62ª Reunião Anual da SBPC

G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 6. Ciências da Religião e Teologia

RELIGIÃO E SIGNIFICADOS: COM A PALAVRA, ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI.

Maria Thaianna Barbosa Simplicio ¹
Moíza Siberia Silva de Medeiros ²
Janielle Guedes Pontes ¹

1. Curso de Serviço Social - CESA - UECE
2. Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade - MAPPS - UECE

INTRODUÇÃO:

O Brasil traz consigo o retrato de uma adolescência estigmatizada no que se refere à prática de atos infracionais. Na contemporaneidade, apesar da instauração de dispositivos legais como o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE, a socioeducação tem sido interpretada por alguns segmentos da sociedade como punição ao adolescente em conflito com a lei, e para tal, a privação de liberdade representa um meio eficaz de restabelecer suas condutas lícitas. Nesse contexto, surgem outras interpretações acerca do fazer socioeducativo e de elementos mediadores da ressignificação do projeto de vida desses jovens, como é o caso da religião, como possível atuante em sua subjetividade, e mediadora de suas escolhas particulares. Isso porque os Novos Movimentos Religiosos têm motivado a experiência do simbólico e do sobrenatural nos indivíduos. Tal discussão se embasa na necessidade de superação de práticas estigmatizantes outrora mencionadas. Assim, objetivou-se apreender o significado da religião na vida de adolescentes em conflito com a lei, compreender como a religião possibilita uma nova perspectiva ao sair da medida socioeducativa, e refletir acerca de como pode influenciar na superação dos atos ilícitos praticados por esses.

METODOLOGIA:

A pesquisa empreendida para a consecução dos objetivos traçados foi a de natureza qualitativa, haja vista que optou por trazer à tona as opiniões dos interlocutores da pesquisa, abordando valores, comportamentos e significações, todos temas subjetivos de um sujeito social, não sendo possível mensurá-los em dados quantitativos. O estudo, com enfoque no Centro Educacional Dom Bosco - CEDB, unidade de privação de liberdade que atende adolescentes em conflito com a lei em Fortaleza, buscou captar a compreensão conferida por 35 jovens à religião, a partir do método história oral, cuja técnica, entrevista não-estruturada, permitiu a fluência de informações por parte dos interlocutores nos momentos dos atendimentos individuais, que fazem parte da rotina institucional. As entrevistas foram realizadas no próprio CEDB, complementadas pela observação participante, posto que a pesquisadora era estagiária do mesmo. Empreendeu-se ainda, estudo bibliográfico, sobre a categoria adolescente na visão dos autores Calligaris (2000) e Morin (2002), e sobre religião sob a ótica dos sociólogos Bourdieu (1987), Durkheim (2001) e autores contemporâneos: Guerreiro (2006) e Vasconcelos (2007), que embasaram a análise do discurso dos jovens.

RESULTADOS:

O estudo revelou que para os socioeducandos do CEDB a religião torna-se, uma mediação capaz de influenciar nos seus modos de agir. Para eles, os religiosos que frequentam a instituição, transmitem os sentimentos de acolhimento, aceitação, credibilidade e motivação, atuando em suas subjetividades, o que os impulsiona a tornarem-se adeptos de uma religião e a seguir seus valores. Os adolescentes revelaram que no "mundo real", o mundo fora dos muros de uma instituição de privação de liberdade ou, às vezes, até mesmo neste espaço, são vistos alheios a valores positivos, estigmatizados sob as nomenclaturas de "menor", "marginal", "delinquente", entre outras. Perante tal realidade, a religião tem dado a esses adolescentes a possibilidade de re-escreverem sua história, e de serem chamados "filhos de Deus". Veem na religião uma nova chance. Ao comungarem com o seu Deus, se sentem fortalecidos para enfrentarem sua condição. Pautadas no temor ao divino, as normas de conduta pelo viés religioso, viabilizam para aqueles que tornaram-se "novas criaturas", uma nova perspectiva para seu cotidiano, motivando-os a abster-se dos atos infracionais. Se para alguns teóricos isso se configura como alienação, para os adolescentes em conflito com a lei, é a possibilidade de mudança que está em voga.

CONCLUSÃO:

Com a divisão de classes, apropriação desigual do capital, centralização do poder, a questão social se complexifica, sendo possível influenciadora da inserção dos adolescentes nos atos ilícitos. Contudo, o ideário coletivo tende a culpabilizar o indivíduo sem considerar tais fatores, distanciando do Estado a responsabilidade de intervenção nesta questão. Nesse contexto, a religião assume uma função social, contribuindo para o abandono das angústias que afligem o indivíduo. Assim, os valores religiosos têm influenciado na construção da identidade de diversos públicos, e nas escolhas individuais, propiciando uma leitura crítica da realidade e cultivando perspectivas de superação da questão social. No caso dos adolescentes em conflito com a lei, estes embasam novas perspectivas de futuro, e trazem à tona uma outra face da religião, na maioria das vezes camuflada sob a forma de alienação, como querem alguns intérpretes do assunto: a religião que assume papel relevante na transformação social e individual.

Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES; Projeto de Extensão da Universidade Federal do Ceará - UFC Escola que Protege.

Palavras-chave: Religião, Significados, Adolescentes em Conflito com a Lei.