62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística
ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA: UM ESTUDO DO ERRO NA DIVULGAÇÃO DA CIÊNCIA
Paulo Sérgio da Silva Santos 1
Cleide Emília Faye Pedrosa 2
1. Universidade Federal de Sergipe
2. Universidade Federal do Rio Grande do Norte
INTRODUÇÃO:
O presente estudo propõe um levantamento e análise dos erros veiculados em revistas especializadas em ciência. Toma como hipótese o pressuposto de que o discurso científico sofre alterações na transição entre o texto do cientista e a reescrita do jornalista, e por isso ocorrem os erros. No percurso até chegar ao grande público, o jornalista corre o risco de fracassar na tentativa de socializar o saber científico porque a cultura científica e a jornalística possuem estruturas e objetivos diferenciados. O suporte teórico desta análise é a Teoria Social do Discurso (TSD). A TSD é uma abordagem de Análise Crítica do Discurso (ACD) que considera qualquer evento discursivo simultaneamente como um texto, um exemplo de prática discursiva e um exemplo de prática social. Não limitamos o levantamento dos dados a um determinado período, a coleta dos dados visou, exclusivamente, ao cumprimento dos objetivos do trabalho. A partir daí, procedeu-se à análise do corpus composto pela reportagem científica e por sua errata, observando os objetivos a seguir: a freqüência das erratas a fim de chegar a uma média; a natureza dos erros cometidos e o agente responsável pela identificação do erro.
METODOLOGIA:
Em nosso recorte, analisamos 54 edições da Superinteressante que representa a maior publicação de informação científica do país, não limitamos a pesquisa a número de edições ou anos, mas somente nos guiamos pelos objetivos estabelecidos. Assim, nosso corpus foi composto pela seção que continha as "erratas" e pela matéria de origem. Fizemos levantamento da freqüência das erratas, a fim de chegar a uma média. Procedemos a uma análise da natureza dos erros cometidos e observamos quem os detectou, se o leitor, ou o editor. Por fim, analisamos a composição da errata, sua linguagem, organização e parte gráfica e comparamos as informações corrigidas na errata com o texto original. Através de um trabalho de pesquisa das edições em que ocorreram erros fizemos um trabalho paralelo de buscar as matérias na íntegra. A partir daí, procedemos à análise do corpus composto pela reportagem e por sua errata, observando os objetivos descritos acima.
RESULTADOS:
A análise do corpus garantiu que os objetivos fossem atingidos. Em primeiro lugar, ocorreram erros em todas as edições pesquisadas, cumprindo o objetivo inicial de estabelecer uma média para os equívocos. Demonstramos dessa forma, que a constância das erratas é muito alta, tendo sido encontradas em todas as amostras analisadas. Embora, constatássemos que em muitas edições não havia a informação de quem detectara o erro, pudemos confirmar que, na maioria dos casos os leitores encontram os erros que são corrigidos pelas erratas. Leitores que são de certa forma iniciados em áreas afins e que fazem uma leitura mais crítica. Observamos ainda que a editoração tem um papel importantíssimo na ocorrência de erros. Vimos casos em que textos foram moldados para se adequarem a estratégias para atrair a atenção de leitores e isso acabou gerando erros na informação transmitida. De forma que, o editor retira palavras ou as substitui, faz arranjos de todo tipo em imagens a fim de dar um efeito que atenda aos seus interesses. Por fim, analisamos exemplos de falta de ética no jornalismo científico.
CONCLUSÃO:
Por fim, conseguimos uma boa análise do material pesquisado, demonstramos que de fato os erros das revistas especializadas em ciência são muito freqüentes. Mas acima de tudo, nossa análise demonstrou que nem todos os erros cometidos pelas revistas de divulgação científica são inofensivos, que muitas vezes esses equívocos estão relacionados a questões de saúde e de ética (ou a falta dela). Assim, julgamos que este trabalho deu sua contribuição para o relevante esforço de compreender melhor os mecanismos da linguagem e de seus usos sociais. Assim, ao caracterizar as revistas de divulgação científica, e entre elas, aquela que comporia nosso corpus de análise, a Superinteressante, vimos que ganha cada vez mais espaço as publicações relativas à divulgação da ciência e tecnologia. São milhões de pessoas ávidas por informações que deem conta de algo que está a cada dia mais dentro do cotidiano delas: a ciência. Por isso, julgamos que justamente por possuir tantos leitores é que cresce a responsabilidade dessas publicações e a importância de estudos que tragam luz à questão.
Palavras-chave: Divulgação Cientifica, Discurso Midiático, Errata .