62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
SLAVOJ ZIZEK E O "ANÃO" BENJAMINIANO
Rafael Venturini Trindade 1
1. Universidade Federal do Espírito Santo
INTRODUÇÃO:

O filósofo esloveno Slavoj Zizek tem se destacado nas últimas duas décadas como uma das principais vozes do pensamento político de esquerda e também na análise cultural. Herdeiro da dialética hegeliana e da psicanálise de Lacan, Zizek retoma e atualiza o legado da Escola de Frankfurt (Walter Benjamin, Adorno e Marcuse), dialogando também com o marxismo. Sua perspectiva se aproxima de uma Teoria Social em que a crítica é, ela mesma, a categoria fundamental. O presente artigo aborda essa filosofia negativa no escopo de seu projeto político próprio, atentando para a relação que estabelece com o pensamento de Benjamin. A partir destes apontamentos efetua-se em prelúdio a avaliação das possibilidades teóricas e práticas das ideias de Zizek para a compreensão dos paradoxos da razão na contemporaneidade.

METODOLOGIA:

Leitura comparada de obras de Benjamin ("Pasta N" in "Passagens", Belo Horizonte: UFMG, 2006; o fragmento "Kapitalismus aus Religion" in Fragmente Autobiographische Schriften, Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1991 - Tomo VI das Obras Completas; as teses "Sobre o conceito de história" in LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de incêndio: uma leitura das teses, São Paulo: Boitempo, 2005) e Zizek ("Bem vindo ao deserto do Real!", São Paulo: Boitempo, 2003; "Hegel - Chesterton: German Idealism and Christianity" in "Lacan.com"; e "Roda Viva com Slavoj Zizek", entrevista gravada pela TV Brasil em 15/10/08). Em seguida, aprofunda-se a análise do pensamento Zizek recorrendo à suas fontes, como a "Ortodoxia", de G.K. Chesterton.

RESULTADOS:

Como Benjamin, Zizek evoca um ato revolucionário sustentado sobre a necessidade histórica de impedir que a civilização, pelas contradições imanentes ao Progresso, caminhe para uma catástrofe fatal. Para o autor, os antagonismos sociais, econômicos, ecológicos e políticos insinuam um futuro de destruições ainda maiores na natureza e o acirramento da divisão de classes nas "democracias liberais". Essa suspensão no devir seria, sobretudo, a consecução da "aposta histórica" (uma visão materialista da Aposta de Pascal) dos movimentos sociais anticapitalistas. Compreendido como a "intervenção da eternidade do tempo", tal ato seria autoreferente: "o ato em si há de criar as condições para sua própria legitimação 'democrática' retroativa" (2003, p. 176). Essa talvez seja a tônica particular de seu pensamento, uma tentativa de resgatar certa categoria "universal" que legitime a violência do processo de revolução. Portanto, ao declarar que hoje somos vítimas "de nossa própria lassidão e fraqueza moral, da perda de valores claros e de compromissos firmes, do espírito de dedicação e sacrifício..." (Idem, p. 177), o autor está, na verdade, propondo a reconstrução de uma "ortodoxia".

CONCLUSÃO:

A instância teológica e messiânica que permeia o pensamento de Zizek e Benjamin corporifica-se no símbolo da "interrupção" do tempo histórico - necessidade de destruição de uma ordem catastrófica pela preservação das possibilidades de salvação verdadeira. Escreve o principal pesquisador brasileiro da obra de Zizek: "[...] tomar consciência da fé é necessariamente destruir a imediaticidade da crença, já que toda verdadeira crença não passa de uma aposta" (SAFATLE, Vladimir. "Cinismo e falência da crítica". São Paulo: Boitempo, 2008, p. 30). Assim, ao gosto da dialética, a "aposta histórica" é simbolicamente invocada sob o estatuto de "crença verdadeira", em outros termos, ortodoxia consciente. Ou seja, diante da absoluta indeterminação normativa que a Modernidade apresenta no momento atual, em que a própria razão parece descrer-se, Zizek quer ressuscitar o "absoluto" - o dogma - e tem de tomar a seu serviço o "anão" benjaminiano como a única possibilidade de reconstrução legítima do projeto racionalista moderno de crítica à ideologia e emancipação.

Instituição de Fomento: Programa de Educação Tutorial (PET) / SESu - MEC / CAPES
Palavras-chave: Slavoj Zizek , Marxismo, Teologia.