62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 8. Economias Agrária e dos Recursos Naturais
A ECONOMIA FAMILIAR NA VÁRZEA E ESTUÁRIO AMAZÔNICO: ANÁLISE COMPARATIVA DE IGARAPÉ MIRI, CAMETÁ, PONTA DE PEDRAS E MUANÁ.
Mariana Neves Cruz 1
Tassia do Socorro Ferreira da Silva 2
Oriana Trindade de Almeida 3
1. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Faculdade de geografia, UFPA
2. Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, Faculdade de Economia, UFPA
3. Núcleo de Altos Estudos da Amazônia
INTRODUÇÃO:

Estudos apontam o Estuário Amazônico como uma das regiões de maior produtividade pesqueira do país (FREDOU, 2007). A região de várzea amazônica também se destaca por sua produção pesqueira (SEPAq, 2010) e a população dessas regiões têm na pesca uma das principais atividades da economia familiar. A pesca de pequeno porte se caracteriza por ser uma atividade sazonal e com apetrechos simples, sendo a produção em pequena escala baseada em técnicas artesanais (FURTADO, 1997).

Na região de várzea amazônica e de influência estuarina a população é fortemente dependente de múltiplas atividades (Hiraoka,1993; Leitão, 1997, Furtado, 1991, Leitão, 2008). A atividade da pesca, a extração de açaí e de camarão são complementares entre si e importantes tanto para a dieta alimentar da população residente quanto para a economia familiar.

Este trabalho tem a finalidade de fazer uma análise comparativa acerca das principais atividades econômicas exercidas pela população ribeirinha nos municípios de Cametá, Igarapé Miri, Muaná e Ponta de Pedras.

METODOLOGIA:

A revisão da bibliografia foi feita para caracterizar as principais atividades econômicas exercidas nos municípios de Muaná, Ponta de Pedras, Igarapé Miri e Cametá e acerca da pesca artesanal na Amazônia. A coleta de dados de campo ocorreu em duas etapas, onde no ano de 2007 foram realizadas visitas às comunidades de Muaná e Ponta de Pedras e no ano de 2009 foram realizadas visitas às comunidades de Igarapé Miri e Cametá. Foram aplicados, no total 436 questionários objetivando obter informações acerca das atividades produtivas (produção pecuária, agrícola, extração de açaí, extração de camarão e a atividade da pesca), características sociais (idade, religião, educação, situação da posse da terra, bens materiais, estado civil e número de filhos) e informações acerca da existência e funcionamento de estratégias de manejo nas comunidades.

RESULTADOS:

A maior parte das famílias entrevistadas colheu açaí no período de safra, sendo em Cametá a maior ocorrência (97%), seguido de Muaná (93%) e ponta de Pedras (92%). Quanto à quantidade de latas (1 lata=14 kg) colhidas, Cametá se destaca, com uma média de 660 latas/família (Desv. Pad.: 1.244) com uma média de renda familiar de R$7.448,20, seguida de Igarapé Miri, com 245 latas/família (Desv. Pad.: 487), média de renda familiar de R$3.810,21, Muaná,  com 343 latas/família (Desv.Pad.: 390),  média de renda familiar de R$3.574,09 e, por fim, Ponta de Pedras com  produção de 371 latas/família (desvio: 367), média de renda familiar de R$3.790,12. Quanto ao camarão, o município de Cametá foi o que apresentou maior média de captura durante a safra com 432,31 kg, com uma média de renda familiar de R$954,16. Em seguida veio Muaná, com produção de 315,97 kg e média de renda familiar de R$833,52, Ponta de Pedras produzindo 278,37 kg, média de renda familiar de R$217,62 e Igarapé Miri, produzindo 83,06 kg/família/ano, média de rendimento familiar: R$219,30. O número de famílias que pratica a atividade da pesca é maior no município de Muaná (98%), seguida por ponta de Pedras (93%), Cametá (90%) e Igarapé Miri (77,7%), decorrendo desta atividade a principal fonte de proteínas das famílias.

CONCLUSÃO:

Os municipios deste estudo estão localizados em áreas de várzea e região de estuário amazônico, onde a atividade da pesca, a extração de camarão e a exploração de algumas espécies não madeireiras, principalmente o açaizeiro (Euterpe oleracea), são as bases da economia local (Furtado, 1991, Hiraoka, 1997) e integram a dieta alimentar dos entrevistados.

Em todas as comunidades visitadas, a extração de açaí representa a maior parte da renda familiar. A extração de camarão também é acentuada, todavia, é um produto com baixo valor econômico dentro das comunidades. Já a atividade da pesca é a principal fonte de proteína das famílias, havendo variações na quantidade capturada, muitas vezes não mensurada pelo pescador, dificultando a estimativa de renda gerada por esta atividade. Todavia, o que difere a atividade da pesca das demais é o seguro defeso (auxilio financeiro concedido pelo governo federal, referente ao período de reprodução do pescado, onde o pescador cessa suas atividades com fins comerciais), representando um incremento de R$1.860 na renda familiar. Portanto, estas atividades são interdependentes e importantes na geração de renda e composição da dieta alimentar dos entrevistados.

Instituição de Fomento: CNPq, FAPESPA, SEPAq, Moore Foundation
Palavras-chave: Economia familiar, renda, dieta alimentar..