62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 6. Ciências da Religião e Teologia
MITOLOGIA E SAÚDE MENTAL: DIÁLOGOS FECUNDOS
Andréa Graupen 1
Antonio de Pádua Gomes de Souza Neves 1
Cínthia Jaqueline Rodrigues Bezerra Galiza 1
Flawbert Farias Guedes Pinheiro 1
Hélio Eloi de Galiza Junior 2
1. Programa de Pós Graduação em Ciências das Religiões - PPGCR/ UFPB
2. UNIPE-Centro Universitário de João Pessoa - PB
INTRODUÇÃO:

A partir da Reforma Psiquiátrica, abriu-se um espaço para a inovação de novos dispositivos de cuidado para com as pessoas com sofrimento mental (SCHWEIG, et al, 2010). Serviços substitutivos como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), possibilitam construir novas práticas de intervenção. A forma de atuação dos amplos serviços da assistência à saúde mental dá margem a "um terreno de trabalho vivo em ato instituinte de novidades; possibilitando a produção/invenção de práticas cuidadoras" (MERHY apud MERHY & FEUERWERKER, 2008, p.15). Neste contexto foi criada então, em um CAPS, no Recife/PE, a Oficina Terapêutica de Mitos. Tal oficina funciona como um espaço de escuta interna e produção de saúde visto que os mitos são, acima de tudo, fenômenos psíquicos e revelam a natureza da psique. A escuta das narrativas mitológicas ajuda a superar, seja pela identificação com os personagens míticos seja pela natureza religiosa das próprias narrativas os conflitos internos e abre um espaço de re-significação da própria experiência. Tal pesquisa foi realizada no CAPS se mostrou de grande importância para um trabalho em saúde mental que inclua a religiosidade como promotora de saúde, visto que ela é de acordo com Dalgalarrondo (2008) uma das experiências mais marcantes da experiência humana e da subjetividade.

METODOLOGIA:
As oficinas ocorreram ao longo do ano de 2005, sendo no total 40 oficinas, realizadas semanalmente, com duração de 2 horas cada, no CAPS-Casa Forte, serviço privado de atenção em saúde mental. O grupo era composto por adultos, com idades entre 25 e 63 anos, de ambos os sexos, com diagnósticos de depressão, transtorno obsessivo-compulsivo, dependência química (álcool) e transtorno bipolar do humor. O local onde acontecia a oficina era um salão grande, com almofadas e uma área externa com jardim e mesas amplas para a realização dos trabalhos. Participaram em média 10 usuários a cada encontro, sendo que os mesmos variavam a cada semana. Os encontros seguiam a seguinte estrutura: narrativa do mito previamente selecionado pela facilitadora, trabalho expressivo a partir dos conteúdos mobilizados (pintura, colagem, modelagem, desenho, teatro, poesia) e compartilhar a experiência. Foram eleitos apenas os mitos greco-romanos pela familiaridade dos mesmos. A escolha dos mitos era feita a partir dos conteúdos mobilizados na semana.
RESULTADOS:

Através da análise do discurso e das imagens produzidas, pode-se dizer que a oficina facilitou aos usuários/as do serviço o contar e resignificar sua própria história. A identificação homem/divindade propiciou um fortalecimento do ego, mais capaz de suportar as vicissitudes da vida criando espaços de transformação do si-mesmo e conseqüentemente do mundo que o cerca. Através da escuta dos mitos, abriu-se aos usuários do serviço um momento de "escuta interna", onde puderam ser ampliadas as possibilidades de ação e confronto com diversas questões da vida e da própria história.  Todos/as usuários no momento de compartilhar, referiram uma sensação de auto-estima elevada ao terem suas experiências pessoais afinadas com a trajetória mítica dos/as divindades, podendo desta forma lidar de maneira mais positiva com sua mitologia pessoal.

CONCLUSÃO:

Os mitos são histórias que nos acompanham há muito tempo, independente de terem certa cronologia e localização geográfica, falam de vivências que são atemporais. O homem necessita ouvir histórias para alimentar a sua capacidade de reorganizar e recontar a sua própria história.  Adentrar o universo mítico é uma possibilidade de se reconectar com o sagrado e com as infinitas possibilidades de cada um. As narrativas míticas, com seu manancial simbólico e religioso, são um poderoso instrumento de promoção da saúde mental. Entrar em contato com as narrativas míticas, plenas de obstáculos, tarefas, transformações e possibilidades faz ressoar nos indivíduos pontos pessoais de saúde, que independem do fato da pessoa ter uma religião institucionalizada ou não. Ao elaborarem expressivamente os conteúdos mobilizados a partir da escuta, estão os indivíduos participando ativamente do seu processo de construção e reconstrução de significados, tornando-se assim sujeitos do seu processo de saúde.

Palavras-chave: Mitologia, Saúde Mental, Oficina Terapêutica.