62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial
O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE UM ALUNO AUTISTA A PARTIR DA IMPLEMENTAÇÃO DO CURRÍCULO FUNCIONAL NATURAL (CFN)
Mariana Queiroz Orrico de Azevedo 1
Janielle Gomes Freire Costa 1
Débora Regina de Paula Nunes 1
1. Departamento de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
INTRODUÇÃO:

O autismo é um tipo de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID) caracterizado por atrasos e desvios nas áreas de comunicação, interação social e manifestação de comportamentos restritos e repetitivos. A Política Nacional de Educação Especial assegura, através do atendimento educacional especializado, o desenvolvimento da autonomia e independência do aluno com TID na escola e fora dela. O Currículo Funcional Natural (CFN) apresenta-se como um instrumento promissor que poderia favorecer a inclusão de alunos com autismo em classes regulares, pois se trata de uma filosofia de educação que vê o sujeito autista como pessoa e, por isso, apresenta necessidades, interesses e habilidades comunicativas, comportamentais, sensoriais, cognitivas e interpessoais imprescindíveis para o seu processo de ensino-aprendizagem. O objetivo geral do presente estudo foi avaliar o desempenho acadêmico e funcional de um aluno com autismo, inserido em uma classe regular, a partir do desenvolvimento do CFN. Assim, a pesquisa torna-se relevante, pois há poucos estudos empíricos que abordam a inclusão de alunos com TID em salas regulares, ou seja, pesquisas que procurem analisar o desempenho desses alunos em habilidades acadêmicas e sociais num ambiente inclusivo.

METODOLOGIA:

O trabalho foi desenvolvido numa escola particular de ensino regular, em Natal-RN, e contou com a participação de Nemo, um aluno com autismo que tinha 9 anos de idade, matriculado no 2º ano do Ensino Fundamental. O estudo realizado caracteriza-se como uma pesquisa quase experimental, onde foi utilizado um delineamento do tipo A-B (linha de base e tratamento). Durante a linha de base foram coletadas, a partir de observações diretas e registro no diário de campo, os níveis de interesse e habilidade do aluno em atividades de vida diária, prática e acadêmicas funcionais, por um período que variou de 1 a 2 meses. Após as sessões de linha de base foi elaborado um CFN individualizado, trabalhado em grupo e em ambientes contextualizados. Em seguida, iniciou-se a intervenção em que foram aplicados os procedimentos de ensino do CFN (auxílio físico, auxílio verbal, supervisão e independência); os procedimentos do TEACCH; as Estratégias naturalísticas de ensino e recursos da Comunicação Alternativa e Ampliada. O aluno foi avaliado a cada 3 meses através de relatórios que registravam os níveis de desempenho e interesse através do apoio necessário em circunstâncias reais (sociais e acadêmicas).

RESULTADOS:

A inclusão de alunos com autismo em escolas regulares tem suscitado debates amplos devido às características cognitivas, sociais e comportamentais dessa população. Há divergências entre a visão de que a classe regular seria uma alternativa eficaz para atender as necessidades cognitivas e interpessoais (autonomia, autocuidados, interação social) desse alunado. Assim, é questionado se a escola regular seria capaz de adequadamente adaptar seu currículo, modificando os objetivos conteúdos, metodologias, organização didática e as estratégias de avaliação utilizadas com educandos que apresentam necessidades educativas especiais. Os resultados mostram que o aluno, ao utilizar o Currículo Funcional Natural, foi capaz de obter ganhos no desempenho de habilidades acadêmicas e funcionais; desenvolver competências essenciais para adaptação em ambientes naturais; utilizar o sistema de Comunicação Alternativa e Ampliada para solicitar a ida ao banheiro, beber água; ampliar as respostas sociais não verbais (sorrisos, contato físico e visual); realizar atividades da vida diária de forma independente e generalizar suas respostas para outros contextos e situações. Dessa maneira, o CFN adapta-se funcionalmente ao currículo tradicional a partir da elaboração de objetivos educacionais funcionais.

CONCLUSÃO:

O estudo realizado pode desmistificar a visão que alguns profissionais têm, de que alunos com autismo não possam ser educados em ambientes regulares. Através de adaptações curriculares viabilizada pelos recursos do CFN o aluno obteve um grande desempenho no desenvolvimento de habilidades sociais, acadêmicas, comportamentais, comunicativas e cognitivas, em contexto escolar e não escolar.  Neste contexto, é de grande importância que os profissionais da educação tenham como filosofia: "Tratar como pessoa e educar para a vida".

Palavras-chave: Autismo, Educação Inclusiva, Adaptação curricular.