62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
A PRODUÇÃO DE TERRITÓRIOS DE CULTURA CIDADÃ NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE - PE: UM ESTUDO DE CASO DO ESPAÇO DO ANTIGO MATADOURO NO BAIRRO DE PEIXINHOS.
Thiago Santa Rosa de Moura 1, 3, 2, 4
Lourival dos Santos Junior 1, 3, 2, 4
Francisco Tavares de Melo 1, 3, 2, 4
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO/UFPE
2. CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS/CFCH/UFPE
3. DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS/CFCH/UFPE
4. CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA
INTRODUÇÃO:

O Presente trabalho tem o intuito de explanar os resultados relacionados à pesquisa referente às transformações ocorridas no espaço matadouro industrial municipal de Olinda, e as influências destas sobre a comunidade do bairro de Peixinhos, localizado entre as cidades de Olinda e Recife e onde também se encontra a antiga indústria. As análises realizadas encontram-se situadas numa escala de tempo que se estende de 1919, data em que o empreendimento foi inaugurado, até o ano de 2009. Dentro dela, pôde-se, durante as investigações, identificar três períodos onde determinadas atividades exercidas no espaço aqui estudado foram hegemônicas, dando ao mesmo características nas quais foi possível diferenciar os três espaços de tempo distintos. O primeiro refere-se ao intervalo entre 1919 e 1970, onde o matadouro esteve em funcionamento sendo o principal ator na produção espacial no bairro de Peixinhos. O segundo diz respeito a passagem de 1970 aos anos de 1990 onde, após o fechamento da empresa, a localidade entra em decadência, estando essa diretamente ligada ao aumento de atividades criminais na área. O terceiro corresponde a década de 1990 até 2009, onde grupos culturais do bairro passaram a se apropriar do espaço abandonado e a territorializá-lo como uma espaço de cidadania.     

METODOLOGIA:

Em primeira instância foram realizadas leituras com o intuito da apropriação de carga teórica suficiente para a realização de campo e das demais etapas do trabalho. Temas como a violência urbana, cidadania, o bairro de Peixinhos, o território, dentre outros, foram explorados em revisão bibliográfica para a produção do texto. Em seguida, foram realizados trabalhos de campo na área de estudos para a observação de suas características e levantamento de dados através de entrevistas com moradores da localidade e integrantes dos movimentos que atuam no espaço do antigo matadouro.

RESULTADOS:

O matadouro industrial municipal de Olinda teve um importante papel na produção espacial no bairro de Peixinhos. A partir do início de suas atividades, um considerável contingente populacional deslocou-se até a área na busca de oportunidades de emprego, fato que foi o carro chefe da formação do bairro. O poder econômico exercido pela empresa foi hegemônico entre o os anos de 1919 e 1970, sendo o responsável, neste período, pelas principais influências na constituição do espaço no local. Grande parte da população residente na área dependia das atividades no matadouro para sua subsistência. Com o seu fechamento em 1970, as relações entre o mesmo e a população local desaparecem. O período que procede a essa data pode ser considerado como um período de decadência econômica do bairro e coincide com a intensificação de atividades criminais, que territorializaram a antiga empresa como um espaço da violência e do Medo. A partir do início da década de 1990, movimentos culturais nascidos no bairro, (movimento cultural boca do lixo e balé afro majê molê), com o intuito de transformar a comunidade a partir da prática da literatura, música e dança, passaram a também atuar e ocupar o espaço do antigo matadouro e a gradativamente transformá-lo num território de construção de uma cultura cidadã.

CONCLUSÃO:
O bairro de Peixinhos, onde se localiza o matadouro industrial municipal de Olinda, apresenta-se como um reflexo da produção do espaço urbano na sociedade capitalista. Trata-se de uma área de reprodução de classes sociais de baixa renda, resultante do interesse das classes dominantes e do estado na produção de espaços de status, tendo eles uma função residencial, comercial, dentre outras. Tais fatos são responsáveis pela produção de espaços de exclusão social, que ao não serem vistos como prioridade pelo poder público, promotor da reprodução da produção capitalista, além de abrigarem uma população de pouco poder aquisitivo, deixam de ser atendidos com os serviços básicos para a dignificação do ser humano enquanto indivíduo inserido em sociedade. O bairro de peixinhos, inserido nesse contexto principalmente após o fechamento do matadouro, tornou-se um espaço de maior susceptibilidade ao desenvolvimento de atividades criminais. Dentro desse contexto, a atuação do movimento cultural boca do lixo e do balé afro majê molê na promoção da literatura e da dança, respectivamente, como elementos de valorização do indivíduo, demonstram uma experiência válida no que diz respeito ao exercício da autonomia de uma comunidade na construção de sua própria cidadania frente ao abandono do estado.
Palavras-chave: matadouro, peixinhos, território.