62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 6. Enfermagem Psiquiátrica
DEMANDA DE SAÚDE MENTAL NA REDE BÁSICA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Tâmara Cristina Brito Rodrigues 1
Helena Karolyne Arruda Guedes 1
Natália Oliveira da Silva 1
Joana Celine Costa Silva 2
José Ferreira Lima Junior 1
Francisca Bezerra de Oliveira 1
1. Universidade Federal de Campina Grande- UFCG
2. Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Pau dos Ferros / RN.
INTRODUÇÃO:
A atenção básica deve ser a porta de entrada preferencial do Sistema Único de Saúde (SUS) e a Estratégia de Saúde da Família (ESF) constitui o modelo prioritário para reorganização das práticas nesse nível de atenção. A despeito da Política Nacional da Atenção Básica (portaria 648/2006) não contemplar a Saúde Mental dentre as áreas estratégicas, vários são os documentos que sinalizam para o desenvolvimento das ações de saúde mental no primeiro nível de atenção. O Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) compreende a concretude dessa articulação pela ampliação das ações da atenção básica, dentre as quais estão as de saúde mental. Com efeito, as ações de saúde mental são importantes para agregar valor à qualidade de vida dos usuários na medida em que trabalham aspectos como autonomia, inclusão social, subjetividade e cidadania. Os objetivos deste estudo são traçar o perfil da demanda de saúde mental em uma Unidade de Saúde da Família de Cajazeiras - Paraíba; mapear os casos de transtornos mentais na família do usuário; pesquisar o uso de psicotrópicos entre os pacientes; bem como identificar os principais serviços de saúde procurados pelos usuários para o atendimento.
METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo exploratório, com abordagem quantitativa. Como instrumento de coleta de dados, utilizou-se um questionário semi-estruturado e a consulta aos prontuários na unidade de saúde. O Projeto de Pesquisa que resultou nesta investigação foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da Faculdade Santa Maria, com o parecer favorável sob número de protocolo 2610509. A pesquisa foi desenvolvida na Unidade de Saúde da Família do bairro São José, no município de Cajazeiras - PB. Os sujeitos da pesquisa são 29 usuários que fazem uso de psicotrópicos e/ou com história de internação psiquiátrica e que residem na área de abrangência dessa unidade. Os agentes comunitários de saúde ajudaram na identificação dos participantes da pesquisa, bem como nas visitas domiciliares necessárias para a execução deste estudo. Os dados quantitativos foram analisados no programa Microsoft Excel, versão Windows Vista Basic, através do índice de freqüência e percentual, com apresentação por meio de gráficos.
RESULTADOS:
Neste estudo, constatou-se a existência de uma considerável demanda em saúde mental, pois foram identificados 29 usuários, sendo 18 (62%) do sexo masculino e 11 (38%) do feminino. No entanto, não existe atenção a essa demanda, fato que pode ser evidenciado por meio do elevado percentual de usuários sem acompanhamento profissional neste serviço de atenção primária. Observou-se, ainda, o uso constante e elevado de medicamentos na população pesquisada e a ocorrência de muitas internações psiquiátricas de forma involuntária e sem comunicação ao Ministério Público. A desarticulação entre a saúde mental e a atenção básica, supervaloriza a internação psiquiátrica e incentiva a medicalização, que se firma como o único recurso disponível àqueles que necessitam de alguma forma de cuidado no campo da saúde mental. Evidenciou-se também um elevado percentual de usuários (62%), que referiram a existência de transtorno mental entre membros de suas famílias. Este fato aponta para a necessidade de se trabalhar os núcleos familiares por meio de tecnologias de cuidados como o acolhimento, a escuta comprometida, a criação de vínculos e a co-responsabilização entre os profissionais da atenção básica, os usuários em sofrimento psicossocial e seus familiares.
CONCLUSÃO:
Faz-se necessária a capacitação permanente dos profissionais da Estratégia de Saúde da Família (ESF) para lidar com usuários em sofrimento psicossocial, uma vez que a ESF converge para a proposta de atenção baseada nos princípios da Reforma Psiquiátrica e do Sistema Único de Saúde. A incorporação dos aspectos psicossociais na prática cotidiana da atenção básica possibilitará a ampliação do conceito saúde-doença mental e abrirá caminhos para a abordagem das situações vivenciadas na complexidade do cotidiano do processo de trabalho da atenção básica. O conhecimento por parte dos profissionais da atenção básica do contexto sociocultural e dos recursos da comunidade e da família são condições importantes para o enfrentamento de questões relacionadas ao campo da saúde mental. Vislumbra-se que este estudo oportunize a ampliação do debate na área da saúde mental de Cajazeiras para promover a articulação imprescindível entre a atenção básica e a referida área, viabilizando ações práticas em nosso município.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Reforma psiquiátrica, Atenção básica, Desinstitucionalização.