62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 4. Jornalismo e Editoração
O DISCURSO PRESENTE NA REVISTA DOM: PLURALIDADE DE UMA IMPRENSA SEGMENTADA NO PÚBLICO GAY?
Luiz Henrique Coletto 1
Márcia Franz Amaral 2
1. Curso de Jornalismo, Universidade Federal de Santa Maria/UFSM
2. PPG em Comunicação Midiática, Universidade Federal de Santa/UFSM
INTRODUÇÃO:
Este artigo faz, inicialmente, um resgate dos principais veículos impressos segmentados na população homossexual brasileira. Nosso objeto de análise, especificamente, é o 1º Editorial da revista DOM - De Outro Modo, lançada no final de 2007 e fechada em meados de 2009. Por meio de alguns conceitos da Análise do Discurso (AD), procuramos identificar as formações discursivas presentes no referido Editorial para compreender, preliminarmente, como se articulam os propósitos da revista no plano discursivo e, então, que observações podem ser feitas ao visualizarmos seu conteúdo, as suas editorias e algumas das temáticas da 1ª edição. Os estudos sobre mídia segmentada no público gay brasileiro são, ainda, bastante restritos, havendo poucos pesquisadores no país que se dedicam às múltiplas questões da interface mídia-homossexualidade; é, portanto, de crescente importância aos estudos sobre as homossexualidades compreender de que modo tal temática é retratada e abordada na esfera midiática.
METODOLOGIA:
Para esta análise, era preciso perceber que toda nova proposta (em termos editoriais) traz consigo uma gama de conceitos. Essa percepção a priori nos auxiliaria a detectar que Sequências Discursivas - SD compõem os conceitos que precedem a publicação - as concepções ideológicas. A primeira etapa consistiu de um levantamento histórico sobre os principais veículos voltados ao público homossexual brasileiro (Lampião da Esquina, 1978; Sui Generis, 1994; G Magazine, 1998; DOM e JUNIOR, 2007; e Aimé, 2008), destacando suas histórias e principais discussões à luz do período histórico em que surgem. Essa etapa foi fundamental para compreender (e embasar) o que motivou a criação da revista que foi nosso objeto empírico. Na etapa principal, nosso trabalho consistiu na análise do corpus: interpretação do primeiro editorial da revista, de janeiro de 2008, de autoria de Jorge Tarquini, Diretor de Redação. Do ponto de vista teórico-metodológico, utilizamos os procedimentos da pesquisadora Márcia Benetti (obra Metodologia de Pesquisa em Jornalismo, 2007) para analisar o discurso da revista presente no Editorial de estreia. Ou seja, destacamos as sequências discursivas significativas do texto, pois é sempre a partir dele que identificamos as formações discursivas (FDs) (BENETTI, 2007).
RESULTADOS:
Percebemos na análise, complementarmente, uma contínua referência à linguagem e à significação como recursos que aderem à proposta da revista em ser plural. Entretanto, estas referências não constituíram uma região de sentidos (BENETTI, 2007) relevante a esta pesquisa. A formação discursiva que, efetivamente, articula uma região de sentidos e nos permite algumas análises é a que identificamos como FD1 (Pluralidade e Diversidade); ela diz respeito a um discurso de pluralidade e diversidade sobre as homossexualidades, o público da revista e as abordagens que ela pretende. É essa FD1 que norteia nosso propósito: identificar em que medida um discurso de pluralidade e diversidade pretendido pela revista verifica-se na praxis. Foram identificadas cinco SD que fazem parte desta FD1. Para efeito comparativo, observamos um ponto: boa parte das matérias da primeira edição deixa claro seu público alvo: homossexuais masculinos de classe média alta, com interesse em alta gastronomia, viagens ao exterior, decoração de interiores e roupas e marcas sofisticadas. Essa FD expõe à discussão diversos assuntos que são pertinentes às homossexualidades. Por trás deste discurso está uma formação ideológica que, claramente, privilegia um tipo de homossexual (como dito acima).
CONCLUSÃO:
Parece-nos visível que o texto é mais reiteração de propósitos e valores do que, propriamente, permeado por formações discursivas. Entendemos que, conforme Eni Orlandi (Análise de Discurso: princípios e procedimentos, 2002, p.36), "quando pensamos discursivamente a linguagem, é difícil traçar limites estritos entre o mesmo e o diferente". DOM exercita seu trabalho sob os constrangimentos editoriais que a norteiam: atingir um público homossexual determinado, com poder aquisitivo, instrução e gostos específicos. É neste sentido que notamos, por exemplo, a publicidade presente na revista: marcas como Diesel (vestuário), Salton (bebidas), Kenzo (perfume) e Divanos (interiores). Tanto o discurso presente no Editorial do Diretor de Redação quanto as palavras do Diretor de Criação (na mesma página) refletem uma distinção entre o dito e o praticado: é impraticável incluir na revista todos os gays, todas as homossexualidades; é tarefa complexa conciliar 'identidades' e tribos ou falar a todos. O homossexual em DOM e para o qual a revista se dirige não é o mesmo presente nas páginas das revistas da grande imprensa. Assim, a distinção proposta por DOM, uma revista feita "De Outro Modo", se dá não só pelo conteúdo, mas pelo público segmentado (alguns homossexuais) e pelas publicidades veiculadas.
Instituição de Fomento: Programa de Educação Tutorial - PET/SESu/MEC
Palavras-chave: imprensa gay, discurso, homossexualidade.