62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística
A RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA EM RELATÓRIOS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
Angélica Ferreira da Fonsêca 1
Maria das Graças Soares Rodrigues 2
1. Departamento de Letras / UFRN.
2. Profa. Dra./ Orientadora - Departamento de Letras, UFRN.
INTRODUÇÃO:

Este trabalho se circunscreve no âmbito da Linguística Textual e da Teoria da Enunciação. Para realizá-lo, estabelecemos como objetivos identificar, descrever e analisar como é materializada a responsabilidade enunciativa em relatórios de Iniciação Científica (IC), tendo em vista que é instigante a observância de como os discentes assumem ou não a autoria do que dizem, ao produzirem o relatório final de IC.  Seguiremos Adam (2008) para tratarmos os enunciados, entendendo que o sujeito é capaz de assumir diferentes vozes, a fim de construir uma orientação argumentativa. Para tanto, vai, além dos elementos linguísticos. No nosso caso, não pretendemos desvendar os pontos de vista (PdV) de cada locutor, mas compreender como se comportam sujeitos de diferentes áreas do conhecimento, já que analisaremos relatórios das seguintes áreas: humanas, tecnológica e biomédica. 

METODOLOGIA:

Para efetivação desta pesquisa qualitativa de natureza interpretativista seguimos método indutivo, ou seja, partimos das ocorrências para as generalizações. Nesta direção, caracterizamos com marcas linguísticas, como um discurso é assumido ou não pelo enunciador. Posteriormente, identificamos quando o enunciador, ao invés de assumir a responsabilidade pelo enunciado, usou estratégias linguísticas que configuravam uma voz anônima, assim como, remeteu a fontes do saber (mediação epistêmica e mediação perceptiva), locutor narrador e locutor narrador enunciador. Esta última categoria é atribuída devido às marcas linguísticas que materializavam o posicionamento do locutor de maneira mais efetiva, através de índices de pessoas; tempos verbais; modalidades objetivas, subjetivas, intersubjetivas; verbos e advérbios de opinião, bem como lexemas afetivos, avaliativos e axiológicos. O corpus se constituía de 24 relatórios de IC, sendo quatro referentes à área de humanas, dez à área de tecnológica e dez à biomédica. Tendo em vista, quantidades diferentes de relatórios por área; equiparamos as disparidades entre as quantidades, apresentando os resultados em forma de porcentagem.  

RESULTADOS:

Os resultados surpreenderam nossas expectativas, pois revelam que os discentes das três áreas analisadas assumem as informações veiculadas, ou seja, sobre o dito e, mais que isso, expressam opiniões, já que em cada uma delas o locutor narrador enunciador teve uma ocorrência em média de 38% nos relatórios. Já a comparação entre as três áreas no que diz respeito ao número reportado para a voz anônima e de mediação perceptiva foram correspondentes às nossas previsões; uma vez que, quanto a não assunção da responsabilidade enunciativa (voz anônima), a área humanística apresentou uma porcentagem inferior à da tecnológica e biomédica. Indicando que, apesar da exatidão e objetividade requeridas por estas áreas, os discentes se inserem em alguns momentos nos discursos. Mas, em outros momentos, também apresentam um maior distanciamento dos dados; tendo em vista que a área humanística recorreu com mais frequência à mediação perceptiva.

CONCLUSÃO:

Ao comparamos o modo como as vozes são materializadas nas distintas áreas: humanas, tecnológica e biomédica, entendemos que as orientações argumentativas estão intrinsecamente relacionadas à assunção ou não da responsabilidade enunciativa, uma vez que identificamos que os discentes utilizam os cinco tipos de vozes descritos no trabalho. Entretanto, mesmo com essa constatação, afirmamos que algumas áreas tendem a se apropriar mais eficazmente de determinados tipos de vozes, por exemplo, a voz anônima a qual foi mais evidente nas áreas tecnológica e biomédica.     

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq - Bolsista PIBIC.
Palavras-chave: Responsabilidade enunciativa, materialização, relatórios de iniciação científica.