62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
Do olho da rua: representações dos educadores de rua de Fortaleza acerca de suas condições de trabalho e suas perspectivas profissionais
Roberto dos Santos da Silva 1
Domingos Sávio Abreu 1
Natália Pinheiro Xavier 1
1. Depto. de Ciências Sociais - Mestrado em Sociologia- UFC
INTRODUÇÃO:
Tratamos aqui das expectativas profissionais e representações sobre as condições de trabalho dos educadores sociais de rua que atendem a crianças e jovens "moradores de rua" em Fortaleza, empregados pelo Estado e Município e por entes não-governamentais. Buscamos: desvendar o universo desses educadores; dar subsídios para aprimorar as políticas as quais os pesquisados executam e; disponibilizar aos educadores uma ferramenta de reflexão sobre o seu trabalho. O estudo é datado do período 2008-2009. A Educação social (ES) surge no século XIX na Alemanha como alternativa à educação escolar, esta segundo Dos Santos (2007) era então vista como elitista e verbalista. No Brasil a ES emerge em meio ao regime ditatorial. Diferentemente de outros países, aqui essa categoria profissional ainda luta pelo reconhecimento legal e social de sua profissão, por melhores condições de trabalho e se apresenta como objeto novo para a reflexão social. Este trabalho pode contribuir com estudos que se destinem a diagnosticar quais questões podem impedir a auto-realização de profissionais no exercício de suas funções e para o aprimoramento de políticas públicas e trabalhistas a partir do exame de como esses trabalhadores vivenciam seu ofício.
METODOLOGIA:
Constituímos quatro grupos focais com base num mesmo roteiro para entrevista semi-estruturada: um de educadores de ONGs; outro de educadores do Poder Público; o terceiro de educadores de ambas as organizações e; um de gestores das instituições empregadoras desses profissionais. O roteiro de perguntas versava tanto sobre as condições presentes de trabalho quanto sobre as desejadas incluindo: salário, jornada de trabalho, benefícios trabalhistas, psicológico e de saúde, etc. Assim obtivemos uma base de dados qualitativos para elaborar o questionário a ser entregue aos educadores sociais com conhecimento prévio sobre o público alvo da pesquisa. Tabulamos e examinamos questionários de 113 educadores de programas estadual e municipal de "abordagem de rua" e de quatro entidades não estatais. Analizamos as transcrições dos grupos focais e realizamos cruzamentos entre as questões respondidas, aliando a análise qualitativa e quantitativa.
RESULTADOS:
Dos pesquisados: 81% estão em entidades não-estatais e são terceirizados em instituições públicas;86% recebem entre um e dois salários mínimos; 2% recebem assistência médica; 74% recebem vale-transporte; 86% recebem vale-refeição; 36% trabalham em jornada de quarenta horas semanais; 96% ainda ultrapassam a sua carga horária oficial; 44% consideram como remuneração adequada o valor entre dois e três salários mínimos. 87% admitem estar expostos a alguma doença devido a sua atividade; todos já sofreram violência física ou ameaça; 72% dos autores de ameaças ou agressões foram os próprios assistidos; 58% trocariam sua profissão por um salário melhor. Constatamos que não possuem acompanhamento psicológico, consideram seu ofício incompatível com cargas horárias longas por ser extenuante física e psicologicamente e pelo fato de os expor a doenças e à insegurança (agressão física, assaltos etc). A insatisfação com as condições de trabalho são generalizadas e faz muitos cogitarem mudar de profissão. Demandam ainda por: reconhecimento social e legal do profissional e de seu trabalho; flexibilidade para diálogo e negociação no trabalho, para conjugar as necessidades institucionais e as do educador; e por liberdade de ação e condução de sua ação educativa.
CONCLUSÃO:
Quase não há educadores sociais servidores públicos. E não há ascensão funcional para estes, pois a profissão não é reconhecida legalmente. A maior parte dos problemas destes profissionais parece derivar desta lacuna. Os educadores crêem que para melhorar sua condição de trabalho se deve considerar os muitos aspectos de sua profissão, o que pode ser decisivo para se fixar um contingente estável de profissionais com maior bagagem e formalmente mais credenciado (como com formação acadêmica), além de possibilitar uma maior transmissão de saberes entre os próprios educadores de diferentes gerações, o que em parte pode ser comprometido pela interrupção da atuação dos mais experientes, devido a oferta de outras oportunidades profissionais mais vantajosas doque sua atual profissão. Nos países ibéricos, esta profissão é mais consolidada. O educador social avançou sobre novos espaços, como a carreira acadêmica, escola formal, e para instituições, públicos e funções diversos, como no setor da saúde, da animação social para idosos etc. Estas possibilidades podem se abrir com o reconhecimento legal e contribuir para melhorar as condições de trabalho dessa categoria.
Palavras-chave: Representações, Educadores sociais de rua, Condições de trabalho.