62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social
AS MARCAS DO CATIVEIRO: DAS MOLÉSTIAS QUE ACOMETIAM A POPULAÇÃO ESCRAVA NOS SERTÕES DO SERIDÓ (SÉCULO XIX)
Avohanne Isabelle Costa de Araújo 1
Jeferson Candido Alves 1
Muirakytan Kennedy de Macedo 1, 2
1. Depto. de História e Geografia, Centro de Ensino Superior do Seridó - UFRN
2. Prof. Dr./Orientador
INTRODUÇÃO:
Nossa pesquisa se propõe a fazer uma análise acerca das principais moléstias que acometiam os escravos na Ribeira do Seridó, localizada nos sertões do Rio Grande do Norte e a importância econômica das condições físicas dos cativos nos inventários post mortem. Em consonância com os novos estudos da história social da escravidão, e sua proposta interdisciplinar, a historiografia brasileira passa a enxergar novos objetos, e a lançar novos olhares sobre temas tradicionais. Sendo assim, o diálogo com as ciências médicas nos permite analisar o escravo, o homem doente e sua experiência histórica na sociedade.
METODOLOGIA:
Nossa pesquisa iniciou com a catalogação dos inventários post mortem da região do Seridó (RN), do período de 1822 a 1855, do fundo Primeiro Cartório da Comarca de Caicó, então Vila Nova do Príncipe e se encontra sobre a guarda do LABORDOC (Laboratório de Documentação Histórica/CERES-UFRN). No total, foram catalogados 197 inventários realizados com fichas de coletas de dados que continham os seguintes campos: o nome inventariado/testamenteiro; ano do inventário, nome(s) do(s) escravo(s); sexo; cor; nação; habilidade; moléstia e preço. As informações coletadas dos inventários são armazenadas em um banco de dados criado no ACCESS para facilitar o manuseio e a consulta dos dados. Para classificar as doenças usamos o trabalho de Marcelo Ferreira de ASSIS (2002) e algumas nomenclaturas foram adaptadas para a região estudada (Ribeira do Seridó, Província do Rio Grande do Norte). Junto ao trabalho de investigação das fontes desenvolvemos uma densa investigação da bibliografia sobre o tema. Sendo assim autores como CHALHOUB (1996), SILVA (2003), KARASH (2000), CHERNOVIZ (1890) dentre outros se mostraram imprescindíveis a nossa investigação.
RESULTADOS:
As moléstias mais frequentes (41% dos casos) eram doenças traumáticas (quebrados, calejados, abertos dos peitos), relacionadas a acidentes e desgastes físicos ligados ao mundo do trabalho. Em segundo lugar, as doenças potencialmente congênitas, aleijados, incompletos e tortos (21%) que de certa forma se confundem com as primeiras, pois podem ser também deformações causadas pelas atividades laborais. Segundo ASSIS (2002), "uma cegueira poderia ser má-formação. Um 'aleijado' ou um homem que possuísse a informação 'faltando dedo do pé', poderiam ter sido vitimas de problemas de má-formação e assim podem ser considerados. Mas, desde que os inventários não tenham dado pistas de que fossem traumas, pois, lembremos que estamos discutindo o sistema escravista, trabalhos pesados, violência quando o mais provável era que 'cego de um olho', por exemplo, fosse mais resultado da violência (do trabalho ou do braço alheio), do que fruto de um problema genético" (2002. p. 85). As demais entram nas categorias de reumáticas (7%), infectocontagiosas (14% dos casos e muito próximas de grandes epidemias da cólera em 1845 e 1855), desnutrição, falta de higiene íntima (goma: gengivite), senilidade (cansado de velhice) e outros achaques.
CONCLUSÃO:
Diante dos resultados obtidos pela catalogação dos inventários e apesar do referido documento não dar muitas pistas a respeito das doenças dos escravos, chegamos à conclusão de que os resultados responderam algumas questões como, por exemplo, a questão do corpo saudável influenciar na compra dos escravos. Em relação às moléstias encontradas nos inventários, muitos resultados eram esperados como é o caso das doenças infectocontagiosas, principalmente porque o trabalho de SILVA e os relatórios de província do século XIX já apontavam que o Seridó foi palco de muitas epidemias. Também nos deparamos com resultados surpreendentes, como é o caso das doenças relacionadas ao mundo do trabalho que representaram 41% dos resultados obtidos.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e Pró-Reitoria de Pesquisa - PROPESQ
Palavras-chave: Doenças dos escravos, Medicina, Ribeira do Seridó.