62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
O GÊNERO PERFIL NA SALA DE AULA DO PROEJA
Magda Renata Marques Diniz 1
Maria Aparecida da Silva Fernandes Trindade 1
Maria da Penha Casado Alves 2
1. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte
2. Universidade Federal do Rio Grande do Norte
INTRODUÇÃO:
As aulas de Língua Portuguesa (LP) nas últimas duas décadas passaram por refinada reflexão em se tratando de o que pode significar para o sujeito que aprende. Nesse novo contexto, pensar atividades de LP remete à investigação do gênero mais adequado para assegurar, ao final, assimilação mais significativa e produtiva dos discentes em relação à proficiência em leitura e escrita. Com o objetivo de verificar o quão é significativo trabalhar com assuntos do cotidiano, dois cursos do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN - Campus Santa Cruz) fizeram estudos de linguagem, a fim de, ao término, gerar uma produção textual. O trabalho é parte do Projeto Integrador que articulou ensino, pesquisa e extensão, cujo título é Memória, linguagem e identidade: (re)descobrindo o Trairi. Com o subtema "A história que não se conta", 30 textos sobre personalidades locais foram apresentados à sociedade santa-cruzense, com o intuito, principalmente, de os alunos perceberem as formas de linguagem escrita com a prática vivenciada e as pessoas descritas nos perfis se reconhecerem como parte integrante na sociedade.
METODOLOGIA:
A pesquisa do tipo qualitativo utilizou entrevista, construída e aplicada pelos alunos do PROEJA, Cursos Informática e Refrigeração, I semestre, IFRN, Campus Santa Cruz, com 11 questões abertas. Os dados foram coletados junto a 30 cidadãos cujos critérios de seleção foram o tempo de moradia na cidade e o reconhecimento destes por suas características físicas, comportamentais, econômicas, sociais, do município de Santa Cruz e da Região do Trairi (RN). Após essa etapa, os grupos reuniram-se em sala de aula para transformar o conteúdo das entrevistas em textos, sem gênero previamente definido. Em aula seguinte, os grupos foram ao Laboratório de Informática digitá-los, acrescentando fotos das personalidades. Entende-se, neste trabalho, a palavra personalidade como sendo traços típicos; originalidade. Feitas as edições, os textos foram enviados aos professores via email institucional, que até então estavam sem a interferência destes. Ao receber todos os textos, os professores, utilizando projetor multimídia, fizeram considerações sobre textualidade, oralmente, e, em seguida, intervenções em todos os textos por escrito. Por fim, no evento chamado "Dia da terra de Santa Cruz", os materiais produzidos pelos discentes foram expostos, e, no II semestre, devolvidos às pessoas entrevistadas.
RESULTADOS:
De acordo com os textos produzidos, percebeu-se que o gênero perfil foi o mais frequente dentre os comandos repassados aos alunos. Ressalta-se que tal gênero não foi estabelecido como norma à atividade. Este gênero, de acordo com o trabalho desenvolvido, proporcionou maior interação entre a língua oral com a língua padrão, exigida para tal produção textual, além de ser facilitador quando se pretende expor material produzido a um público externo. Vale salientar que o perfil não é tão complexo quanto uma análise biográfica nem tão direcionado quanto um relato pessoal; isso leva a crer que este gênero é o mais adequado às turmas de PROEJA, numa primeira intervenção em produção textual, por ser flexível, objetivo e de fácil produção. Também, nesta modalidade, sabe-se que os alunos estão há algum tempo longe da sala de aula, e a educação fundamental, na forma tradicional do ensino, tende a ser menos estimulante do que quando feita por meio de atividades desse tipo, que tornam a aprendizagem mais significativa para os alunos. Nesta abordagem, eles são vistos como sujeitos do ensino/aprendizagem, o que a forma tradicional não proporcionava na maioria das vezes.
CONCLUSÃO:
Concluiu-se, em se tratando do PROEJA, Campus Santa Cruz, que o gênero perfil foi de grande significância para o Ensino de Língua Portuguesa no que compete à produção textual por três razões principais: ser flexível - pois tal gênero foi adequado a diversas finalidades educacionais: atividades textuais, projetos integradores, cursos de LP, ou outras áreas de conhecimento; ser objetivo, quanto à organização das ideias, o melhor entendimento linguístico veio quando a linguagem não se deteve a pormenores, a obscuridades no que concerne à vida de uma personalidade; ser de fácil produção, por ter permitido aos alunos entenderem a estrutura de forma rápida e poderem aplicar a teoria na prática do produzir textos. Com o trabalho finalizado, fez-se a interpretação de que os alunos visualizaram aquelas personalidades como motivos para uma boa atividade de linguagem, porque do cotidiano pode-se aprender LP de forma mais significativa, em contrapartida a de outrora, normativa, que ficava no plano da memorização, faltando com o que hoje se chama de proficiência em escrita e leitura.
Palavras-chave: PROEJA , Gêneros discursivos , Ensino de Língua Portuguesa - PROEJA.