62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
EFEITO DA HETEROGENEIDADE AMBIENTAL NA COMPOSIÇÃO DA TAXOCENOSE DE LAGARTOS EM FRAGMENTO DE MATA ATLÂNTICA NO ESTADO DE SERGIPE.
José Aldair Alves 1
Breno Moura Conceição 1
Eduardo José dos Reis Dias 1
Gêniton Santos Lima 1
José Marcelo Gomes Santos Junior 1
1. Departamento de Biociências, Universidade Federal de Sergipe/UFS
INTRODUÇÃO:
A Mata Atlântica é considerada um dos ecossistemas de maior biodiversidade e taxa de endemismos do planeta. É um dos biomas brasileiros sob maiores pressões de degradação antrópica e atualmente está reduzido a apenas 7% de sua área original. As conseqüências das ações antrópicas são a destruição ou remoção do habitat natural e a formação de fragmentos menores e isolados de habitats naturais (Wilcox e Murphv, 1985). Durante a formação de uma taxocenose, ao longo do tempo, as espécies componentes podem invadir, persistir ou tornar-se extintas. Este é o processo natural de formação da biota de um lugar e a heterogeneidade ambiental tem um papel fundamental neste processo. Para alguns grupos taxonômicos, como os lagartos, por exemplo, existe uma correlação positiva entre a riqueza de espécies e a heterogeneidade espacial, pois a estrutura da vegetação influencia na disponibilidade de micro habitats, favorecendo ou reduzindo o sucesso de algumas espécies (Pianka,1969). Esse trabalho tem como objetivos: 1)Fazer um levantamento da fauna de um fragmento de Mata Atlântica no estado de Sergipe; 2)analisar os gradientes ambientais que caracterizam a heterogeneidade ambiental do fragmento e; 3)correlacionar as condições do ambiente à composição da taxocenose de lagartos.
METODOLOGIA:
O presente trabalho foi realizado entre os dias 13/01/2010 e 18/01/2010, nos turnos da manhã tarde e noite, num fragmento de Mata Atlântica em Água-Branca (10°43'36" S e 37°19'43" O e altitude média de 125m), município de Areia Branca-SE. Todos os animais foram coletados com o auxílio de estilingues de borracha (garrote), pesados (Pesola, precisão de 0,1g), fixados com formalina a 10% e conservados em álcool 70%, para registro de coleta. Para a análise das características da heterogeneidade ambiental fez-se um transecto desde a área de restinga até a mata. A cada 100m foram determinadas linhas perpendiculares para realização das coletas dos lagartos e registro das características do ambiente (umidade relativa do ar, temperatura do ar e do substrato, altitude). Para cada animal coletado foram anotadas as temperaturas corpóreas, a hora do dia e o tipo de ambiente.
RESULTADOS:

Foram coletadas nove espécies de lagartos (Mabuya heathi, Tropidurus hygomi, Mabuya agmosticha, Gymnodactylus darwinii, Cnemidophorus ocellifer, Hemidactylus periosus, Bogertia lutzae, Tropidurus semitaematus, Tropidurus Hispidus) durante o estudo, encontrados exclusivamente no ambiente de restinga. As áreas de restinga e mata, tiveram médias de temperatura (31,8 + 3, 2 ˚ C e 30,7 + 0,7 ˚ C) e umidade (61,3 + 7,7 % e 68,7 + 0,7 %) que não diferiram significativamente (Test t = 0,662, df = 6, p = 0,532  e Test t = - 1,912; df = 6; p = 0,104, respectivamente). Entretanto houve diferenças quanto aos valores de luminosidade Test t = 2,586; df = 6; p = 0,041 (média de  30764.583 lux para restinga e de 3791.250 lux para a mata). Estes dados mostram que neste fragmento de Mata Atlântica, os valores de umidade e temperatura foram semelhantes à restinga, indicando que esta mata apresentava um déficit hídrico no período da coleta. Provavelmente, devido a este déficit, não foram encontradas as espécies de lagartos esperadas para Mata Atlântica no Nordeste. Já na restinga, coletaram-se lagartos exclusivos deste ambiente, descritos em outros trabalhos (Araújo, 2001; Rocha e Bergallo, 1997; Teixeira, 2001; Dias e Rocha, 2005; Falcão & Hernández, 2007).

CONCLUSÃO:
A partir desse trabalho, observou-se que neste ambiente de restinga o efeito da heterogeneidade ambiental contribuiu para a ocorrência das espécies coletadas. A alta condição de luminosidade da restinga reforça o papel destes ambientes diferenciados e estruturalmente complexos para a manutenção da alta riqueza de espécies de lagartos (Carvalho; Araújo & Silva, 2007). Quanto ao fragmento de mata, já era de se esperar que a restinga apresentasse maiores proporções de espécies de lagartos. Isto porque esses animais tendem a ser heliófilos (vivem em áreas abertas) e adaptados a maior condição de luz (Dias, 2002).
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq.
Palavras-chave: Heterogeneidade ambiental, Lagartos, Mata Atlântica.