62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 6. Enfermagem Psiquiátrica
SAÚDE MENTAL NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Helena Karolyne Arruda Guedes 1
Thaliny Batista Sarmento Oliveira 1
Joana Celine Costa Silva 2
José Ferreira Lima Junior 1
Paulo Geovane Bezerra de Souza 3
Francisca Bezerra de Oliveira 1
1. Universidade Federal de Campina Grande UFCG.
2. Enfermeira do Centro de Atenção Psicossocial - Pau dos Ferros - RN
3. Centro de Especialidades Odontológicas - Juazeiro do Norte - CE
INTRODUÇÃO:
No final da década de 70 do século XX, surge no Brasil o Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental que passou a fazer críticas à assistência psiquiátrica, centrada no modelo manicomial e a propor a Reforma Psiquiátrica. Os frutos dessa luta culminaram com a mudança do modelo de atenção em saúde mental, que passou a contar com os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) a partir dos anos 90. Nessa direção, a atual política nacional de saúde orienta a necessidade da articulação entre saúde mental e rede básica de saúde, por meio dos CAPS e da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Os CAPS e a ESF devem trabalhar a partir da construção de novos conceitos e práticas, com ênfase no usuário, família e comunidade, objetivando a prevenção de doença, a promoção de saúde e a melhoria da qualidade de vida do paciente. Neste estudo, parte-se do pressuposto que existe pouca comunicabilidade e interação entre a ESF e o CAPS. Esta pesquisa busca uma reflexividade acerca das ações desenvolvidas no CAPS II e na ESF, no município de Cajazeiras - Paraíba, objetivando verificar a existência da comunicabilidade e articulação entre essas unidades de saúde, bem como se existe acolhimento e (re)inserção do usuário na família e comunidade.
METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo exploratório, com abordagem qualitativa. Esta pesquisa teve como cenários de estudo 14 unidades que compõem a rede básica de saúde e o CAPS II do município de Cajazeiras/PB. Os sujeitos desta pesquisa foram 13 enfermeiros que compõem as equipes das Unidades Básicas de Saúde e 05 profissionais de nível superior do CAPS II. Vale destacar que um enfermeiro deixou de ser entrevistado, pelo fato da Unidade de Saúde da Família do Sítio Boqueirão estar interditada, devido às fortes chuvas que caíram na região. O projeto que resultou nesta pesquisa teve parecer favorável sob número de protocolo 47/2007 do Comitê de Ética em Pesquisa - COEP, do Centro de Saúde de Tecnologia Rural da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. Para a coleta de dados foram utilizados múltiplos instrumentos: observação de situações reais dos usuários no CAPS II; diário de campo para registrar as observações realizadas e entrevistas semi-estuturadas com profissionais do CAPS II e da ESF. O método utilizado para análise dos dados foi a análise temática, proposta por Bardin.
RESULTADOS:
Os resultados apontam para falta de interação entre Saúde Mental e ESF; e a medicalização e fragmentação das ações de saúde mental desenvolvidas pelos profissionais da ESF. Dos entrevistados, 12 (90%) eram do sexo feminino e 01 (10%) do masculino. A idade variou de 24 a 48 anos. Neste estudo observou-se a inexistência da parceria entre a ESF e o CAPS, como relata o depoimento a seguir: "Eu acho que o enfermeiro não tem nada haver com esse problema e não tem nada a fazer diante de um problema de saúde mental, quem deve resolver é o CAPS." (E1). "O paciente vem para consulta onde é encaminhado direto para o CAPS através da referência e lá ele é assistido." (E5). Estas falas reforçam a ausência da interação entre os serviços, explicitada pela falta de interlocução não só dos serviços, como também dos próprios profissionais. Outro fato que chama atenção é a assistência centrada na internação psiquiátrica e na medicalização dos sintomas, sendo uma prática freqüente, a indicação de benzodiazepínicos, claramente expressa na fala do profissional: "O portador de transtorno mental geralmente comparece a UBS para a consulta médica e para a prescrição de sua medicação." (E9). As narrativas apontam uma tendência à terapêutica que privilegia a medicação, procurando aliviar apenas os sintomas.
CONCLUSÃO:
Apesar de todos os impulsos que a Reforma Psiquiátrica tem gerado, principalmente quanto a construção de novos conceitos e formas de lidar em saúde mental, muitos profissionais, especialmente os enfermeiros, ainda possuem na sua prática a lógica da exclusão - baseada em teorias psiquiátricas reducionistas e organicistas - daí a importância da discussão dessas teorias que devem estar direcionadas para a compreensão do sofrimento psicossocial do sujeito. Em saúde mental o mais importante é a pessoa que sofre. Por isso, há necessidade dos profissionais desse campo do saber conjugarem esforços e estabelecerem parcerias com projetos e programas da sociedade, como é o caso da Rede de Atenção Básica, por meio da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Por sua proximidade com famílias e comunidade, as equipes de atenção básica são um recurso estratégico para o enfrentamento de agravos vinculados a saúde mental, tais como: o uso e abuso de álcool e outras drogas, tentativas de suicídio, vítimas de violência doméstica, pacientes egressos de internações psiquiátricas e outras formas de sofrimento psicossocial.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Reforma psiquiátrica, Rede básica de saúde, Saúde mental.