62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana
ESPAÇO URBANO E SOCIABILIDADE NA CIDADE CONTEMPORÂNEA
Ricardo Bruno Cunha Campos 1
1. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, UFRN
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho aborda as temáticas da sociabilidade e das apropriações sociais no espaço urbano contemporâneo, a partir de uma pesquisa de mestrado realizada de abril de 2008 a fevereiro de 2010, nos espaços públicos da cidade de João Pessoa, Paraíba; mais especificamente no espaço de uma praça - Praça do Caju - construída e revitalizada recentemente pelo poder público municipal. Objetivamos compreender e interpretar a dinâmica cultural cara às cidades na contemporaneidade a partir dos novos padrões e práticas sociais que surgiram e surgem na configuração cotidiana dos espaços da cidade. Acompanhamos a evolução urbana da cidade e as praças fazem parte do movimento da atual gestão municipal de ordenamento e ampliação dos espaços urbanos, construindo ou revitalizando antigas áreas do centro e praças em bairros diferenciados. Tivemos por objetivo entender as ambivalências e as várias formas de pertença ao local, em um contexto de uso e ocupação no cotidiano dos habitantes da cidade. Investigamos o gostar e o não gostar desses usuários em relação ao espaço público versus o privado e; com base em autores como Michel de Certeau, procuramos apreender as distintas lógicas identitárias que se mesclam e inventam o cotidiano.
METODOLOGIA:
Utilizamos uma metodologia de caráter qualitativo caracterizando uma pesquisa de viés etnográfico, porém não desprezamos dados quantitativos buscados em órgãos de pesquisa como o IBGE, dentre outros. Trabalhamos também com dados urbanísticos, históricos e geográficos compilados em laboratórios, centros e departamentos acadêmicos, além de pesquisas em jornais eletrônicos. As imagens, principalmente as fotografias, constituíram uma ferramenta de aproximação com o campo de estudo como também ampliou nossa capacidade de coleta de dados e reflexões sobre os mesmos. Nossa base de dados principal refere-se ao conteúdo proveniente das observações participantes, das entrevistas informais, e principalmente das entrevistas formais realizadas com os usuários da praça e com os moradores do bairro onde ela está inserida.
RESULTADOS:
Acreditamos que a ação social, aos modos de Max Weber e Georg Simmel, opera a partir de uma lógica de um jogo relacional sempre perigoso, porém, vivenciado de diferentes formas a partir do segmento ou grupo social que se estuda. O embate entre grupos principalmente os de baixa renda e os jovens urbanos chamaram a nossa atenção na pesquisa. No estudo do cotidiano os autores que nos baseamos: Agnes Heller, Henri Lefebvre, Michel de Certeau e José de Souza Martins, dentre outros, afirmaram que devemos estar sempre relacionando a perspectiva estrutural e cultural e suas imbricações e choques a partir das práticas, pensamentos e ações que se apresentam em nosso campo e espaço de estudo previamente delimitados. Sobre o espaço urbano, as contribuições de Marluci Menezes, Sun Alex, dentre outros, pensando os espaços enquanto necessariamente sociais nos norteou quanto às apropriações e o pertencimento da populção na sua relação com o espaço da cidade. A peculiaridade da produção do conhecimento científico dentro do contexto de globalização trouxe também uma discussão identitária travada com autores como Stuart Hall, Bauman, Marshall Sahlins, dentre outros; possibilitando a apreensão das construções de identidades na cidade global através da investigação do espaço público da praça.
CONCLUSÃO:
Refletir sobre a constituição do espaço público trouxe à tona diferentes aspectos que devem ser considerados, os quais denotam a relevância deste tipo de requalificação urbana. Observou-se na praça uma intensificação das redes de sociabilidades e a reconstrução de laços de vizinhança entre moradores outrora dispersos e encerrados em seu mundo privado. Outro aspecto destacado foi o do incremento do debate público sobre questões da vida política, que emergiram do encontro dos moradores e da tarefa de gestão dos espaços, partilhada com o poder público como no caso de movimentos sociais de bairro como o SOS Bessa. Nota-se uma mudança no quadro apontando para uma sociabilidade mais ativa e construtiva, porém o poder simbólico/econômico ainda hierarquiza a praça pública construída e revitalizada, principalmente na área em que a população possui maior renda. De maneira marcante, o espaço público da praça foi percebido como palco de interações entre diferentes segmentos de renda que coabitam o bairro, e este aspecto foi reforçado como algo positivo e renovador da dinâmica cultural do bairro. Avançamos, assim, para o entendimento da nova cultura urbana que a revitalização do sentido do espaço público proporciona com a existência da praça.
Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
Palavras-chave: Sociabilidade, Espaço Urbano, Cotidiano.