62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia
TAXA DE INCIDÊNCIA DE DOENÇA DE CHAGAS AGUDA (DCA) NO ESTADO DO PARÁ NO PERÍODO DE 2006 A 2009
Yasmin Nascimento Farias 1
Leila Sawada 1
Karla Caroline Marques de Oliveira 1
Karla Tereza Silva Ribeiro 2
Edilene Oliveira da Silva 3
1. Faculdade de Biomedicina - ICB/UFPA
2. Profª Dra./Co-orientadora - Laboratório de Microbiologia e Imunologia - ICB/UFPA
3. Profª Dra/Orientadora - Laboratório de Parasitologia- ICB/UFPA
INTRODUÇÃO:
A Doença de Chagas (DCA) é provocada pelo protozoário flagelado Trypanossoma cruzi. Sua principal forma de transmissão é a partir da inoculação deste protozoário através da picada de um triatomíneo contaminado. No entanto, há outra via de transmissão, a oral, que vem sendo estudada na Amazônia. Nesta região, o principal mecanismo de transmissão se dá através da ingestão de sucos de frutas, principalmente do açaí, um dos alimentos mais consumido pelos paraenses. Evidências sugerem que este modo de transmissibilidade está intimamente relacionado ao aumento de número de casos na região nos últimos anos. Logo, a Amazônia, antes considerada área não endêmica para a doença de Chagas, passa a representar uma região que apresenta alta taxa de incidência para a doença. No entanto, dados que sustentem tal inferência ainda são escassos na região. Diante da importância que a doença de Chagas representa à saúde coletiva, o presente estudo visa estimar a taxa de incidência no estado do Pará, no período de 2006 a 2009, e relacioná-la com a transmissão via oral, devido este estado ser um potencial exportador do açaí e consumidor do fruto. O trabalho também objetiva identificar as Mesorregiões que mais contribuem para a taxa de incidência no estado.
METODOLOGIA:
Os dados epidemiológicos relacionados à taxa de incidência da doença de Chagas aguda no Estado do Pará foram obtidos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) junto à Secretaria de Saúde do Estado do Pará (SESPA) e referiam-se ao período de outubro de 2006 a maio de 2009. As informações populacionais foram obtidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As análises estatísticas foram realizadas com ajuda dos programas BioEstat 5.0 e Microsoft Excel 2007.
RESULTADOS:
No estudo descritivo dos casos de DCA no estado do Pará, foi encontrada no período de 2006 a 2009 uma taxa de incidência de 2,73%, totalizando 1934 casos. Em 2006, quando a DCA foi incluída no SINAN, foram notificados apenas 14 casos no mês de outubro, sendo 9 (64,28%) do sexo feminino e 5 (35,71%) do sexo masculino. Entre estes casos, 12 ocorreram em uma mesma comunidade do Marajó. Em 2007, foram notificados 936 casos, sendo 483 (51,60%) do sexo feminino e 453 (48,39%) do sexo masculino, coincidindo com o levantamento feito pela Secretária de Vigilância em Saúde (SVS), que mostrou a ocorrência de 22 surtos de DCA em vários estados brasileiros. Na maioria, ficou comprovada a associação da ocorrência de casos com o consumo de alimentos in natura. No ano de 2008, foram notificados 737 casos, sendo 412 (55,90%) do sexo masculino e, em 2009, foram obtidos dados de casos notificados até oito de maio, que totalizaram 245 casos, sendo 145 (59,18%) do sexo masculino. A distribuição do número de casos notificados foi significativamente distinta entre os sexos (x2=15.419; p=0.0015) com os homens representando a maior taxa de incidência. Também se observou que a mesorregião do nordeste paraense (produtora de açaí) apresentou uma das maiores taxas de incidência durante o período estudado.
CONCLUSÃO:
A taxa de incidência referente aos anos de 2006 a 2009 foi de 2,73%. Tal fato é de relevância para o estado do Pará, em face à escassez de estudos referentes ao número de casos novos. A maior taxa de incidência observada no sexo masculino pode ser explicada pelo predomínio dos mesmos no trabalho extrativista característico da região, o qual implica na maior possibilidade de contato entre os homens e o inseto. Os dados obtidos ratificam a evidência de que a via de transmissão clássica através da picada do barbeiro ocorre em concomitância com a principal via de transmissão no Pará: a ingestão do açaí contaminado. Uma vez que, o número de casos de DCA é mais elevado durante o segundo semestre, coincidindo com a colheita do açaí, além de que, a incidência foi maior na mesorregião do nordeste paraense (grande pólo de produção de açaí). Dessa maneira, políticas públicas de saúde devem ser cada vez mais intensificadas em relação ao um dos principais alimentos consumidos no estado do Pará, o açaí.
Palavras-chave: DCA, Incidência, Amazônia.