O estudo de vida material, especificamente do mobiliário, na Historiografia Brasileira, de uma forma geral é pouco trabalhado, no caso do Maranhão não há trabalhos na área. Até o final do século XX, esse tema estava relacionado á História da Família, mas ao longo das últimas décadas, pesquisas sobre a mobília ganharam maior destaque no cenário nacional. Os objetos relacionados à materialidade representam o mundo social e principalmente econômico ao longo dos séculos.

Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo, analisar os móveis domésticos enquanto artefatos que podem dialogar e simbolizar com o tempo, com o local e com as pessoas envolvidas no período trabalhado, possibilitando o entendimento da economia e da sociedade do espaço geográfico utilizado.

Pra tanto, utilizaremos como fonte, os inventários post-mortem entre 1755-1822 de mulheres proprietárias ludovicenses, além de diversos autores que abordam essa temática, entre eles Daniel Roche, Fernand Braudel e Pierre Bourdieu. Com o intuito de entender com esses bens simbolizavam a sociedade da época, observando os modos de viver do passado colonial maranhense e a relação com a economia do período, marcado pelo auge econômico devido à criação da companhia de comércio Grão-Pará e Maranhão.

Além disso, é importante o estudo comparativo com outras regiões, pois ajuda a entender a nossa realidade colonial, contribuindo para o avanço em termos de Historiografia Brasileira. Afinal, através dos inventários observamos uma existência contrária a que muitas obras discutem. As mulheres administravam bens e pessoas na presença ou ausência da figura masculina, e o mobiliário era uma forma de demonstrar riqueza e status social na época.

A partir da documentação analisada, é possível concluir que o principal traço do ambiente doméstico da comarca de São Luís, era a vinculação desses objetos do cotidiano com a economia. A maioria das inventariadas possuía utensílios que demarcavam um lugar de destaque, pois muitos objetos tinham origens exteriores, além da presença de ouro, prata, cobre, entre outros, traçando um comportamento dessas mulheres frente a nossa produção de riquezas. Como Daniel Roche coloca, os bens podem ter um alto valor simbólico nas relações sociais, mas também nas relações econômicas.