A leishmaniose visceral (LV) ou calazar é uma doença infecciosa causada por protozoários flagelados do gênero Leishmania sp. Nas Américas, Leishmania (Leishmania) chagasi é a espécie responsável pelas formas clínicas desta doença. As leishmania sp são transmitidas pelos insetos fêmeas dos gêneros Phlebotomus ou Lutzomyia. Sendo o L. longipalpis a espécie relacionada com a transmissão da L. chagasi. A LV é uma doença crônica, grave e de alta letalidade. Caracteriza-se por uma enfermidade febril de curso prolongado, evidenciada por palidez, emagrecimento, aumento do volume abdominal e hepatoesplenomegalia. Em todo o mundo, estima-se que mais de 350.000 novos casos de LV surjam a cada ano, sendo considerada endêmica em mais de 72 países. A doença manifesta-se nas populações tropicais e subtropicais da América Latina sob forma endêmica. Nas últimas duas décadas, a doença vem se expandindo, incidindo atualmente em 19 das 27 unidades da federação, principalmente na Região Nordeste, responsável por 90% das notificações, particularmente nos estados da Bahia, Ceará, Piauí e Maranhão. Diante da importância da LVA, o objetivo deste trabalho é avaliar os dados epidemiológicos da LV no estado do Ceará, de modo a fornecerem dados que possam auxiliar em estratégias de controle da referida doença.

A primeira etapa da pesquisa consistiu na elaboração de um projeto e realização de uma pesquisa bibliográfica, por meio de um levantamento realizado na base LILACS. A área escolhida foi o Estado do Ceará, localizado na região Nordeste do País e faz divisa com 4 estados da federação. Tem uma área total de 146.348,30 km² com uma populaçao aproximada de 8.450.500 habitante, sendo o 8º estado mais populoso do Brasil. Os dados referentes a LV no Ceará no período de 2001-2008 foram solicitados à Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, Cooordenadoria de Promoção e Proteção à Saúde/Núcleo de Vigilânia Epidemiológica/SESA/Ce. Os dados fornecidos foram analisados, avaliando-se as variáveis: distribuição dos casos no estado, observando os casos confirmados e óbitos; distribuição por sexo e faixa etária

No período de 2001 a 2008 foram confirmados 3.746 e 209 óbitos. A letalidade média no período foi de 4,6%. O ano de 2006 destaca-se com 796 casos confirmados e 53 óbitos. O Ceará apresenta 21(11,4%) municípios com transmissão Intensa, 24(13%) com transmissão Moderada, 97(52,7%) com transmissão Esporádica e 42(22,8%) sem transmissão. O município de Fortaleza destaca-se por apresentar uma transmissão Intensa Alta, apresentando 228 casos de LV em 2006, 261 em 2007 e 206 em 2008. Entre os municípios com transmissão Intensa Média, destacam-se Caucaia, Sobral e Barbalha. A descrição da média de casos por mês demonstra um predomínio em janeiro e um pico entre os meses de julho a outubro. Na distribuição por sexo, verifica-se que há uma maior proporção de casos no sexo masculino em todos os anos analisados, com destaque para o ano de 2003 com 64,9% dos casos e o sexo feminino apresentando 35,1% . No que concerne a faixa etária, existe relato de caso desde menores de 1 ano até mais de 60 anos, entretanto, deve-se destacar que a faixa etária de 1 a 4 anos apresenta a maior porcentagem de casos, destacando-se o ano de 2008 com 34,1% dos casos. Verifica-se também um aumento na proporção de casos em pacientes com mais de 60 nos últimos anos, variando de 3,1% em 2001 a 5,1% em 2008.

A leishmaniose visceral vem mantendo índices elevados no estado do Ceará, merecendo destaque a freqüência dos casos no município de Fortaleza. Os homens são mais frequentemente acometidos pela doença. A faixa etária mais atingida foi de 1 a 4 anos, o que justifica medidas efetivas para a redução dos números de casos entre crianças. O número de casos entre idoso vem aumentando consideravelmente nos últimos anos. Verifica-se que as estratégias de combate não têm apresentado efetividade suficiente para a redução da prevalência. Diante desta realidade, ressalta-se a importância da implementação de medidas de controle mais efetivas.