62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
PERCEPÇÕES E USOS DOS RECURSOS NATURAIS POR UMA COMUNIDADE RURAL DO ENTORNO DE UMA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NO NORDESTE BRASILEIRO
Mycarla Míria Araujo de Lucena 1
Eliza Maria Xavier Freire 1, 2
1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN
2. Depto. de Botânica, Ecologia e Zoologia/ UFRN
INTRODUÇÃO:
O mundo vem enfrentando um acelerado processo de ocupação dos ambientes naturais, que têm sido drasticamente modificados pelas diferentes culturas habitantes da Terra. Esta degradação ambiental decorre, principalmente, do modelo de desenvolvimento econômico pós-revolução industrial, calcado na utilização ilimitada dos recursos naturais. Nesse contexto, encontra-se a região do Seridó Potiguar, no Estado do Rio Grande do Norte, conhecida pelo histórico de uma região ocupada por atividades econômicas que degradam os recursos naturais, inibindo a sua conservação. Inserida no Bioma Caatinga, que compreende uma área de 735.000 km² no semiárido brasileiro, é o bioma com o mais reduzido número de Unidades de Conservação (UC) de proteção integral. Mas a simples carência de UC's não justifica a ausência de conservação da biodiversidade, pois a implementação de novas áreas de conservação, por si, não tem propiciado os resultados esperados; pois, deve ser considerada a relação homem - natureza. A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Stoessel de Brito, constituiu parte deste estudo que teve como objetivos analisar as percepções e usos da comunidade do entorno dessa RPPN para conhecer os significados e atitudes que regem as relações estabelecidas pela comunidade com esta UC.
METODOLOGIA:
Inicialmente foram realizados estudos exploratórios sobre a comunidade de Laginhas através de visitas a campo, para subsidiar a elaboração dos formulários a serem aplicados. Foram pré-definidos os informantes da comunidade dentre aqueles com idade superior a 18 anos, especialmente os mais idosos e com tempo de moradia na comunidade acima de 10 anos (CUNHA et. al., 2007); apenas uma pessoa por família foi entrevistada. De 12 de janeiro a 04 de fevereiro de 2009, foram aplicados os formulários a 90 pessoas, dentre as 434 da comunidade, o que corresponde a cerca de 87% dos domicílios ocupados (n= 104). Foram utilizadas a observação direta e a interrogação, sugeridas por Whyte (1977), por meio da aplicação de formulários. Com o auxílio destas técnicas utilizaram-se três dimensões de variáveis de pesquisa adaptados de Whyte (op. cit.) para conhecer a PA dos moradores da comunidade de Laginhas/RN: Variáveis de Estado (características dos sujeitos), Variáveis de Saída (escolha dos usos como formas de preservação e nível de conhecimento sobre a RPPN) e Processos de Percepção (percepção do significado, identidade e atitudes). Após a análise da PA, foi utilizada a técnica de Análise de Conteúdo (Bardin, 2004), para avaliar as falas dos entrevistados.
RESULTADOS:
A maioria dos entrevistados foi do sexo feminino (77%), cuja idade variou de 18 a 77 anos, com média de 44 anos. O sexo masculino variou de 22 a 80 anos, com média de 55 anos. O maior tempo de moradia foi de 77 anos. Quanto à escolaridade, a maioria (33%) possui o ensino fundamental I incompleto; 11% possuem o ensino médio concluído e apenas 4% são analfabetas, entre outros. A comunidade já visitou mais de três vezes a reserva (43%). Quando ao objetivo dessas visitas, 43% responderam que a visita foi só para passear. Os moradores disseram achar importante a preservação dos animais e plantas da RPPN (92%). Quanto ao conhecimento dos animais e plantas existentes nessa RPPN, 30% responderam que conhecem os animais da reserva e 70% não; 29% conhecem as plantas e 71% não conhecem. Para 48% dos entrevistados a reserva tem algum significado; para 46% não significa nada; 6% afirmaram ser melhor sem a reserva. Quanto ao conhecimento sobre a existência de alguma RPPN na região, 37% sabem que existe; 63% desconhecem. A RPPN Stoessel de Britto, 68% conhecem, e 32% desconhecem. Os que dizem não conhecer, sabem por outros nomes (57%). Com base nas falas dos moradores, 92% têm uma relação positiva com a RPPN e com a proprietária; apenas uma pequena parte demonstra relação negativa.
CONCLUSÃO:
A maioria dos moradores percebe esta RPPN como uma área de proibições e legalizada pelo IBAMA ou pela própria proprietária. A falta de investimentos e de apoio são considerados os grandes empecilhos para a proteção dessa RPPN e para o desenvolvimento local. A ausência de um Plano de Manejo para a Reserva pode ser um dos fatores responsáveis pelos impactos socioambientais. Além disso, há a deficiência na funcionalidade para a visitação turística e educativa, segundo os entrevistados.
Instituição de Fomento: Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico/ DAAD
Palavras-chave: Unidade de Conservação, Participação social, Preservação.