62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
OS OPERADORES ARGUMENTATIVOS: A RELAÇÃO DE OPOSIÇÃO NA ESCRITA DE ALUNOS UNIVERSITÁRIOS
Moniza de Oliveira Santos 1
Maria Emília de Rodat de Aguiar Barreto Barros 2
1. Núcleo de Letras, Universidade Federal de Sergipe - UFS
2. Profa. Dra./ Orientadora - Núcleo de Letras - UFS
INTRODUÇÃO:

Este trabalho consiste em uma abordagem parcial do projeto desenvolvido no PIBIC (financiado pela FAPITEC), com o mesmo título. Nele pretende-se identificar as marcas de oposição na escrita de estudantes universitários do curso de Letras. Tal oposição, por sua vez, é estabelecida a partir do uso das conjunções adversativas e concessivas (não só as canônicas, mas as utilizadas no uso diário da língua). Nessa perspectiva, é relevante mostrar que, na medida em que as conjunções são instauradas no texto, a produção de sentido também é estabelecida. Nesse sentido, a argumentação é direcionada pelo locutor, revelando intenções ao construir seu discurso. Há de se levar em conta ainda, no processo argumentativo, a instauração de vozes no discurso. Essa instauração, por seu turno, marca diferentes locutores; por conseguinte, aponta para o fenômeno da polifonia. Então, à luz da Linguística Textual e da Semântica Enunciativa, torna-se importante observar a utilização de tais operadores, na medida em que não só revelam uma organização argumentativa em direção à conclusão como também são instauradores de polifonia. Nesse contexto, podemos observar o debate entre enunciadores no interior dos textos dos estudantes.

 

METODOLOGIA:

Este trabalho consiste em uma análise qualitativa de dados coletados por meio de produções escritas dos estudantes do curso de Letras da Universidade Federal de Sergipe, Campus Professor Alberto Carvalho (Itabaiana - SE). Com intuito de analisar as dificuldades que tais alunos apresentam no processo de escrita, principalmente, no que diz respeito ao planejamento do texto. E, mediante a sugestão de um tema considerado polêmico (O professor de Língua Portuguesa frente à construção da cidadania), obtivemos quarenta textos. Primeiramente, pesquisamos tanto os operadores estabelecidos pela Gramática Normativa como os utilizados pelos falantes cotidianamente. Em um segundo momento, constatamos que tais conjunções orientam para uma conclusão, no interior de um texto argumentativo, tal como postulam Ducrot (1987), Guimarães (2002). Ademais, verificamos a construção de sentido ante o uso de tais operadores, à luz dos postulados teóricos de Koch (1996), Perelman (1996) e outros. Além disso, observaremos a presença de múltiplas vozes instauradas pelos enunciadores, o que institui o fenômeno da polifonia. Nesse contexto, tal relatório caracteriza-se pela abordagem descritiva e interpretativa de textos, de modo que são observadas as ocorrências dos operadores argumentativos.

RESULTADOS:

 

Como mencionado na Metodologia desta pesquisa, tal análise se propõe a discutir algumas produções textuais que constituem um corpus de 40 textos, dos quais 25 apresentam a ocorrência de operadores argumentativos, porém nem sempre tais operadores correspondem às nossas expectativas. Além da observação dos marcadores de oposição, é de grande relevância a observação da construção e efeitos de sentido ocasionados pelo uso dos operadores. Pudemos, principalmente, observar a constituição do masPA e do masSN. Nesse sentido, investigamos a construção da argumentação, observando os expressivos papéis desempenhados pelos operadores, para marcar a oposição e ao mesmo tempo a produção de sentido. É relevante destacar que tais construções orientam a argumentação de tal modo que no enunciado há a instauração de uma força argumentativa, fazendo com que o fragmento instaurado pela conjunção adversativa (mas, porém...) tenha força maior. No corpus proposto por este trabalho, observamos, principalmente, a ocorrência do mas (e outras conjunções adversativas com igual valor) como instaurador de argumentação, que Ducrot (1987) considera operador por excelência. Observamos essencialmente as estruturas formuladas por masPA, revelando uma estratégia argumentativa.

 

CONCLUSÃO:

Neste trabalho, propusemo-nos mostrar que os operadores argumentativos instauram oposição, fato que foi comprovado na análise do corpus dessa pesquisa. A partir dessa oposição, o mas instaura uma força argumentativa maior no enunciado. Podemos, a partir dessa força argumentativa, retomar os estudos de Perelman e Tyteca (1996), os quais abordam o ato de convencer o interlocutor por meio de argumentos plausíveis utilizados pelo locutor em seu discurso, e que terá como efeito a adesão dos espíritos. Ou seja, a força argumentativa instaurada pelo locutor consegue persuadir o outro. Este discurso, por sua vez, tem grande prestígio e autoridade, o que o faz ter a aceitação de seu público. Quanto à proposta de Koch (1996) para conceituar a argumentação, a autora se utiliza dos postulados de Ducrot (1977) para observar o fenômeno da polifonia, que consiste na instauração de vozes no discurso. Desse modo, é possível considerar que um texto não apresenta apenas um ponto de vista, mas está permeado por múltiplas opiniões. Tal teoria só reforça o conceito de que todo o processo de construção textual acaba por instituir a polifonia discursiva. É possível constatar também que a conjunção adversativa mas não se restringe à mera função de ligar orações ou frases.

Instituição de Fomento: PIBIC/FAPITEC
Palavras-chave: Operadores Argumentativos, Discurso , Polifonia.