O presente trabalho se propõe a realizar um estudo analítico do texto falado, em particular da aula expositiva de graduação, tendo por foco de investigação a organização tópica. Sendo assim, estabelecemos os objetivos de investigar como se dá a articulação tópica discursiva na aula de graduação e como esta contribui para a manutenção da coesão e da coerência do texto falado. Para tanto, destacaremos as estratégias de articulação tópica mais recorrentes nas aberturas e fechamentos dos grandes tópicos, descrevendo suas funções do ponto de vista da organização sequencial. Teremos como aporte teórico os trabalhos de Marcuschi (2005), Jubran et al (2002), e Pinheiro (2005), entre outros autores. A necessidade de compreender a articulação tópica na aula universitária pode ser explicada pela dupla relevância do tema em questão: a preocupação linguística, do ponto de vista da organização discursiva, e a didática, uma vez que é o modo como os falantes usam a língua em uma situação interativa que proporciona a construção dos conhecimentos científicos.

A análise do corpus nos possibilitou detectar uma grande diversidade de fenômenos linguísticos empregados na articulação tópica, tanto no plano da linearidade, com a função de dar continuidade aos assuntos que vão se sucedendo, quanto da hierarquia, na passagem de um supertópico para um subtópico e vice-versa. Dentre as estratégias mais recorrentes, destacam-se as formulações metadiscursivas, as paráfrases, a utilização de perguntas, o emprego de formas referenciais e os marcadores discursivos. Essas ocorrências se dão em posições diferentes dentro do tópico discursivo, sendo comum encontrarmos, por exemplo, perguntas iniciando assuntos, ao passo que os marcadores podem aparecer tanto introduzindo quanto desenvolvendo e concluindo o tópico, até mesmo um único marcador pode desempenhar essas três funções, como é o caso do "então". As funções apresentadas pelos elementos de articulação tópica vão desde a organização e coerência do discurso à preocupação em atrair a atenção do ouvinte, mantendo o caráter interativo do evento.

Os resultados alcançados evidenciaram a variedade de mecanismos utilizados na articulação tópica e a importância das diversas formas de desempenho por eles exercidas na aula de graduação, tanto do ponto de vista discursivo, quanto interativo. Nesse sentido, fica evidente que as funções exercidas pelos articuladores discursivos são essenciais para a manutenção da organização tópica, levando-nos a concluir que os estudos do texto falado apresentam também relevantes contribuições para a compreensão de como se dão os eventos de ensino-aprendizagem, cujo êxito depende, em grande parte, da coerência presente nos textos produzidos oralmente por alunos e professor.