia, a vida. Com efeito, a sua inspiração poética difere bastante dos poetas mencionados, revelando-nos um lirismo intenso que faz florescer a dor amorosa numa subjetividade romântica. A imagem do mar reconstrói a solidão penosa do poeta que se vê diante do abismo, pensando em sua amada, em sua companheira distante.
Instituição de Fomento: CAPES
Palavras-chave: Literatura Comparada, Walflan de Queiroz, Mar.