62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 7. História Política
O BRASIL MONÁRQUICO DIANTE DOS ESTADOS UNIDOS E DA ARGENTINA (1875-1889)
Paula da Silva Ramos 1
José Luís Bendicho Beired 2
1. Depto. de História, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Assis - UNESP
2. Prof°. Dr./Orientador - Depto.de de História, FCL, Campus de Assis - UNESP
INTRODUÇÃO:

Um dos aspectos da identidade do Estado nacional brasileiro durante o período monárquico consistia no papel do Brasil como símbolo de um projeto civilizatório. Este imaginário se constituiu por oposição à cultura caudilhesca existente na América hispânica, considerada como a representação da barbárie. Esta percepção serviu como formadora de opinião para a maioria do público letrado brasileiro e contribuiu para o afastamento do país em relação aos demais países americanos.

No entanto, entre os anos de 1875 e 1889, o Brasil passou por grandes mudanças. A crise do regime monárquico impulsionou o país a uma discussão política que, entre outros aspectos, questionava a inserção brasileira no continente.

Naquele período foram fundados inúmeros jornais republicanos que aprofundaram a discussão acerca do relacionamento do país com repúblicas americanas. Neste sentido, destacou-se o jornal A Província de São Paulo, utilizado como fonte desta pesquisa. O objetivo central deste projeto é a análise de como questões internas e externas influenciaram os posicionamentos e representações brasileiras construídas acerca dos demais países americanos, mais especificamente dos Estados Unidos e da Argentina nos anos finais do Império.
METODOLOGIA:

A análise do periódico foi orientada de acordo com o estudo de Renné Zicman. Neste destacam-se dois grandes campos de estudo no tocante à relação da história com a imprensa: a história da imprensa e a história através da imprensa. Esta proposta se insere na perspectiva da história através da imprensa. Os aspectos apontados por Pierre Milza, quanto à interação entre a política interna e externa dos Estados; bem como a análise sobre as representações, destacadas por Roger Chartier também foram imprescindíveis à esta pesquisa.

É importante destacar que o levantamento da fonte foi realizado por meio da leitura de todos os dias de publicação da folha. A execução dessa proposta se dividiu em duas partes. A primeira abarcou a análise das notas e telegramas, buscando reconstituir os principais acontecimentos do âmbito interno dos países analisados, a fim de mapear quais fatos mereceram maior atenção do jornal e qual a relação destes com a situação política brasileira do mesmo período.  Em seguida, foram analisadas as matérias, os artigos e editoriais, por conterem um caráter mais opinativo, configurando-se, desse modo, em um material fundamental para a análise do tema e realização dos objetivos propostos.
RESULTADOS:

Em linhas gerais a preocupação voltou-se primeiramente aos aspectos relativos ao próprio jornal, ou seja, tudo que influenciou na produção das notícias: as bases sobre as quais se deu a fundação do periódico, o grupo dirigente da folha, conteúdo programático e ideologia, que são imprescindíveis à análise do conteúdo propriamente dito.

A princípio concluiu-se que a interação entre Brasil, Argentina e Estados Unidos nos anos finais do Império foi conduzida em meio a contradições. A tendência à aproximação, manifesta por meio da oposição republicana paulista, contrastava com as representações negativas a respeito das repúblicas americanas, recorrentes nos discursos e práticas brasileiras para afirmação da própria legitimidade. No entanto, as mudanças em âmbito interno e externo favoreceram a vertente da integração ao concerto americano na conjuntura analisada.

Posteriormente conclui-se que no intuito de corroborar suas posições quanto ao projeto de nação que concebiam para o Brasil, os representantes do periódico veicularam intensamente os exemplos dos dois países. Desse modo o jornal justificava a adoção da república e do modelo liberal, e também rompia com o imaginário comum sobre a superioridade do Império no continente.
CONCLUSÃO:

Os objetivos políticos do jornal A Província de São Paulo foram responsáveis por uma mudança considerável no âmbito das representações brasileiras acerca das nações americanas, pois o questionamento à superioridade do Império frente às repúblicas do continente, bem como a busca da inserção no concerto americano, refutava um dos pilares da identidade nacional brasileira, baseada na oposição do Brasil em relação à "outra" América.

Assim, este projeto expôs algumas nuances do relacionamento entre Brasil, Argentina e Estados Unidos, apresentado, até então pela historiografia tendo como data fundamental a proclamação da República, pois mostrou como a campanha empenhada pela imprensa republicana nos anos finais do Império abriu espaço para os questionamentos quanto à inserção brasileira no continente desde o ano de 1875. Desse modo, pode-se afirmar que as mudanças que se estabeleceram no país após a proclamação da República, principalmente no tocante às relações interamericanas, exibiram seus contornos desde o último quartel do século XIX.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP
Palavras-chave: Brasil monárquico, América, Imprensa.