62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística
ESTUDO DA TRANSITIVIDADE VERBAL EM PORTUGUÊS DO BRASIL E SUA APLICAÇÃO AO ENSINO (UMA ABORDAGEM FUNCIONAL-TIPOLÓGICA)
Suiane Bezerra da Silva 1
Dioney Moreira Gomes 1
1. Universidade de Brasília
INTRODUÇÃO:
O presente projeto propõe um estudo sobre a transitividade verbal em Português do Brasil a partir de uma abordagem funcional-tipológica. Essa abordagem originou-se do Funcionalismo, iniciado no Círculo Linguístico de Praga. O estudo tipológico consiste em encontrar, em cada língua, diferenças e similitudes com o intuito de descobrir qual a visão de mundo cada comunidade possui e como ela representa essa realidade linguisticamente. A transitividade verbal é um fenômeno encontrado em muitas línguas e possui suas particularidades. "A gramática tradicional (GT), (...) por apresentar uma visão preconceituosa do uso da linguagem, (...) não fornece ao estudioso da linguagem uma teoria adequada para descrever o funcionamento gramatical das línguas." (MARTELOTTA, 2009, p. 45). Percebendo a limitação da GT no que tange a descrição de uma língua, entendemos a necessidade de uma mudança de perspectiva e é nesse ponto que queremos mostrar a relevância do Funcionalismo. O objetivo principal deste trabalho é descrever, analisar e refletir sobre a transitividade verbal do Português Brasileiro versus a exposta nas GTs, analisando as falhas cometidas pelas abordagens tradicionais anteriores, podendo chegar a uma nova abordagem para o ensino desse tema em escolas brasileiras.
METODOLOGIA:
Como a pesquisa é de cunho funcionalista-tipológico, foi dedicada especial importância à revisão bibliográfica dos autores representativos desse campo de estudo linguístico: Givón, Hopper & Thompson, Comrie. Outra etapa do trabalho foi constituída de um levantamento bibliográfico de Gramáticas Normativas consagradas, desde as mais antigas até as mais atuais. Feito isso, refletimos e nos aprofundamos em algumas críticas feitas sobre a GT pela corrente funcionalista com relação à transitividade. Também fizemos a coleta de um corpus vivo através do "Corpus do Português", criado por Mark Davies & Michael Ferreira. Vencida essa etapa, um questionário foi elaborado tendo por base conceitos funcionais-tipológicos. A partir dele, pudemos coletar o que os estudantes pensam sobre a transitividade e, a partir dos seus conhecimentos, remodelar e lapidar o conceito de verbo transitivo de acordo com o funcionalismo-tipológico. Outra etapa importante do processo foi analisar e refletir sobre quais são as diretrizes dadas pelos PCNs, visto que esses parâmetros privilegiam um dos conceitos mais importantes do funcionalismo: trabalhar a língua em seu uso concreto, contextual e pragmático. E, por fim, buscamos expor a nova concepção de transitividade nos moldes funcionais-tipológicos.
RESULTADOS:
As GTs, apesar de regularmente serem re-editadas, acabam por repetir definições errôneas, contribuindo, para a perpetuação de falhas. Elas não contemplam adequadamente o Português do Brasil no que tange à sua transitividade. Dados retirados do "Corpus do Português" nos convidam à reflexão sobre qual transitividade realmente estamos fazendo uso: se a transitividade encontrada nas GTs, ou encontrada no registro diário de vários brasileiros. Dentre muitos, o verbo assistir mostra um equívoco de sentido. Segundo a GT, um dos sentidos do verbo 'assistir' é o sentido de morar, residir. Ex: Geralmente, as manicures assistem em casa. Fazendo uma análise simples sobre essas orações, podemos perceber essa construção causa ambiguidade. O verbo assistir é usado, pela maioria dos brasileiros, como sinônimo de 'ver algo', ou 'dar atenção a alguém' ou ainda, em contextos bem formais, 'dar assistência'. Já o sentido de 'morar, residir' está tão escasso que nem se reconhece mais essa estrutura. Se fosse dito a algum brasileiro que "As manicures assistem em casa", sua reação provavelmente seria: assistem o quê? Ou seja, não se reconhece o sentido de assistir como o de morar, residir. Assim sendo, o verbo assistir, nesse contexto, não é usado nem reconhecido pelos falantes do Português Brasileiro.
CONCLUSÃO:
O processo de descrição de uma língua deveria ser algo cuidadoso e não-preconceituoso, visto a sua importância para a humanidade, uma vez que a língua reflete e encerra a cultura e história de cada povo. As gramáticas normativas não são eficientes na descrição e explicação de alguns conceitos relativos à transitividade. No que se refere ao contexto discursivo, a gramática não explica a mudança de transitividade de muitos verbos que depende de cada nível de análise: sintático, semântico ou pragmático. Essa análise de transitividade verbal do Português Brasileiro por um viés funcionalista vem encontrando o seu espaço na atualidade com trabalhos iniciais como o de Alex Swander. Swander investigou a percepção de transitividade de alunos do ensino fundamental. Através de questionários, os alunos foram convidados a reorganizarem alguns verbos, analisando o que eles acreditavam ser de maior ou menor transitividade. É claro que esse é um retrato simplório do que foi o trabalho de Swander, porém, o que nos interessa mostrar é a abertura que os trabalhos funcionalistas estão ganhando, sobretudo, ao que se refere à transitividade verbal no Português Brasileiro. Buscando esse horizonte, o propósito deste trabalho é expor um quadro detalhado sobre a transitividade dos verbos em Português do Brasil.
Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES
Palavras-chave: funcional-tipológico, transitividade, ensino.