62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 6. Ciência Política - 1. Comportamento Político
GÊNERO, SINDICALISMO E PODER NOS ANOS 90: ANALISANDO OS IMPASSES DA PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES EM SINDICATOS FILIADOS À CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES NUM CENÁRIO DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA.
Verônica Clemente Ferreira 1, 3
Angela Maria Carneiro Araújo 2, 4
1. Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
2. Depto. de Ciência Política - UNICAMP
3. Mestre em Ciência Política
4. Profa. Dra./Orientadora
INTRODUÇÃO:

Nossa pesquisa investigou a atuação feminina em três sindicatos ligados à CUT (o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo e o Sindicato dos Bancários de São Paulo) na década de 90. Nesse período a reestruturação produtiva e financeira resultou em transformações que aprofundaram as desigualdades entre homens e mulheres. Nos ramos químico e metalúrgico o aumento do desemprego e da terceirização intensificou a concentração das mulheres em empresas de pequeno e médio porte e em tarefas repetitivas, vigiadas e mal remuneradas. Na categoria bancária a reestruturação aumentou a proporção de mulheres e abriu-lhes oportunidade de ascensão profissional. Entretanto, parte delas perdeu emprego e foi contratada por prestadoras de serviços, com piores salários e condições de trabalho. Os efeitos perversos da reestruturação se mostraram comuns para as mulheres das três categorias: intensificação do trabalho, aumento da pressão psicológica e aumento de doenças profissionais. Num contexto de enfraquecimento, os sindicatos necessitavam de uma estratégia para recuperar sua capacidade de mobilização e ficaram diante de um impasse: priorizar salário e emprego ou atentar para a diversidade de demandas de trabalhadoras(es)?

METODOLOGIA:

A realização deste estudo foi feita em duas etapas. Entre novembro de 1998 e dezembro de 1999 foram desenvolvidos a coleta de documentos sindicais e o acompanhamento de atividades dos três sindicatos e da CUT. Entre novembro de 1998 e julho de 1999 foram entrevistados militantes, diretores e diretoras destes sindicatos. A segunda etapa da pesquisa consistiu na complementação das informações qualitativas com dados quantitativos (informações sobre escolaridade, renda, tempo de serviço e distribuição de trabalhadores e trabalhadoras entre firmas de diferentes tamanhos) para as três categorias profissionais a partir da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho.

RESULTADOS:

Até o início dos anos 90 ampliava-se o debate sobre relações de gênero na CUT. No entanto, a sensibilidade em relação à condição feminina coexistia com atitudes e representações machistas da cultura sindical. A conjuntura dos anos 90 dificultou a mobilização, fazendo com que as demandas femininas tendessem a ficar em segundo plano. Entretanto, para cada sindicato pesquisado encontramos uma resposta diferente a este cenário. Entre os químicos (que contavam com uma sólida militância feminina até meados dos anos 90), atitudes preconceituosas dos sindicalistas, somadas à queda do poder de barganha, arrefeceram a disposição da militância para discutir as demandas femininas e encaminhá-las à negociação. O Sindicato dos Metalúrgicos, cuja militância feminista consolidara-se na década de 80, mostrou-se sensível às demandas das trabalhadoras, encaminhando-as à negociação. Mas, devido à intransigência do empresariado, poucas se tornaram cláusulas de acordos coletivos. O Sindicato dos Bancários de São Paulo, que possuía um Coletivo de Gênero ativo desde os anos 80 e cuja categoria se feminizava, mostrou-se mais sensível às reivindicações femininas. Isto se converteu em empenho na defesa das mesmas nas negociações, fator fundamental para a obtenção de conquistas.

CONCLUSÃO:

A variedade de configurações apresentada pelos três sindicatos deste estudo mostra que, mesmo sob o mesmo contexto econômico e político desfavorável, não há uma direção unívoca para o processo de inserção das mulheres na militância sindical e para a incorporação de suas demandas. O cenário hostil somou-se ao machismo arraigado na cultura política sindical, o qual se manifestou de forma diferente nas três entidades, dependendo da trajetória pregressa das relações de gênero em cada uma delas. A maneira como a reestruturação incidiu sobre o perfil sexual de cada categoria completa o quadro de influências que determinou o rumo da discussão das relações de poder nos sindicatos e da incorporação da participação feminina como elemento da estratégia de luta sindical.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: reestruturação produtiva, gênero, sindicalismo.