62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 4. Literaturas Modernas
O FANTÁSTICO E O ARQUÉTIPO DA BRUXA EM CARLOS FUENTES
Jucely Aparecida Azenha 1
María Dolores Aybar Ramírez 1
1. Depto. de Letras Modernas, Fac. de Ciências e Letras de Araraquara - UNESP
INTRODUÇÃO:

Obras do escritor mexicano Carlos Fuentes, Aura e o conjunto de narrativas que compõem Inquieta Compañía pertencem ao gênero fantástico. Outro aspecto fundamental das obras é a organização mítica que lhes serve como suporte estrutural, além da temática tangenciada pela personagem arquetípica da bruxa - à exceção de Vlad, de Inquieta Compañía, que dá centralidade a um vampiro, motivo pelo qual foi descartada como objeto de estudo. Tendo em vista as especificidades do gênero das narrativas, o diálogo estabelecido com o universo mítico-imaginário e ademais, evidentemente, da literariedade das obras, nosso estudo teve como objetivo desvendar a materialização da figura arquetípica da bruxa e suas diversas representações nos textos fantásticos - salientando-se as várias vertentes que compõem o gênero. Desse modo, a relevância de nossa pesquisa está na preocupação diante da ampla questão do gênero literário fantástico, que embasa e veicula a representação literária da feminilidade arquetípica da bruxa.

METODOLOGIA:

Para atingir nossos objetivos, levamos em conta as particularidades de nosso objeto de estudo, quer dizer, a pertença ao gênero literário fantástico e o diálogo com o universo mítico-imaginário. Primeiramente, fundamentamos nossas análises referentes ao gênero fantástico e suas vertentes em teorias tais como as de Louis Vax, Irène Bessière e Tzvetan Todorov. Em seguida, incidimos nos estudos da crítica arquetípica aplicada à literatura. Para isso, dispusemos do suporte teórico oferecido por Gilbert Durand, nomeadamente, a arquetipologia geral.

RESULTADOS:

Fuentes recupera a tradição fantástica por meio do uso de motivos, temas e estruturas linguísticas muito específicas. Constatamos que as narrativas fantásticas do corpus, ordenadas pela feminilidade arquetípica representada pela personagem bruxa, desenvolvem-se no intercurso entre distintos eixos mítico-imaginários, ora provenientes de mitos como o de Lilith, ora expressos em buscas iniciáticas que causam as mais diversas metamorfoses, ou ainda, na ocorrência obsessiva de mitos tais como o do duplo. É justamente o uso de artifícios linguísticos que promove um entrelace entre as instâncias narrativas e as mítico-imaginárias. Ademais, sob nossa perspectiva de estudo, o texto fantástico propicia tal entrelace. Inclusive, em acordo com Irène Bessière, consideramos que é o conjunto do texto que deve ser considerado fantástico, e não apenas um breve momento de hesitação ou o instante de irrupção do sobrenatural dentro da narrativa - tese compatível com a defendida por Louis Vax. Segundo Bessière, para que a narrativa seja considerada fantástica é necessária uma contradição entre real e irreal, razão e desrazão, natural e sobrenatural. Essa espécie de contradição é um elemento que persiste em nosso objeto de estudo.

CONCLUSÃO:

Nos deparamos com personagens femininas de contornos e irisações mitológicas manifestas. Quer dizer, personagens ora relacionadas à face temível de Pandora e Lilith, ora ligadas ao simbolismo floral e vegetal - cujas expoentes clássicas são Deméter e Prosérpina - e/ou ainda, enlaçadas à feminilidade lunar, como em Selene e Artemisa. Assim, contemplamos a dimensão da influência exercida pelo imaginário no processo de criação artística, no caso, literária. Adiante, percebemos que o fantástico adota uma posição oscilante, ambígua, entre dois domínios - o mundo objetivo e o mundo dito extranatural - de maneira que a narrativa fantástica perpassa linhas limítrofes sem afirmá-las ou negá-las plenamente, ou menos ainda, considerar uma coexistência. Por fim, ponderamos que as narrativas do corpus estão investidas da propriedade característica do gênero fantástico, quer dizer, a elaboração criativa de mundos paralelos ao natural; averiguamos que o tecido discursivo das narrativas apossa-se de um conjunto de referências mítico-imaginárias atuantes na consolidação de um mesmo tema arquetípico. Inseridas na elaboração dos enredos, tais referências passaram a ter singularidades e um significado artístico, de maneira que o sentido construído não é literal, mas metafórico, simbólico e poético.

Palavras-chave: arquétipos literários, fantástico, mitos da feminilidade.