62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia
PREVALÊNCIA DA INFECÇÃO POR Chlamydia trachomatis EM MULHERES DA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL/ RN
Raíza Nara Cunha Moizéis 1
Valeska Santana de Sena Pereira 1
Bruno Tardelli Diniz Nunes 1
Juliana Soares Bernardino 1
José Veríssimo Fernandes 2
1. Departamento de Microbiologia e Parasitologia, UFRN
2. Prof. Dr./Orientador - Depto. de Microbiologia e Parasitologia, UFRN
INTRODUÇÃO:

A Chlamydia trachomatis é uma bactéria gram negativa, parasita intracelular obrigatória de células eucarióticas, frequentemente associada à infecção do trato genital humano, se constituindo um dos principais agentes sexualmente transmissíveis entre as populações humanas. Entre os tipos mais comuns de doenças causadas por esta bactéria destacam-se as infecções urogenitais, especialmente a uretrite não-gonocócica e doença inflamatória pélvica nas mulheres, e epididimite nos homens. A infecção genital por C.trachomatis na mulher, tem sido também associada a aumento do risco de gravidez ectópica ou infertilidade tubária, além conjuntivite neonatal e pneumonia, no recém-nascido, provavelmente adquirida durante a passagem pelo canal do parto infectado. Além disso, a infecção genital por C. trachomatis e outros agentes sexualmente transmissíveis, pode funcionar como co-fator para a persistência da infecção pelo HPV, aumentado o risco de progressão das lesões cervicais de baixo para as de alto grau, inclusive o câncer de colo do útero. Neste estudo avaliou-se a prevalência da infecção genital por C. trachomatis, estabelecendo correlações com as características sócio-demográficas e atividade sexual e reprodutiva do segmento da população feminina analisado.  

 
  
METODOLOGIA:

Foram analisados espécimes cervicais de 201 mulheres com idade variando de 13 a 73 anos, média de 39,3 anos que procuraram as unidades de saúde do município de Natal-RN para fazer o exame de rastreamento do câncer de colo do útero. Aquelas que concordaram em participar do estudo responderam a um questionário destinado à obtenção de informações sobre características sócio-demográficas, atividade sexual e reprodutiva. Após a entrevista foram coletadas amostras de células descamadas do epitélio da cérvice uterina utilizando escova ginecológica. As células obtidas foram processadas para a extração de DNA por um protocolo de isolamento rápido de DNA de mamíferos, com proteinase K, descrito em Sambrook & Russel, 2001. A qualidade do DNA e a ausência de inibidores da reação em cadeia da polimerase (PCR) foi avaliada pela amplificação de um segmento de 110 pb do gene da β-globina humano, com primers PCO3+/PCO4+. As amostras positivas para β-globina foram analisadas para detecção do DNA de um plasmídio presente na C. trachomatis por meio da técnica de (PCR) utilizando os primers CP24/CP27 que permitem a amplificação de um seqüência de 207 pb do gene plasmidial. Os produtos da PCR foram submetidos a uma eletroforese em gel de poliacrilamida seguido de revelação pela prata.

RESULTADOS:

Todas as amostras processadas para extração de DNA se apresentaram positivas para amplificação da seqüência alvo do gene da β-globina humano, comprovando a alta eficiência do método utilizado e a obtenção de DNA em condições adequadas para análise por meio da PCR. Do total de amostras analisadas apenas nove se mostraram positiva para o DNA plasmidial presente na C. trachomatis, revelando uma taxa de prevalência geral de 4,5% de infecção por esta bactéria. A grande maioria dos casos da infecção foi diagnosticada em mulheres jovens, observando-se uma maior taxa de prevalência (16,7%) nas mulheres com idade menor ou igual a 20 anos. A infecção foi mais prevalente nas mulheres solteiras, naquelas com renda familiar menor ou igual a um salário mínimo e nas que tinham grau de instrução igual ou maior que o ensino fundamental. Analisando-se os resultados obtidos em função da atividade sexual e reprodutiva das mulheres pesquisadas, constatou-se que a prevalência da infecção genital por C. trachomatis foi maior nas mulheres que tiveram o primeiro intercurso sexual e a primeira gestação com idade menor ou igual a 16 anos, nas que tiveram mais de um parceiro sexual ao longo da vida e que tiveram pelo menos uma gestação.

CONCLUSÃO:

A prevalência geral da infecção do trato genital por C. trachomatis encontrada nas participantes deste estudo foi relativamente baixa (4,5%), mas apresentou taxa de prevalência com valor especialmente elevado (16,7%) nas mulheres mais jovens, com idade menor ou igual a 20 anos. A maior freqüência da infecção nesse grupo de mulheres, pode ter sido influenciada pelas características fisiológicas do epitélio da cérvice uterina que, nesta fase da vida da mulher parece oferecer as condições mais propícias para a colonização do epitélio pela bactéria, ou pela maior possibilidade de variação de parceiros sexuais entre as mulheres dessa faixa etária. Observou-se associação entre a condição econômica, grau de escolaridade e estado civil com a ocorrência da infecção por C. trachomatis, que apresentou maiores taxas de prevalência nas mulheres com renda familiar até um salário mínimo, com escolaridade maior ou igual ao ensino fundamental e nas solteiras. O início precoce da atividade sexual e reprodutiva, o número de gestações e o número de parceiros sexuais ao longo da vida se comportaram neste estudo como fatores de risco para a infecção pela C. trachomatis neste segmento da população feminina de Natal-RN.

Instituição de Fomento: Fundação de Pesquisa Do Rio Grande do Norte - FAPERN
Palavras-chave: Chlamydia trachomatis, Infecção Genital, Fatores de Risco.