62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
FORMAÇÃO DE PROFESSORES: TRANSVERSALIDADE E COMPLEXIDADE
MARIA ALDECY RODRIGUES DE LIMA 1, 2
ERIKA DOS REIS GUSMÃO ANDRADE 1
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
2. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE
INTRODUÇÃO:
Necessidades. Dificuldades. Missionário. Adjetivos presentificados no discurso dos professores que exercem a docência no interior da floresta acreana. Ouvimos os professores falarem, contarem de si, dizerem da profissão/formação. Trilhamos um caminho de busca e de entendimento sobre a docência, sobre os gostos sobre os desejos escondidos no silêncio da floresta. Saindo do mundo urbano, deixam para trás a história, a família - o tudo que tinham. Embarcam em busca do que querem em princípio: o emprego, um salário, criar seus filhos, formar-se. Por isso não se importam com a distância nem com o medo. O difícil alia-se aos aspectos pedagógicos e aos de acesso e permanência na atividade docente, como também ao espaço geográfico disperso e longínquo em que se visualizam matas e rios, mistérios e desafios. Se não tiver coragem, nem embarcam na canoa. Sofrem o isolamento, a distância, o medo, a angústia solitária do exercício da profissão no interior da floresta. Delineamos como objetivo refletir sobre os aspectos da formação desses professores, sobre a identidade construída no fazer docente bem como apresentar a profissão que escolheram pela falta de emprego na cidade.
METODOLOGIA:

A metodologia estrutura-se com o Procedimento de Classificação Múltipla (PCM) e entrevista semi estruturada cujos dados estão sendo analisados através da Análise Multidimensional (ROAZZI, 1995), da Análise de Conteúdo (BARDIM, 2004) e (FRANCO, 2005) e da Teoria das facetas (BILSKY, 2003). Todos os participantes são estudantes do Curso de Formação de Professores da Educação Básica - zona rural (PEFPEB) desenvolvido pela Universidade Federal do Acre em parceria com a Secretaria de Estado de Educação e prefeituras municipais.

                                                                                      

RESULTADOS:
O contexto social modela uma relação professor/aluno/comunidade inscrevendo-os numa construção de objetos físico e culturais cuja natureza penetra a vida pessoal dos professores, entrelaçando-se nele, traçando outra história. A atuação docente rompe a cultura do analfabetismo, abre caminhos para a escola, traz o saber da ciência que se junta ao saber da tradição possibilitando o adentrar de outros saberes no interior da floresta e rompe assim, o ciclo das vozes silenciadas. Formulam um desejo em relação ao que estão vivendo, ou seja, interagem com o pensamento do senso comum, criam representações sonhando com a possibilidade de progredir. São, pois, incorporações oriundas da experiência e do saber fazer desses professores que se constituem numa relação de coragem com o outro, neste caso, alunos, pais de alunos e demais moradores ribeirinhos. Estão eles, os professores, diante de uma missão - educar aquelas crianças. Ao contar das memórias, lembram a partida, a chegada, o choro, a solidão da/na floresta. No imaginário, estão presentes algumas representações - da necessidade, por exemplo. Necessidade do emprego para os professores, de aprender a ler e escrever para os moradores ribeirinhos.
CONCLUSÃO:

Com o tempo o sofrimento é amenizado pelo reconhecimento do bom profissional estampada na alegria de ver suas crias escolares aprovadas em concursos públicos ou mesmo adentrando a porta da universidade apontando: aquele foi meu/minha professor(a) primário! Parafraseando Moscovici (2005) são, pois produtos que incorporaram, se podemos assim dizer, a experiência, o saber fazer dos sujeitos, seus autores e que conhecemos porque nós os fizemos. E fazemos incessantemente outros tantos, novos, os quais povoam nossa existência, modelam nossas relações. Os dados nos mostram a incorporação da transversalidade na formação dos professores respaldados pela complexidade do contexto em que precisam viver/sobreviver incorporam modos e mitos; manias, sabedorias - extraindo daí, informações em função das quais determinará o seu comportamento. Estão, sobretudo, em processos de formação - corpos vivos e atuantes no contexto da docência, da vivência a beira dos barrancos, dos bancos da academia. Em busca dos conhecimentos que segundo (MORIN, 2005) aproxima-se de um desconhecido que desafia os nossos conceitos, a nossa lógica, a nossa inteligência.

Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: Formação de professores. , Escolas ribeirinhas. , Conhecimento..