62ª Reunião Anual da SBPC

G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA DEPRESSÃO PRODUZIDAS POR ADOLESCENTES INSERIDOS NO CONTEXTO ESCOLAR DO ENSINO FUNDAMENTAL NA CIDADE DE JOÃO PESSOA/PB

Israel Lima de Luna Freire 1 Emily da Silva Nascimento 1 Maria da Penha de Lima Coutinho 2

1. Mestrandos em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 2. Profa. Dra./Orientadora - Universidade Federal da Paraíba - UFPB

INTRODUÇÃO:

A depressão tem hoje alta incidência, sendo alarmante a rapidez com que sua ocorrência cresce. Dados da Organização Mundial de Saúde citam que tal transtorno ocupa o quarto lugar dentre vinte doenças com maior taxa de anos de vida perdidos por morte e incapacidade, projeta-se que em vinte anos ela alcance o segundo posto. Embora apresente sintomas cognitivos, motores, somáticos e de humor, são esses últimos os mais marcantes em um quadro depressivo. A adolescência é uma fase de maturação fisiológica e psicológica, sendo comuns flutuações de humor e mudanças significativas no comportamento, é, pois, uma fase propensa à instalação da sintomatologia depressiva. Estudos sobre a temática expõem que crianças e adolescentes pouco competentes acadêmica e socialmente apresentam mais sintomas depressivos do que crianças com sucesso escolar, reconhecer a presença de tal enfermidade no contexto escolar é um primeiro passo para a preparação de profissionais para melhor lidar com esse público. O presente trabalho teve como objetivo apreender os campos semânticos construídos por estudantes inseridos no Ensino Fundamental da capital paraibana a partir de palavras indutoras (depressão, pessoa depressiva, eu mesmo), tendo como base o suporte teórico-metodológico das Representações Sociais.

METODOLOGIA:

Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética, do Centro de Ciências da Saúde da UFPB, tendo sua aprovação registrada sob o protocolo de nº. 99/06/07. Em seguida, buscaram-se escolas como lócus de trabalho, duas pertencentes à rede pública de João Pessoa/PB aprovaram a realização do estudo. A amostra foi composta por estudantes do 7º ao 9º ano do ensino fundamental, excluindo-se sujeitos com idade superior a 17 anos (idade limite para aplicação do instrumento CDI) e questionários com mais de 20% dos itens dos instrumentos sem resposta. Foram realizadas aplicações coletivas, em sala de aula, dos instrumentos: Teste de Associação Livre de Palavras (TALP) - técnica em que é solicitado aos participantes que escrevam as cinco primeiras palavras que vêm a sua mente ao se dizer uma primeira palavra indutora (foram utilizadas as palavras indutoras: depressão, pessoa depressiva e eu mesmo); e do Inventário de Depressão Infantil (CDI), composto por 20 itens, cada um deles possuindo três alternativas a serem assinaladas. O valor dessas alternativas varia de 0 a 2, para esta população, a literatura indica o ponto de corte que característico da presença de sintomatologia depressiva é o de 17 pontos. Os instrumentos foram analisados pelos softwares Tri-Deux-Mots e SPSS 15, respectivamente.

RESULTADOS:

Respeitados os critérios de inclusão, obteve-se uma amostra de 254 sujeitos, com média de idade de 14,62 anos, idade mínima de 11 anos e máxima de 17 anos, com desvio padrão 3,552. No que se refere à distribuição dos alunos por série, 86 deles compõem o 6º ano (33,9%), 86 estão inseridos no 7º ano (33,9%) e outros 82 na 8º ano. No tocante ao sexo, 115 indivíduos eram do sexo masculino (45,3%) e 139 do sexo feminino (54,7%). Um total de 29 participantes (11,2%) apresentaram, no CDI, um somatório igual ou superior ao ponto de corte, referente a pessoas com sintomatologia depressiva. Pelo Teste de Associação Livre de Palavras, foi possível comparar as evocações entre púberes com e sem sintomatologia depressiva, permitindo-nos ainda fazer uma comparação das palavras evocadas por indivíduos de ambos os sexos. Os adolescentes relacionaram à depressão expressões como doença, choro e estresse. A pessoa depressiva era aquela com raiva e sozinha. Não foram denotadas diferenças entre evocações de cada um dos sexos, porém diferenças emergiram nas evocações do estímulo 'eu mesmo', enquanto jovens com indicativo de sintomatologia se descreveram enquanto tristes, solitários e com medo; os demais se referiram a si mesmos enquanto felizes, amáveis e bonitos.

CONCLUSÃO:

Com o presente estudo, obteve-se um índice significativo de depressão na amostra estudada e, o que se tem observado em outros estudos da área, é um crescimento desse quadro entre adolescentes. Tal fato traz consigo a necessidade de intervenção das próprias instituições de ensino, das famílias e de sistemas de saúde, haja vista tratar-se de um problema de saúde pública. No tocante às representações obtidas, percebeu-se uma temática centrada nos aspectos psicofetivos e psicossociais, a explicação para isso está no nível de informação que circula internamente no meio de pertença, na sociedade que ainda tem dificuldades em compreender a adolescência como uma fase onde se encontram indivíduos em maturação, que se depara com o novo - seu corpo em constantes mudanças e seu posicionamento sociedade ainda incerto -, enfim naquilo que esse jovem vivencia diariamente, seja na relação intrapessoal ou na interpessoal. Realizada esta pesquisa, espera-se que a mesma contribua para uma melhor compreensão da referida sintomatologia na população adolescente, bem como o fornecimento de subsídios para elaboração/implementação de práticas curriculares no âmbito das instituições educacionais, para que exerçam, assim, o papel de promotores de saúde.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq

Palavras-chave: Depressão, Adolescência, Representações Sociais.