62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 14. Ensino Superior
A UTILIZAÇÃO DE MAPAS DE CONCEITOS COMO RECURSO DIDÁTICO NA ESCOLA MÉDICA
Valter Carabetta Júnior 1
1. Universidade de Santo Amaro (UNISA)
INTRODUÇÃO:

Sabemos que uma das grandes dificuldades encontradas no ensino-aprendizagem consiste na elaboração de conceitos científicos pelos alunos que, mesmo utilizados com freqüência, geralmente não ficam devidamente estruturados e internalizados. Para que a aprendizagem de conceitos possa ser efetiva é necessária uma prática pedagógica que realize a interação entre o que vai ser aprendido com a estrutura cognitiva do aluno por um processo de assimilação entre antigos e novos significados, visando possibilitar a diferenciação cognitiva. Para tanto, podemos encontrar na obra de Ausubel o pressuposto teórico necessário, já que parte da consideração de que os indivíduos apresentam uma organização cognitiva interna baseada em conhecimentos conceituais cuja complexidade depende das relações hierárquicas que os conceitos estabelecem entre si, sendo a estrutura cognitiva compreendida como uma rede de conceitos organizados hierarquicamente de acordo com o grau de abstração e de generalização. Neste sentido, os mapas conceituais, criados por Novak com base na teoria ausubeliana, constituem-se em uma estratégia pedagógica de grande relevância para a construção de conceitos científicos pelos alunos, ajudando-os a integrar e relacionar informações, atribuindo significado ao que está estudando.   

METODOLOGIA:

O trabalho foi realizado com do segundo semestre do curso de Medicina de uma universidade particular de São Paulo como base em "temas geradores" de pesquisas, criados nas disciplinas de Atenção Básica em Saúde e Metodologia Científica a partir dos principais problemas de saúde encontrados na região. Para entendimento da estruturação do mapa de conceitos escolhemos para a confecção do modelo um texto científico já conhecido pelos alunos que, sob a orientação do professor, foi analisado e discutido. A seguir, utilizamos a seguinte seqüência didática: identificação das idéias mais importantes e enumeração dos principais conceitos veiculados no texto; avaliação e classificação dos conceitos enumerados por ordem decrescente de importância; colocação de palavras-chave e formação de frases curtas com proposições adequadas com setas e/ou traços para ligar os conceitos; identificação das ligações entre os conceitos e leitura do mapa. Após a construção do mapa modelo, os alunos fizeram a análise de outro texto, agora referente a um dos "temas geradores" elencados e, a seguir, montaram o respectivo mapa conceitual para exposição à classe. Tal dinâmica permitiu a análise comparativa dos diferentes mapas quanto à dimensionalidade, hierarquização conceitual e proposições de ligação.

RESULTADOS:
Durante as exposições surgiram diferentes perguntas para esclarecimento de dúvidas sobre: a estruturação e formato do mapa de conceitos; as relações conceituais que poderiam ser estabelecidas; a ordenação dos conceitos e os tipos de mapas que poderiam ser construídos, o que resultou em uma interação dialógica profícua, tornando evidente o quanto os alunos estavam (re) significando conhecimentos, atribuindo significado à atividade proposta, realizando a construção de hipóteses e estabelecendo relações entre conceitos. Os alunos constataram que, embora o visual e as proposições de ligação dos mapas fossem diferentes, havia similaridade hierárquica na relação conceitual, e que enquanto alguns mapas necessitavam de explicação, outros eram de fácil interpretação. Nas aulas que se sucederam foi possível observar avanços nessa dinâmica, pois os diálogos aumentavam à medida que os alunos adquiriam maior conhecimento e segurança no processo, o que gerava reflexões sobre novas possibilidades de estruturação conceitual. Ao interpretar a construção do mapa conceitual como atividade reflexiva e organizadora de conhecimentos, os alunos foram adquirindo maior condição de organizar, sistematizar e compreender suas próprias ações cognitivas.
CONCLUSÃO:

Como na escola de Medicina a maioria dos docentes não foi preparada para ensinar e, portanto, desconhecem teorias e práticas pedagógicas que possam subsidiar o processo de ensino-aprendizagem, torna-se comum a consideração de que apenas a intuição, o domínio dos conteúdos específicos de sua disciplina e a experiência sejam características importantes para a prática pedagógica, bem como a priorização de estratégias de ensino que condizem com as crenças pessoais. Em contraponto, na nossa prática docente constatamos que a utilização de mapas de conceitos tem se demonstrado um recurso metodológico relevante, pois, por ordenar e seqüenciar conhecimentos e conceitos de modo hierárquico em classes e subclasses possibilita aos alunos uma formação teórica adequada às necessárias intervenções na realidade estudada, promovendo a construção, ampliação e organização de conhecimentos; a atribuição de significado ao que se está aprendendo; a melhoria no entendimento do tema em estudo; a conscientização de sua aprendizagem e a apropriação de conceitos científicos.

Palavras-chave: Mapa de Conceitos, Conceitos Científicos, Escola Médica.