62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
ESTUDO DA TAXOCENOSE DE LAGARTOS DO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA, SE.
Marcus Vinicius Noronha de Oliveira 1
Renato Gomes Faria 1
1. Universidade Federal de Sergipe
INTRODUÇÃO:
A escassez de dados acerca da fauna do estado de Sergipe tem representado um problema enorme para biólogos, ambientalistas e autoridades ambientais da região. Atividades exploratórias como a agropecuária e mineração, por exemplo, crescem de forma acelerada no Estado e muitas espécies podem desaparecer sem que tenhamos sequer conhecimento da sua existência. O problema se agrava mais ainda quando nos referimos ao grupo de lagartos, os quais, além dos trabalhos disponíveis se restringirem a poucas áreas, enfrentam uma visão cultural preconceituosa, muitos não são bem vistos por boa parte da sociedade que por medo e falta de informação acaba cometendo atrocidades com os mesmos. Pensando nisso, surgiu a necessidade de se fazer um inventário da fauna de lagartos do Parque Nacional Serra de Itabaiana (PNSI), que recebe em média 30.000 visitantes por ano, observando alguns componentes ecológicos como riqueza, abundância e diversidade de espécies, em ambientes diversificados dessa área. Trabalhos como esse são importantes porque podem ajudar na construção de um banco de informações mais conciso para o Estado. Além disso, podem fomentar estratégias conservacionistas mais eficientes na área.
METODOLOGIA:
O estudo foi realizado no PNSI, o qual está localizado a aproximadamente 45 km da capital Aracaju. É formado por um complexo de três serras: Itabaiana, Comprida e Cajueiro, com a maior parte das terras inseridas dentro dos municípios de Itabaiana e Areia Branca. Para captura dos animais foram utilizadas armadilhas de interceptação e queda (pitfall traps). Estas, por sua vez, foram dispostas em três tipos de ambientes, obedecendo a um padrão de abertura do dossel da vegetação (Aberto, Fechado e Intermediário). Para cada um destes padrões fitofisionômicos foram selecionadas duas áreas para o estudo, perfazendo um total de seis ambientes. Em cada ambiente foram adotados 16 baldes (10 de 16L e seis de 8L), totalizando 96 armadilhas. Os baldes foram dispostos de forma quase linear, distantes cinco metros um do outro. As armadilhas permaneceram abertas por um período de um dia e meio, a cada semana, ao longo de um ano. Buscas ativas foram realizadas, por pelo menos um dia inteiro a cada semana, para complementação das informações.
RESULTADOS:
Foram capturados 504 lagartos, pertencentes a sete famílias e 16 espécies: Tropiduridae: Tropidurus hygomi e T. semitaeniatus; Teiidae: Cnemidophorus ocellifer, C. abaetensis, Kentropyx calcarata e Ameiva ameiva; Gymnophtalmidae: Micrablepharus maximiliani, Acratosaura mentalis, Cercosaura ocellata e Dryadosaura nordestina; Scincidae: Mabuya agmosticha e M. heathi; Sphaerodactylidae: Coleodactylus meridionalis; Phyllodactylidae: Bogertia lutzae e Gymnodactylus geckoides; Polychrotidae: Anolis punctatus. Algumas espécies só foram observadas durante as buscas ativas: Iguana iguana, Tupinambis merianae, Anolis fuscoauratus e Hemidactylus mabouia, o que mostra a importância da utilização de mais de um método de amostragem em trabalhos como esse. A espécie com maior abundância no parque foi T. hygomi (58,9% das capturas), apresentando uma preferência por ambientes mais abertos. A área I1 (intermediária) foi a que apresentou maior riqueza de espécies, nove no total. As áreas de mata F1 e F2 foram as que apresentaram os maiores índices de diversidade, H' = 1,61 e H' = 1,49, respectivamente. São fragmentos de Mata Atlântica e que foram bastante antropizados ao longo da história de ocupação do parque. Os remanescentes que restaram conservaram grande diversidade biológica desse ecossistema.
CONCLUSÃO:
A maior parte dos espécimes capturados no PNSI (78%) apresentou uma preferência por ambientes abertos (A1 e A2) e intermediários (I1). Nestes locais, espécies como T. hygomi, C. ocellifer e C. abaetensis encontram condições ideais para a sua sobrevivência, já que são heliófilas e necessitam de uma maior exposição ao sol para realizar seus processos de termorregulação. Fitofisionomias diferentes apresentam índices de diversidade variados. Nas áreas abertas, apesar da alta densidade populacional, a diversidade de espécies mostrou-se muito pequena, contrastando com as áreas florestais. Essas diferenças são explicadas, principalmente, devido a fatores históricos e às ações antrópicas. Por fim, faz-se necessário a elaboração de técnicas de manejo mais eficientes neste local, de modo que seja possível preservar estas espécies, mantendo o seu patrimônio genético, e auxiliando, assim, em estudos futuros.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Palavras-chave: Taxocenose, Lagartos, Parque Nacional Serra de Itabaiana.