62ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 4. Química de Produtos Naturais
BIODISPONIBILIZAÇÃO DE ÓLEO DE Croton cajucara Benth EM NANOSISTEMAS DO TIPO MICROEMULSÃO
Cássia Carvalho de Almeida 1
Luan Silveira Alves de Moura 1
Gilvani Gomes de Carvalho 1
Breno Almeida Soares 1
Maria Aparecida M. Maciel 1
1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte / UFRN
INTRODUÇÃO:

Croton cajucara Benth (Euphorbiaceae) representa um recurso medicinal de grande importância no tratamento de várias doenças (MACIEL et al., 2006). O efeito gastroprotetor e fungicida desta espécie foi correlacionado com os diterpenos do tipo clerodano trans-crotonina (CTN) e trans-desidrocrotonina (DCTN), bem como com o óleo obtido das cascas do caule deste Croton (SOUZA et al., 2006). Nanoformulações do tipo microemulsão são sistemas termodinamicamente estáveis constituídos de tensoativo, óleo e água e vêm sendo utilizadas como veículos de fármacos em função de solubilizar extratos, frações e protótipos de fármacos insolúveis em solventes biológicos (LAWRENCE; REES, 2000). Neste trabalho foram obtidos sistemas do tipo A/O contendo mistura dos tensoativos Tween 80 e Span 20 (3:1), água bidestilada, óleo de Croton cajucara  (O-CC) e miristato de isopropila (IPM). As eficácias dos sistemas obtidos SME-11 e 12 foram avaliadas em função das regiões de microemulsão contendo misturas dos óleos O-CC e IPM. A solubilização de O-CC foi avaliada em um sistema rico em IPM (SME-13), com quantificação via UV-visível. A eficácia de solubilização dos terpenóides bioativos AAA, CTN e DCTN isolados das cascas do caule de Croton cajucara, foi avaliada nestes sistemas.

 

METODOLOGIA:

O material vegetal (cascas do caule de Croton cajucara foram adquiridas em Belém/PA) após extração via percolação em solvente polar (hidroalcoólico), forneceu (via procedimento cromatográfico padrão, MACIEL et al, 1998) o óleo O-CC e os terpenóides AAA, CTN e DCTN. O óleo foi extraído das cinco primeiras frações (eluídas em hexano) e os terpenóides das frações subsequentes (mistura hexano/AcOEt em gradiente de polaridade). Os sistemas microemulsionados (SME-11, 12 e 13) foram obtidos a partir da mistura dos tensoativos Tween 80 e Span 20 (3:1 na variação de percentual 41 - 30% da mistura), água bidestilada como fase aquosa (5 % para todos os sistemas) e misturas de óleo de Croton cajucara  [O-CC (43%)] e miristato de isopropila [IPM (18%)] como fase óleosa para o sistema SME-11; para o SME-12 utilizou-se 34% de O-CC e 18% de IPM. Para o SME-13 (isento de O-CC) utilizou-se 65% de IPM. Para a quantificação do óleo O-CC no sistema microemulsionado SME-13, utilizou-se 7,0mg da massa total deste sistema contendo O-CC (incorporado) e adicionou-se 4,0mL de MeOH. Na sequencia, foram realizadas diluições sucessivas, tendo sido obtidos inicialmente, os comprimentos de onda máximos de absorções para a curva de calibração (com um total de cinco pontos).

RESULTADOS:

O óleo de Croton cajucara provou ser um importante agente medicinal pela comprovação das atividades antiulcerogênica, antiinflamatória e antinociceptiva (SOUZA et al., 2006). Em função da importância terapêutica deste óleo, nanosistemas do tipo A/O foram obtidos objetivando sua biodisponibilização como veículo de fármacos lipofílicos. Para tanto, Os sistemas SME-11 e 12 contendo O-CC como fase óleo em mistura com IPM (3:1 e 2:1, respectivamente), após análise dos diagramas de fases, apresentaram amplas regiões de microemulsão estabilizadas por um filme da mistura dos tensoativos Tween 80 e Span 20 (3:1), localizados na interface óleo/água. A ausência de cotensoativo aumentou a viscosidade destas formulações devido à diminuição de flexibilidade da camada de tensoativo. Os terpenóides AAA (14mg/mL SME), CTN (8mg/mL SME) e DCTN (10mg/mL SME) tiveram sua solubilidade avaliada via estudos de UV-visível [24 h de agitação (28 ± 1°C), centrifugação (2800 rpm, 10 min) e diluição em metanol para a amostra e para o branco] com percentual de incorporação satisfatório para biodisponibilização destes terpenóides. Adicionalmente, o óleo O-CC foi incorporado no sistema SME-13 (rico em IPM, 65%) com rendimento quantitativo (88,5%).

CONCLUSÃO:

A estabilidade da camada rica na mistura de tensoativos das formulações SME-11, 12 e 13, deve-se ao efeito sinérgico entre um tensoativo hidrofílico (Tween 80) e um lipofílico (Span 20), possibilitando o uso destas formulações isentas de cotensoativo, para solubilizar extratos, frações e substâncias naturais isoladas de material vegetal proveniente de espécies medicinais. Apesar da baixa polaridade do óleo O-CC e da polaridade mediana/baixa dos terpenóides AAA, CTN e DCTN, obteve-se bons rendimentos de solubilidade nas nanoformulações obtidas (tipo A/O, ricas em fase óleo), que geralmente, vem sendo indicadas para liberação transdérmica de fármacos (OLIVEIRA et al., 2004; GOMES et al., 2006). Neste contexto, estaremos em trabalhos futuros, ampliando os estudos fitofarmacológicos de Croton cajucara pelas avaliações das eficácias terapêuticas de O-CC [que é rico em sesquiterpenos e clerodanos (identificados via CG-EM, SOUZA et al., 2006)] e dos terpenóides AAA, CTN e DCTN, com possibilidades de ganhos significativos na relação dose administrada/resposta biológica, bem como de riscos toxicológicos, já que os sistemas biocompatíveis SME-11, 12 e 13 não possuem na sua formulação cotensoativo (etanol é geralmente, um dos mais utilizados).

Palavras-chave: Microemulsão, Encapsulamento, Croton Cajucara Benth..