62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial
Efeitos de um programa de intervenção no desenvolvimento de uma criança de 6 anos, com diagnóstico de autismo, inserida em uma classe de educação infantil.
Eliana Rodrigues Araújo 1
Débora Regina de Paula Nunes 1
Viviane Costa de Leon 2
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
2. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INTRODUÇÃO:

O autismo é um transtorno global no desenvolvimento (TGD), cujos sintomas apresentam-se nos processos de comunicação, comportamento e interações sociais, com manifestação antes dos três anos de idade.  Pesquisas recentes indicam que a prevalência do TGD tem crescido nas últimas décadas, atingindo 1 em cada 250 indivíduos (KLIN, 2006). A intervenção educacional precoce é considerada uma das formas mais efetivas de tratamento (HEFLIN; ALAIMO, 2007). De fato, pesquisas revelam resultados promissores no desenvolvimento de crianças com TGD submetidas a programas de intervenção antes dos 5 anos de idade (NRC, 2001). O ambiente do ensino infantil é propício para a implementação destes programas. Além de compreender, dentre seus objetivos, o desenvolvimento da independência, da comunicação social e o estabelecimento de relações sociais e afetivas da criança (BRASIL, 1998), viabiliza, pelo número reduzido de alunos em sala, uma relação mais estreita entre o professor e a criança. O objetivo do presente estudo foi avaliar, através de um delineamento de pesquisa quase experimental, os efeitos de um programa de intervenção no desenvolvimento de uma criança de 6 anos, com diagnóstico de autismo, inserida em uma classe de educação infantil.

METODOLOGIA:

Participantes - Um aluno de 6 anos com diagnóstico de autismo, sua professora e seus pais. Local - a pesquisa foi realizada em uma classe de educação infantil onde o aluno estava regularmente matriculado, em sua residência e em uma clínica particular localizada em Natal/RN. Materiais - 1 filmadora digital, livros de histórias, brinquedos, Kit do Teste PEP-R, manuscritos informativos sobre autismo. Instrumentos - um roteiro de entrevista e o Perfil Psicoeducacional Revisado (PEP-R), um instrumento de medida da idade de desenvolvimento de crianças com autismo ou com transtornos correlatos da comunicação. Procedimentos - O estudo foi dividido em 6 etapas: 1ª  entrevista com a família e professora; 2ª pré-teste - PEP-R no aluno; 3ª observações em sala de aula; 4ª  desenvolvimento de um plano de ação para os pais e professora de sala (capacitação) 5ª  implementação do plano de ação; 6ª pós-teste PEP-R. Variáveis dependentes - 7 áreas do desenvolvimento, avaliadas segundo o PEP-R, foram analisadas. Variáveis independentes: o programa de intervenção, que incluía princípios do Programa do Institute Hanen Centre (SUSSMAN, 2006) foi utilizado no plano de ação (etapas 4 e 5). Nesta etapa a primeira autora capacitou os pais e a professora a utilizar estratégias de ensino derivadas deste programa.

RESULTADOS:

Os resultados do estudo revelaram a angustia dos pais em desconhecer, inicialmente, o diagnóstico do filho. As observações em sala de aula indicaram a presença de comportamentos desadaptativos, déficits de comunicação, baixa freqüência de interações sociais, limitada capacidade de imitação e isolamento social do aluno. Os registros apontaram, ainda, que a professora pouco mediava a interação da criança com o meio.  O aluno apresentava, de acordo com o PEP-R, desenvolvimento global equivalente a de uma criança de 2 anos e 6 meses de idade no início da pesquisa, exibindo atrasos significativos nas 7 áreas avaliadas pelo teste (imitação, percepção, habilidades motoras fina e grossa, coordenação olho-mão, desempenho cognitivo e comunicação verbal).  Após o delineamento do plano de ação, onde a professora e os pais foram ensinados a utilizar estratégias de ensino derivados do Programa do Institute Hanen Centre, foram observadas mudanças nas atitudes e nas formas de interação da professora e da família em relação a criança. Resultados do pós-teste indicaram que o aluno, em seis meses, passou a apresentar desenvolvimento global equivalente a uma criança de 3 anos e 7 meses, apresentando ganhos nas 7 áreas de desenvolvimento avaliadas pelo instrumento.

CONCLUSÃO:

Apesar de o tema inclusão ser amplamente debatido nas duas últimas décadas, as tensões nas relações família-escola-aluno ainda interferem de maneira vital no desenvolvimento do aluno, principalmente quando se trata do aluno com autismo. Assim, a escola regular se defronta com a necessidade de conhecer outras teorias, práticas e estratégias para poder atender adequadamente às necessidades de seus educandos. No presente estudo, os procedimentos naturalísticos de ensino, sob abordagem sócio-interacionista, derivados do Programa do Institute Hanen Centre contribuíram para a maior participação social e acadêmica de um aluno com diagnóstico de autismo inserido em uma sala regular. Esta participação, viabilizada tanto pela docente como pelos pais da criança, possivelmente impactaram o desenvolvimento global da criança, conforme avaliado pelo PEP-R.

Palavras-chave: Autismo, Intervenção precoce, inclusão escolar.