62ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 7. Oceanografia - 1. Oceanografia Biológica
ROTIFEROS COMO INDICADORES DA QUALIDADE AMBIENTAL DA BACIA DO PINA, RECIFE (PE - BRASIL)
Unilton Saulo Rodrigues Vitório 1
Sigrid Neumann Leitão 1
Mauro Melo Júnior 1
Tâmara de Almeida e Silva 2
Valdylene Tavares Pessoa 1
1. Departamento de Oceanografia - UFPE
2. Departamento de Educação - Universidade do Estado da Bahia - Campus VIII
INTRODUÇÃO:

O ecossistema estuarino é um importante componente funcional para as áreas tropicais, pelo fato de constituir uma fonte primária da matéria orgânica para sistemas costeiros adjacentes. São um dos sistemas mais produtivos do mundo, devido à capacidade de armazenar quantidade significativa de nutrientes, favorecendo a vida e mantendo as teias alimentares aquáticas. Além disso, incorpora uma rede balanceada de inter-relações bióticas. Este balanço natural vem sendo modificado, nos últimos anos, devido a inúmeros impactos antrópicos. Dentre os estuários pernambucanos, o da bacia do Pina situado na parte interna do porto do Recife vem recebendo grande carga de poluição orgânica, sendo necessário estudos que embasem um plano de monitoramento e gestão ambientais. Desta forma, investigações sobre a comunidade de rotíferos planctônicos, animais microscópicos, foram desenvolvidos tendo como objetivo identificar as espécies indicadoras da qualidade ambiental. Um bioindicador é um organismo ou conjunto de organismos que permite caracterizar o estado de um ecossistema e evidenciar tão precocemente quanto possível as modificações naturais ou provocadas, sendo de grande utilidade em programas que avaliam a qualidade ambiental.

METODOLOGIA:

O estuário estudado é formado pela confluência dos rios Tejipió, Jiquiá, Jordão, Pina e pelo braço sul do rio Capibaribe, na cidade do Recife (PE, Brasil) tendo sua circulação mantida pelo aporte de águas oceânicas oriundas do canal de entrada do porto, constituindo-se assim, em um ambiente bastante dinâmico, com marés do tipo semi-diurna. As coletas foram realizadas mensalmente, de maio/97 a abril/98, em três estações fixas, nas preamares e baixa-mares de um mesmo dia. Os rotíferos foram coletados com uma rede de plâncton com 65 mm de abertura de malha. Os arrastos tiveram duração de três minutos, com a embarcação em marcha lenta e constante, em torno de 1 nó (aproximadamente 1.854 m.h-1). As amostras foram fixadas com formol neutro a 4%. Em laboratório as amostras foram transpostas para um béquer de vidro e diluídas para um volume de 150 ml, homogeneizadas e foi retirada uma sub-amostra de 1 ml com auxílio de uma pipeta tipo Stempel. Cada sub-amostra foi colocada em lâmina tipo Sedgwick-Rafter e analisada quali-quantitativamente em microscópio óptico. Foram feitos cálculos de abundância relativa, freqüência de ocorrência, densidade, índice de diversidade especifica, eqüitabilidade e Análise dos Componentes Principais.

RESULTADOS:

Foram identificados 18 espécies de Rotifera, pertencentes a 4 famílias, sendo Brachionidae a mais representativa com 12 espécies. A diversidade de espécies foi maior no período chuvoso quando o sistema estuarino chega a apresentar teores salinos muito baixos. De uma forma geral, a diversidade apresentou valores baixos em decorrência da predominância de algumas espécies encontradas ou da ausência de organismos na amostra. Brachionus plicatilis foi a principal espécie, contribuindo com 80,92% de abundância relativa, e índices de freqüência de ocorrência de 98%, sendo espécie eurialina abundante em estuários eutrofizados pelas atividades antrópicas.  Registrou-se um padrão espacial com um gradiente de densidade crescente da estação mais costeira para a mais continental. Além de B. plicatilis as espécies Brachionus calyciflorus, Rotaria rotatoria, Filinia longiseta e Filinia opolienses encontradas na região no estuário em questão são indicadoras de elevada carga de resíduos orgânicos, evidenciando área bastante degradada. A Análise dos Componentes Principais mostrou que as espécies apresentaram uma alta correlação com o fluxo limnético, revelando a preferência dos rotíferos por regimes salinos mais baixos, e por áreas poluída a semi-poluída.

CONCLUSÃO:

Este estudo evidenciou o importante papel dos rotíferos como indicadores da qualidade ambiental. Dentre as espécies registradas para a bacia do Pina foi possível identificar várias indicadoras de ecossistema impactado por poluição orgânica, o que evidencia o comprometimento das águas deste ecossistema pelos efluentes despejados pela cidade do Recife. Desta forma, torna-se necessário um manejo urgente para que este ambiente não tenha sua resiliência afetada, bem como as comunidades usufruam de um ambiente saudável.

Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: Rotifera, Bioindicadores, Estuário.