62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento
PREFERÊNCIA DE COLORAÇÃO AMBIENTAL DO PEIXE PAULISTINHA, Danio rerio  
Diana Marques Martins Chacon 1
Thiago Brandão de Assis 1
Alexandre de Oliveira Marques 2
Ana Carolina Luchiari 1
1. Depto. de Fisiologia e Patologia, UFPB
2. Depto. de Ciências Animais, UFERSA
INTRODUÇÃO:

 

Os peixes podem ser influenciados por diversos fatores, tanto bióticos, quanto abióticos, tais como temperatura, pH, interações sociais, coloração do ambiente e etc. A coloração do ambiente é um dos fatores abióticos menos estudados, porém com grande potencial de afetar aspectos fisiológicos de peixes, já que estes animais possuem substrato para a percepção de cores. Alguns estudos de nosso laboratório já têm mostrado a influencia de cores do ambiente no crescimento, sobrevivência, reprodução e respostas de estresse em peixes.

O peixe paulistinha (Danio rerio) é um animal gregário de fácil manutenção em aquários e tem sido bastante estudado em testes de memória e aprendizado. Este peixe é muito requerido para testes genéticos e sua biologia já foi bastante estudada.

O objetivo do presente trabalho foi verificar a preferência da coloração ambiental no peixe paulistinha, visando a aplicação deste conhecimento para melhorar o ambiente de cultivo do animal e estudar os efeitos das cores de preferência em outros aspectos da biologia deste peixe.
METODOLOGIA:

 

A preferência foi testada em tanques circulares de 50 cm de diâmetro divididos em 4 compartimentos com uma passagem central que permitia ao peixe livre acesso entre os compartimentos. Os compartimentos foram cobertos com papel gelatina azul, verde, amarelo e vermelho, e iluminados com luz fluorescente a cerca de 50 lx, n=6 (0,59 ± 0,13 g). Os tanques foram abastecidas com 5 L de água doce, sendo mantidas constante a temperatura, o oxigênio dissolvido e o fotoperíodo (27ºC, 8 mg/L e 12L:12E). Durante o experimento os animais não receberam alimentação para não haver interferência na escolha entre os compartimentos.

Os peixes foram observados individualmente por 5 dias às 8, 11, 14 e 17 h, quanto à freqüência de visitação nos compartimentos. Em cada período de observação, foi registrado o local de localização do peixe a cada 2 min, por 20 min. No primeiro e último dias, a preferência foi testada sem coloração nos compartimentos (controle).

Os dados foram agrupados diariamente e analisados estatisticamente pelo teste de Friedman (α=0,05), seguido de teste de Student Newman-Kuels.
RESULTADOS:

 

Durante o primeiro dia de experimento, os paulistinhas mostraram distribuição semelhante entre os compartimentos (Friedman, p=0,219) No segundo dia, em que foram submetidos às diferentes colorações ambientais, os peixes mostraram maior visitação nos ambientes azul e verde (Friedman, p= p=0,01), e aumentaram a freqüência de visitação no compartimento verde no dia 3, em comparação aos outros ambientes (Friedman, p=0,02). No dia 4, os peixes voltaram a visitar com maior freqüência os ambientes azul e verde (Friedman, p=0,001). No último dia de teste, sem a presença de cores nos compartimentos, assim como no primeiro dia, os paulistinhas não apresentaram preferência pelos compartimentos (Friedman, p=0,183).

Estes resultados indicam que o peixe paulistinha tem preferência pelas colorações ambientais com comprimento de ondas mais curtos, como o azul e o verde. O animal evita permanecer em locais onde a luz oferece comprimento de onda mais longos, com coloração amarela e vermelha. A preferência parece estar relacionada ao ambiente natural onde o animal evoluiu (partes mais superficiais da coluna d'água) e à presença de cones de variada absorbância máxima na retina.

 

 

CONCLUSÃO:

 

Devido ao comportamento desses animais de natação nas regiões mais superficiais da coluna d'água, a maior acuidade visual pode ser conseguida pela presença de cones azuis e verdes distribuídos na retina. A preferência pode ser relacionada à condição que confere maior conforto visual aos peixes, para que possam localizar com maior facilidade a presença de alimento, coespecíficos e predadores, por exemplo.

O ambiente preferido ou evitado pelo animal deve estar relacionado à condição que proporciona maior bem estar ao animal. Assim, podemos concluir que o fato do peixe paulistinha preferir ambientes de comprimento curto de luz deve proporcionar bem estar e favorecer o desempenho do animal. Em futuros estudos, utilizaremos a coloração de preferência para entender o comportamento do peixe paulistinha em termos de memória e crescimento.

Palavras-chave: Peixe paulistinha, Danio rerio, Preferência de coloração.