62ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 6. Geoquímica
O PAPEL DO MANGUE DE FRANJA NA RETENÇÃO DE MATERIAL PARTICULADO EM SUSPENSÃO (MPS) NO NORDESTE SEMI-ÁRIDO DO BRASIL.
Louize Viveiro da Fonseca 1
Rozane Valente Marins 1
Luiz Drude de Lacerda 1
1. Laboratório de Biogeoquímica Costeira - Labomar/UFC
INTRODUÇÃO:
A aquicultura do camarão vem se desenvolvendo recentemente no Brasil e tem aumentado cerca de 20% na última década na costa do semi-árido nordestino, devido ao ótimo cenário ambiental e climático. O material particulado em suspensão (MPS) encontrado nos estuários possui funções como: controle da reatividade, transporte e impacto biológico de substâncias no ambiente aquático, agindo como ligante fundamental para os constituintes químicos presentes na coluna d'água, no sedimento de fundo e na cadeia alimentar. A qualidade do MPS permite prognosticar sobre a qualidade do ambiente quando este é relacionado às variáveis hidrológicas e às características da bacia de drenagem, estimando as cargas e balanços de massa do sistema fluvial estudado. Os manguezais possuem uma elevada capacidade de retenção de materiais, capaz de minimizar o impacto dos efluentes antrópicos e avaliar se esta capacidade pode ser distinguida entre áreas de reconhecida contaminação e áreas com características naturais. A observação do comportamento do balanço de MPS em duas gamboas de mangue pertencentes a dois rios distintos, o rio Jaguaribe, com área de cerca de 1400 ha de carcinicultura e o rio Pacoti, que é legalmente protegido, no estado do Ceará, nordeste do Brasil, foram o objeto de estudo deste trabalho.
METODOLOGIA:
O ponto de coleta do Rio Jaguaribe localiza-se em um canal secundário do rio, de coordenadas 4º30'51'' S e 37º46'55'' W. As campanhas foram realizadas em 31/08/07 e 13/11/08. O ponto de coleta do rio Pacoti está localizado na foz, com coordenadas 3º50'3''S 38º25'11''W. A campanha foi realizada em 19/08/08. As amostras foram coletadas com garrafa van Dorn em subsuperfície, no meio da gamboa e em triplicata e armazenadas em garrafas de plástico de 1L. Após coleta, foram enviadas para análise e o MPS foi determinado por medida gravimétrica. Os dados de área e vazão foram calculados in situ e a estimativa do fluxo instantâneo de um ciclo de maré (13h) foi obtida pela multiplicação entre a concentração do MPS em cada amostra e a descarga instantânea. A descarga instantânea foi calculada multiplicando-se a velocidade da corrente de água pela área inundada da gamboa. Os fluxos foram considerados positivos na maré enchente e negativos na maré vazante e a soma dos fluxos positivos resultou no fluxo total de entrada e a soma dos fluxos negativos resultou no fluxo total de saída para cada campanha. A diferença entre a entrada e saída resultou no material que ficou retido no sedimento quando o resultado foi positivo, ou que foi exportado para áreas adjacentes, quando negativo.
RESULTADOS:
As concentrações do MPS apresentaram teores variando entre 23,1 a 172,9 mg.L-1 para as campanhas realizadas no rio Jaguaribe, e variaram entre 23,5 e 97,7 mg.L-1 na campanha do rio Pacoti. Para o fluxo de MPS (Flx MPS), os valores obtidos variaram de 0 a 836,5 g.s-1 nas campanhas do rio Jaguaribe e os valores variaram de 0 a 36,4 g.s-1 no rio Pacoti. Os fluxos apresentaram valores iguais a zero quando ocorreu o estofo de maré, período em que a maré enchente atinge o nível máximo e passa para o estado de maré vazante, e em que o sentido da maré se inverte. O balanço do MPS mostrou o manguezal como sorvedouro de partículas, pois foi observada retenção de MPS em todas as campanhas. Na primeira campanha no Jaguaribe o MPS apresentou uma entrada de 706 kg.h-1 onde 385 Kg.h-1 (55%) ficaram retidos na gamboa e 322 Kg.h-1 (45%) foram exportados para as áreas adjacentes. Na segunda campanha o MPS apresentou uma entrada de 4980 Kg.h-1 dos quais 1417 Kg.h-1 (28%) ficaram retidos no mangue e 3563 Kg.h-1 (72%) foram liberados. Na campanha do rio Pacoti, observou-se que a gamboa atuou como um grande retentor de materiais, pois 2,0x102 Kg.h-1 entraram na gamboa, 1,9x102 Kg.h-1 (95%) foram retidos de alguma forma pelo manguezal e 9,7x10-2 Kg.h-1 (5%) foram liberados.
CONCLUSÃO:
Os teores de MPS se mostraram maiores para a gamboa do rio Jaguaribe, em comparação com o a gamboa do rio Pacoti. As estimativas de balanço de massa mostraram que ambas as gamboas possuem uma capacidade de retenção sobre os teores de MPS corroborando com a hipótese gerada por este trabalho. A capacidade de retenção da gamboa do rio Jaguaribe variou entre 28% e 55% para o MPS. Por outro lado, quando avaliada a retenção na gamboa do rio Pacoti, esta capacidade foi de 95% para o MPS. Estes dados mostram que a capacidade de mobilizar as substâncias na gamboa do rio Jaguaribe se encontra diminuída em comparação com os resultados encontrados para a gamboa do rio Pacoti, e evidenciam que os processos biogeoquímicos que ocorrem na área de estudo do rio Pacoti se encontram em equilíbrio e que o grau de alteração de degradação da área ainda é baixo, diferentemente do que acontece na gamboa do rio Jaguaribe, que mostrou menor capacidade de retenção.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, Universidade Federal do Ceará e Instituto do Milênio - Estuários.
Palavras-chave: Manguezal, Balanço de massa, Material particulado em suspensão.