62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 4. Jornalismo e Editoração
A TEMÁTICA AMBIENTAL NAS MANCHETES DOS JORNAIS: A INTENSIFICAÇÃO E A SUPERFICIALIDADE DA COBERTURA JORNALÍSTICA NOS ÚLTIMOS ANOS
Luciana Miranda Costa 1
1. Faculdade de Comunicação, Universidade Federal do Pará /UFPA
INTRODUÇÃO:

Este artigo, que faz parte de uma pesquisa mais ampla financiada pelo CNPq, trata da intensificação da temática ambiental no noticiário da grande imprensa no período 2002-2006, com ênfase para os principais jornais do país. O objetivo foi analisar, tendo como recorte principal a temática dos desmatamentos e incêndios florestais na Amazônia, como se estruturou o discurso dos jornais impressos sobre o tema, quando este se tornou mais constante nas publicações. Além disso, buscou-se analisar como os diferentes sentidos produzidos pelas matérias jornalísticas foram construídos a partir das "fontes" de informação dos jornais. Em última instância, a pesquisa procurou ainda contribuir na reflexão e elaboração de políticas públicas sobre a temática ambiental, considerando que os jornais são um dos principais veículos de informação e formação do senso comum na contemporaneidade.

METODOLOGIA:

A base principal de dados foi obtida através de levantamento na Internet em 2006 e 2007. Tratou-se, no caso específico deste artigo, da seleção, sistematização, comparação e análise de cerca de 800 reportagens publicadas nos principais jornais brasileiros (FSP, OESP, Correio Braziliense, Jornal do Brasil, o Globo, O Diário do Pará e o Liberal), no período que cobriu os anos 2002-2006, coletados nos sites dos veículos mencionados. O período escolhido deveu-se ao incremento do número de matérias jornalísticas publicadas em relação aos anos anteriores. O recorte principal voltou-se à temática dos desmatamentos e incêndios florestais na Amazônia. O instrumental teórico de análise, ancorado na Semiologia dos Discursos Sociais, esteve atrelado à premissa de que as relações de comunicação, analisadas através do discurso jornalístico, são relações de poder. O discurso é a principal arena na qual os diferentes capitais dos agentes, transfigurados em capital simbólico, lutam pela hegemonia de modos definir o mundo e de representá-lo. Por meio da análise do discurso jornalístico e de suas fontes de informação, foi possível apreender a construção de sentidos sobre meio ambiente realizada e veiculada pelos jornais estudados. Participaram da pesquisa, a coordenadora e uma bolsista.

RESULTADOS:

A análise das 800 matérias jornalísticas on line veiculadas sobre desmatamento e queimadas na Amazônia pelos principais jornais do país e do Pará (Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo, O Globo, Correio Braziliense, O Liberal e O Diário do Pará), durante o período 2002-2006, tendo como referencial teórico/metodológico a "Semiologia dos Discursos Sociais", permite afirmar que os textos jornalísticos que trataram da temática nos últimos anos, ocuparam mais espaço nas páginas dos jornais, com um melhor aprofundamento na apuração das informações e uma diversidade mais significativa das vozes presentes no discurso jornalístico. No entanto, os grupos economicamente mais desfavorecidos (agricultores familiares e índios) continuam a aparecer, de modo geral, de forma secundária nas reportagens, não se constituindo nas principais fontes de informação dos jornalistas. Consequentemente, a visão ambiental destes grupos e sua maneira de compreender e interagir com a temática não se constituem em elemento relevante ou de destaque nos textos analisados. Os jornais reproduzem e reforçam, desta forma, as relações desiguais de força existentes entre os grupos sociais envolvidos.

CONCLUSÃO:

Os órgãos governamentais, as ongs, as universidades e as instituições de pesquisa foram fontes constantes de informações para os jornalistas durante os anos analisados. Os órgãos representativos do setor madeireiro também ganharam mais espaço e "voz" nas páginas dos jornais, indicado um maior peso político do setor e uma atuação mais ativa de suas assessorias de imprensa. Esta tendência, provavelmente se manterá pelos próximos anos, pois se trata das vozes detentoras do conhecimento específico sobre a temática ambiental ou que dispõem de maior poder econômico. Os agricultores familiares, índios e seus respectivos órgãos de representação apareceram de "forma secundária" nas matérias. A disputa discursiva constatada nas reportagens e artigos analisados, principalmente no discurso jornalístico local, trouxe mais uma vez à tona o clássico debate preservação ambiental x desenvolvimento econômico. No entanto, a maioria dos textos se limitou a apresentar as versões diferenciadas dos fatos (empresas versus ongs ou governo versus empresas madeireiras), usando aspas e citando as respectivas instituições envolvidas, mas sem apresentar ao leitor um aprofundamento das causas e conseqüências desta "dicotomia" histórica para as diversas áreas envolvidas: social, ambiental, econômica e cultural.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Comunicação Ambiental, Amazônia, Discurso jornalístico.