62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
A UTILIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES NUTRICIONAIS COMO FERRAMENTA PARA O ENSINO DE BIOQUÍMICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Juliana de Bem Lignani 2
Leonardo de Bem Lignani 1
1. Coordenação de Biologia / CEFET-RJ
2. Instituto de Nutrição / UFRJ
INTRODUÇÃO:
Diversas são as dificuldades encontradas por professores no ensino de bioquímica para o Ensino Médio. Primeiramente, a estrutura curricular encontrada na maioria das instituições de ensino no Brasil coloca esta disciplina no 1º ano desta etapa da educação básica. Não obstante, este usualmente é o primeiro conteúdo a ser trabalhado neste momento, justamente quando os alunos ainda estão novos e construindo seu potencial de abstração. Este fato acaba tendo reflexo em etapas subsequentes do ensino da Biologia, como, por exemplo, nas dificuldades apresentadas no entendimento de conceitos relativos à Biologia Celular. Deve-se ter em mente também que a escola, além de ser um local destinado à educação formal, pode também ser utilizada para outros fins. Visando a promoção da saúde, o Ministério da Saúde propõe que atividades interdisciplinares de educação alimentar sejam desenvolvidas em diversos ambientes. A inserção da educação alimentar nas escolas deve ocorrer de forma integrada a outras disciplinas, permitindo assim maior assimilação e receptividade do conteúdo. Dessa forma, o presente trabalho se propõe a avaliar uma abordagem do ensino de bioquímica que utilize elementos concretos do cotidiano do aluno, utilizando como ferramenta uma discussão sobre educação alimentar.
METODOLOGIA:
Este estudo foi realizado no CEFET-RJ, uma instituição federal que oferece o Ensino Técnico nas modalidades concomitante (interna e externa) e subsequente. Foram analisadas 3 turmas do 1º ano do Ensino Médio (modalidade concomitância interna). Grupos de 2 a 3 alunos foram formados, os quais receberam (antes das aulas de bioquímica) um texto referente à classificação nutricional dos alimentos (utilizando as categorias "energéticos", "reguladores", "construtores" e "altamente energéticos"). A descrição das categorias alimentares ao longo do texto utilizava informações referentes às funções biológicas associadas e a frequência recomendada de ingestão diária, mas não continha nenhuma referência a proporções específicas para determinado nutriente. Ao final do texto, era apresentada uma tabela nutricional com 13 diferentes tipos de alimentos e com algumas informações nutricionais (quantidade, a cada 100g, de proteínas, carboidratos, lipídios, cálcio, ferro, vitamina A e vitamina C). Foi proposto aos alunos que classificassem os alimentos em suas respectivas categorias nutricionais. Após a realização das aulas de bioquímica, a classificação inicial dos alimentos foi devolvida para cada grupo, o qual deveria reavaliar sua classificação e, se fosse o caso, refazer seus agrupamentos.
RESULTADOS:
Curiosamente, não foram observadas grandes diferenças entre as classificações iniciais (antes das aulas de Bioquímica) e finais (após as aulas), e ambas estiveram bem próximas à classificação nutricional mais aceita. Arroz e milho foram preferencialmente classificados como "alimentos energéticos"; cenoura, laranja e espinafre como "alimentos reguladores", carne de boi, queijo e ovo como "alimentos construtores"; óleo de soja e chocolate como "alimentos altamente energéticos". As diferenças entre as classificações finais e iniciais foram observadas no macarrão (inicialmente classificado por metade dos alunos como "altamente energético", e posteriormente prevalecendo a classificação como "energético") e no mel (inicialmente classificado como "altamente energético", mas colocado por metade dos alunos junto aos "energéticos" após as aulas de bioquímica). O açaí, entretanto, foi agrupado junto à categoria de "alimentos altamente energéticos" pela maioria dos alunos, em ambas as classificações analisadas. Embora seja perceptível o menor índice de dúvidas nos alunos após as aulas de bioquímica (ex. diminuição percentual no número de classificações errôneas), diferenças entre as classificações iniciais e finais não foram detectadas por um teste estatístico de reamostragem.
CONCLUSÃO:
Foi possível perceber a importância que as concepções trazidas pelos alunos tem no ensino da bioquímica. Por exemplo: foi curioso que a maioria dos alunos tenha classificado o açaí como "alimento altamente energético" e, mesmo após as aulas de bioquímica, raros foram aqueles que perceberam que ele poderia também ser incluído na categoria "regulador", por apresentar quantidade significativa de vitaminas. Entretanto, estas concepções prévias estão baseadas em noções referentes às funções biológicas que estes alimentos desempenham, e que trazem implicitamente uma relação com as informações nutricionais. Ao perceber esta relação, ou seja, evidenciar que a função biológica está intimamente associada ao conteúdo nutricional do alimento, o aluno pode compreender o papel de um determinado grupo de moléculas orgânicas no contexto da bioquímica celular (por exemplo, como "alimentos construtores" apresentam grande quantidade de proteínas, estas moléculas devem participar da organização de estruturas dentro das células). A análise deste resultado permite concluir, portanto, que as concepções prévias dos alunos em relação aos grupos alimentares podem auxiliar no estudo da bioquímica (principalmente no que se refere às funções biológicas principais dos grupos de moléculas orgânicas estudados).
Palavras-chave: Educação básica e técnica, Ensino de bioquímica, Nutrição.