62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
PARA ALÉM DA PRODUÇÃO ARTESANAL: UMA ANÁLISE DO PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS ARTESÃOS DE JUAZEIRO DO NORTE/CEARÁ
Sarah Maria da Silva Gonçalves 1
Linara Ferreira Porto 1
Ives Romero Tavares do Nascimento 1
João Paulo Bezerra Nobre 1
Jeová Torres Silva Júnior 2
Rebeca da Rocha Grangeiro 3
1. Curso de Administração, Universidade Federal do Ceará - UFC/Campus Cariri
2. Prof. Ms./Orientador - Universidade Federal do Ceará - UFC/Campus Cariri
3. Profa. Ms./Orientadora - Universidade Federal do Ceará - UFC/Campus Cariri
INTRODUÇÃO:
A história do artesanato em Juazeiro do Norte (sul do Ceará) remonta às primeiras romarias, onde moradores de outras regiões deslocavam-se para esta cidade a fim de receber as bênçãos do Padre Cícero, líder religioso e político local, e acabavam fixando moradia. O Padre Cícero os incentivou, como forma de geração de renda, ao trabalho artesanal o que contribuiu já nesta época para tornar a cidade referência no artesanato e atrair artesãos de outras regiões que viam, em Juazeiro do Norte, oportunidades de crescimento profissional. Ainda hoje a cidade é conhecida como um grande pólo de artesanato e vários dos produtos dos artesãos locais são comercializados em outras regiões do país e no exterior. Dado a importância deste setor econômico, diversas ações governamentais e pesquisas acadêmicas já realizadas têm como referência a produção e o trabalho artesanal. Todavia, carece-se de análises aprofundadas acerca condições socioeconômicas dos artesãos e da proposição de ações que contribuam para a elaboração de políticas públicas e visem à melhoria da qualidade de vida. Assim, esta pesquisa objetivou obter informações para a construção do perfil dos artesãos de Juazeiro do Norte e orientar propostas de políticas públicas municipais de artesanato a partir da análise dos dados coletados.
METODOLOGIA:
A pesquisa ocorreu no período de março a setembro de 2009, em Juazeiro do Norte/CE, caracterizou-se como exploratório-descritiva e utilizou informações de fontes secundárias e produção primária de dados. Quanto a estas primeiras, fez-se uso de material bibliográfico sobre história da organização do trabalho artesanal na cidade, de dados de pesquisas anteriores e de banco de dados de artesãos cadastrados nas seis associações e na Central do Artesanato (Ceart/Governo do Estado do Ceará). Já a produção de dados deu-se através da realização de entrevista semi-estruturada com 225 artesãos de Juazeiro do Norte que trabalham em diferentes tipos de produção artesanal. A entrevista foi composta por questões objetivas e subjetivas distribuídas em três seções: a) identificação pessoal e condições de moradia; b) condições profissionais e econômicas; c) aspectos educacionais e culturais. Para a análise das perguntas abertas, dividiu-se as respostas por categorias para então organizá-las em variáveis. Em seguida, procedeu-se à tabulação das respostas no programa estatístico SPSS versão 15.0 para, assim, chegar aos resultados.
RESULTADOS:
Dentre os principais resultados, percebeu-se que a maioria dos artesãos é do sexo feminino (68%), o que indica uma inversão do sexo predominante quando comparado a dados do final dos anos 60, em que a maior parte era do sexo masculino. Dos 225 entrevistados, 58,7% possuem casa própria com registro, 97,8% utilizam água encanada, 100% utilizam energia da rede elétrica e 52,9% possuem esgotamento sanitário ligado à rede de esgoto. Estes três últimos dados revelam maiores condições de acesso destes artesãos a serviços básicos quando comparados aos resultados do Ceará no PNAD 2008 do IBGE. Identificou-se que 61,3% dos entrevistados trabalham há mais de 10 anos com artesanato, predominando o Trançado (22,7%) e Madeira (14,7%). Pode-se inferir que as tipologias tradicionais da Ourivesaria e do Couro não são, neste momento, tão intensas quanto eram no início da produção artesanal. Verificou-se que 72,5% dos artesãos possuem renda mensal de até R$ 465,00 provenientes do artesanato, o que denota a baixa remuneração que estes trabalhadores percebem. Constatou-se, também, que 52% são autônomos, enquanto 42,7% fazem parte de associação. Deste modo, verifica-se que grupos associativos, apesar de fortes, não congregam todos os artesãos. Por fim, 53,8% já participaram de cursos de capacitação.
CONCLUSÃO:
A partir desta pesquisa pôde-se identificar quais artesãos de Juazeiro do Norte/CE estão em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Dentre os desdobramentos da investigação, encontra-se a realização de um seminário para apresentação do relatório da pesquisa e discutir políticas públicas para os artesãos e a proposta de articular estes trabalhadores em uma organização através de um processo de incubação. Em relação à construção do perfil dos artesãos de Juazeiro do Norte, a pesquisa forneceu dados atualizados de renda, escolaridade, acesso a serviços básicos, associativismo, dentre outros, que contribuíram para análise das condições socioeconômicas destes trabalhadores. Vê-se que mesmo a comercialização dos produtos sendo intensa e a maioria é capacitada, questiona-se, então, porque o rendimento mensal não é correspondente. Acredita-se que isto pode ocorrer ou pela existência de atravessadores, pessoas que compram os produtos diretamente dos artesãos por preços mais baratos e revendem com preços mais elevados, ou pela concentração da produção e da renda nos gestores das associações. Diante deste quadro serão necessários estudos complementares para aprofundar a investigação e compreender melhor este fenômeno.
Instituição de Fomento: UFC - Universidade Federal do Ceará / Campus Cariri
Palavras-chave: Artesanato de Juazeiro do Norte, Produção Artesanal, Organização do Trabalho.