62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia
PREVALÊNCIA DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DO PAPILOMA HUMANO (HPV) EM MULHERES DE NATAL/RN ATENDIDAS NO PROGRAMA DE RASTREAMENTO DO CÂNCER DE COLO DO ÚTERO.
Valeska Santana de Sena Pereira 1
Bruno Tardelli Diniz Nunes 1
Raíza Nara Cunha Moizéis 1
José Veríssimo Fernandes 2
1. Departamento de Microbiologia e Parasitologia, UFRN
2. Prof. Dr./Orientador - Depto. de Microbiologia e Parasitologia, UFRN
INTRODUÇÃO:

O vírus do Papiloma Humano (HPV) é uma das causas mais frequentes de infecção sexualmente transmissíveis entre as populações humanas de todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento, constituindo-se um grave problema de saúde pública. São conhecidos mais de 120 tipos de HPV, dos quais cerca de 40 infectam o trato genital. Os HPVs genitais são classificados, de acordo com seu potencial oncogênico, em dois grupos: os de baixo risco, que normalmente não estão associados a lesões malignas e os de alto risco, que estão fortemente associados ao câncer de colo do útero (CCU). Muitas mulheres adquirem a infecção, na adolescência, quando apresentam uma maior vulnerabilidade ao vírus. Na maioria dos casos a infecção é transitória, evoluindo para cura espontânea no período de dois anos. Contudo, uma parcela significativa evolui para a forma persistente onde o vírus se mantém por tempo indeterminado podendo ser reativado posteriormente. Atualmente não se tem mais dúvida de que a infecção persistente por HPV de alto risco é causa necessária, embora não suficiente para o desenvolvimento do CCU. Neste estudo foi analisada a prevalência do HPV em mulheres de Natal-RN, estabelecendo correlações com características sócio-demográficas, atividade sexual e reprodutiva.

METODOLOGIA:

Foram analisados espécimes cervicais de 201 mulheres com idade variando de 13 a 73 anos, média de 39,3 anos que procuraram as unidades de saúde do município de Natal para fazer o exame de rastreamento do CCU. Aquelas que concordaram em participar do estudo responderam a um questionário destinado à obtenção de informações sobre características sócio-demográficas, atividade sexual e reprodutiva. Após a entrevista foram coletadas amostras de células descamadas do epitélio da cérvice uterina utilizando escova ginecológica. As células obtidas foram processadas para a extração de DNA por um protocolo de isolamento rápido de DNA de mamíferos, com proteinase K, descrito em Sambrook & Russel, 2001. A qualidade do DNA e a ausência de inibidores da reação em cadeia da polimerase (PCR) foi testada por meio da amplificação de uma seqüência de 110 pb do gene da β-globina humano, com primers PCO3+/PCO4+. As amostras positivas para β-globina foram analisadas para a detecção do DNA do HPV por meio da técnica de (PCR) utilizando os primers genéricos (GP5+/GP6+) que permitem a amplificação de um seqüência de 140 pb do gene L1 viral de um amplo espectro de genótipos do HPV. Os produtos da PCR foram submetidos a uma eletroforese em gel de poliacrilamida seguido de revelação pela prata.

RESULTADOS:

Todas as amostras submetidas à extração de DNA foram positivas para amplificação do segmento do gene da β-globina demonstrando a eficiência do método utilizado. Do total de amostras analisadas, 58 foram positivas para HPV, revelando uma prevalência geral da infecção de 28,9%. A prevalência da infecção foi maior nas mulheres jovens, sendo a maior taxa (45,2%) observada nas mulheres com idade entre 21 e 30 anos. Constatou-se uma redução da taxa de prevalência da infecção pelo HPV nas mulheres na faixa etária dos 31 aos 40 anos, observando uma tendência de aumento naquelas com idade acima de 41 anos. As mulheres com maior grau de escolaridade e as solteiras apresentaram maiores taxas de prevalência da infecção pelo HPV. Analisando-se os resultados obtidos, em função da atividade sexual e reprodutiva, constatou-se que as mulheres que apresentaram as maiores taxas de prevalência da infecção foram as que tiveram o primeiro intercurso sexual com idade menor ou igual a 16 anos, não tiveram gestação, tiveram mais de um parceiro sexual ao longo da vida  e possuíam menor renda familiar. Considerando-se apenas as mulheres que tiveram pelo menos uma gestação, a prevalência do HPV foi maior naquelas que engravidaram pela primeira vez com idade menor ou igual a 16 anos.

CONCLUSÃO:

Constatou-se que, uma parcela significativa das mulheres analisadas neste estudo (28,9%), se apresentou infectada pelo HPV, com uma maior prevalência da infecção entre aquelas mais jovens, observando-se uma redução no valor da taxa após os 30 anos, seguido de uma tendência de novo aumento após os 40 anos. Esses resultados são concordantes com aqueles encontrados em estudos semelhantes. Observou-se a existência de associação entre grau de instrução, estado civil, início precoce da atividade sexual e reprodutiva, relacionamento sexual com múltiplos parceiros e o aumento das taxas de prevalência da infecção pelo HPV. O início precoce da atividade sexual torna a mulher mais susceptível à infecção pelo HPV em virtude do epitélio da cérvice uterina ainda ser imaturo, tornando-se mais propício e vulnerável ao vírus. A maior prevalência da infecção nas mulheres solteiras deve-se possivelmente a maior possibilidade que elas têm de variação de parceiros sexuais e por isso estarem mais expostas ao vírus. As mulheres com renda familiar mais baixa apresentaram maiores taxas de prevalência da infecção e, ao contrário do esperado, as mulheres com grau de instrução superior apresentaram, neste estudo, maior prevalência da infecção pelo HPV.      

 

Instituição de Fomento: Fundação de Pesquisa Do Rio Grande do Norte
Palavras-chave: HPV, Fatores de Risco, Câncer do Colo do Útero.