62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 2. Biologia - 1. Biologia da Conservação
ANFÍBIOS COMO BIOINDICADORES DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DE FRAGMENTOS DE MATA ATLÂNTICA NO ESTADO DE SERGIPE.
Dayvisson Nunes Costa 1
Edilaine Ferreira Bispo da Cunha 1
José Aldair Alves 1
Kelly Gardênia dos Anjos Santana 1
Eduardo José dos Reis Dias 1
1. Departamento de Biociências, Universidade Federal de Sergipe/UFS
INTRODUÇÃO:

A Mata Atlântica é um domínio que engloba áreas com elevada biodiversidade de espécies e elevado endemismo. No entanto, esse domínio vem sofrendo intensas ações antrópicas levando a uma erosão na diversidade biológica. Esse domínio abriga diversas comunidades biológicas, resultado das intrincadas relações as espécies componentes e as características ambientais (Gascon, 1991). Nessas comunidades os anfíbios são muito importantes por possuírem ampla distribuição e potencialmente poder servir como espécies-chave para avaliar as mudanças no ambiente. Esses animais apresentam forte sensibilidade as alterações de parâmetros físicos e químicos da água e são também sensíveis as alterações na estrutura da vegetação nas vizinhanças dos corpos d'água (Silvano e Pimenta, 2003), por isso podem ser utilizados como bioindicadores para avaliações ecológicas (Vitt et al., 1990; Hayer et al., 1994). Esse trabalho foi realizado em um fragmento de Mata Atlântica no Estado de Sergipe e tem como objetivos: 1) Avaliar a diversidade e abundância das espécies de anfíbios anuros; 2) Analisar as variações nas características estruturais do ambiente em um fragmento de Mata Atlântica e; 3) Identificar espécies de anuros como bioindicadores de qualidade ambiental.

METODOLOGIA:

O presente trabalho foi realizado num fragmento de Mata Atlântica em Água-Branca (10°43'36" S e 37°19'43" O e altitude média de 125m), município de Areia Branca-SE. As coletas de anfíbios foram realizadas no período de 13 á 18 de Janeiro de 2010.  Foram feitas coletas manuais de forma ativa durante o período da noite, com auxílio de lanternas. A estratégia utilizada para captura foi à observação de sítios de vocalização. No trajeto percorrido foram escolhidos pontos ao acaso de acordo com os sinais emitidos pelos anfíbios. Todos os animais capturados foram pesados (Pesola, precisão de 0,1g) e, em seguida foram feitas as seguintes medidas relativas ao ambiente: hora de coleta, temperatura do ar e do substrato e umidade relativa do ar. Parte dos animais coletados foram fixados em formalina a 10%, para registro de coleta. Adicionalmente, foi feita a análise das características da heterogeneidade ambiental. Durante o dia elegeu-se aleatoriamente um transecto desde a área de restinga até a mata. A cada 100m foram determinadas linhas perpendiculares para registro da umidade relativa do ar, da temperatura do ar e da luminosidade.

RESULTADOS:

No fragmento de Mata Atlântica estudado foram encontradas sete espécies de anuros pertencentes a quatro famílias: Cycloramphidae (Proceratophrys cf. laticeps), Brachycephalidae (Eleutherodactylus ramagii), Leptodactylidae (Leptodactylus ocellatus), Hylidae (Phylodytes luteolus, Dendropsophus minutus, Hypsiboas albomarginatus e Scinax x-signata). Phylodytes luteolus foi a única espécie coletada em restinga. Hypsiboas albomarginatus foi a espécie mais abundante com 50% do total dos espécimes coletados. Esta espécie foi coletada em água, arbustos e arvores. Os microhabitats onde os anuros foram coletados apresentaram médias de temperatura (28,4°C) e umidade relativa do (75,8%) com valores acima do esperado para fragmentos de Mata Atlântica na região Nordeste (Moura, 2006). A análise da heterogeneidade do ambiente mostrou que a restinga e a mata não diferiram significativamente quanto aos valores de temperatura e umidade relativa do ar (Test  t = 0,662, df = 6, p = 0, 532  e Test t = - 1,912; df = 6; p = 0,104, respectivamente). Entretanto houve diferença quanto aos valores de luminosidade Test t = 2,586; df = 6; p = 0,041). Estes dados mostram que este fragmento de mata apresentou um déficit hídrico e um alto índice de luminosidade no período da coleta.

CONCLUSÃO:

O fragmento de Água Branca apresentou valores de temperatura e luminosidade o que pode indicar um alto grau de fragmentação desta região e consequentemente alterações nos padrões hídricos e de umidade relativa do ar. Esses fatores podem ter inibido a ocorrências de anfíbios especialistas, mais sensíveis as alterações ambientais (Silvano e Pimenta, 2003).  No entanto, as espécies generalistas como Hypsiboas albomarginatus (Santos, et al., 2004) sofrem menos sob estas condições. Esse hilídeo tem alta resiliência, por isso pode ser mais resistente as alterações ocorridas no ambiente o que pode explicar o sucesso dessa espécie nestas condições de estresse hídrico e seu uso como espécie bioindicadora de ambientes degradados. Entretanto é necessário um estudo da sazonalidade climática para avaliar os seus efeitos na composição da taxocenose de anuros neste fragmento de Mata Atlântica no Estado de Sergipe.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Anfíbios, Mata Atlântica, Bioindicadores.