62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 7. Música e Dança
DEBAIXO DO BARRO DO CHÃO: DISCUTINDO A CONCEPÇÃO ESTÉTICA NUMA PROPOSTA ESPETACULAR
Acácia Batista de Oliveira 1
Larissa Kelly de Oliveira Marques Tibúrcio 2
1. Depto. de Artes, Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas - PPGArC-UFRN
2. Profa. Dra./Orientadora - Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFRN
INTRODUÇÃO:
O Grupo Parafolclórico da UFRN é um projeto de extensão universitária surgido na disciplina de Folclore do curso de Educação Física, em 1991. Percebemos que nos últimos anos vem ocorrendo um processo de transição no que se refere à concepção estética das produções coreográficas, permitindo um diálogo freqüente com linguagens artísticas como teatro, música, artes visuais e mídias eletrônicas, via projeção de imagens, e com várias técnicas de dança, para além daquelas que constituem o saber-fazer das danças da tradição popular, cujos elementos são extraídos como "motivos de arte" (LANGER, 1980). Nessa análise refletimos sobre a concepção estética que vem configurando as produções coreográficas do Grupo Parafolclórico da UFRN, mais especificamente o seu último espetáculo: Debaixo do Barro do Chão estreado no ano de 2008. Este trabalho trouxe uma proposta de concepção coreográfica em que o elenco participou ativamente do processo criativo, rompendo com uma possível hierarquia entre coreógrafo e bailarino, bem como fez uso da exploração de uma gestualidade, que foi criada a partir dos elementos presentes nas danças e manifestações que atravessam o ciclo junino (temática desenvolvida no espetáculo acima mencionado), ampliando as possibilidades de criação outrora iniciadas.
METODOLOGIA:
Este estudo traz uma abordagem metodológica através dos parâmetros da etnocenologia que busca um novo olhar sobre as artes espetaculares, uma vez que identifica, investiga e analisa o fazer cênico dessas artes em sua diversidade de linguagens e sua multiplicidade de processos criativos. A etnocenologia tem como objeto os comportamentos humanos espetaculares organizados, o que inclui não apenas as artes dos espetáculos como o teatro e a dança, mas outras práticas espetaculares não propriamente artísticas ou extracotidianas (BIÃO e GRAINER, 1999). Nesse sentido, os fundamentos etnocenológicos contribuíram no entendimento da dimensão estética que o espetáculo Debaixo do barro do chão possibilitou ao interagir, mais fortemente, com outras linguagens artísticas. Esta prática já existia em alguns trechos de espetáculos anteriores do Grupo, porém é no espetáculo citado que podemos observar um novo delineamento da configuração estética através do diálogo com o teatro, aliado às modalidades da dança clássica e contemporânea, convergindo num intercâmbio com as danças da tradição popular que se constitui no eixo estético norteador de todo o trabalho de composição coreográfica do Grupo.
RESULTADOS:
Este espetáculo conseguiu transpor elementos da tradição popular constantes no universo dos festejos juninos para o contexto artístico, amplificando as danças, bem como impulsionando a imaginação dos artistas envolvidos. Percebemos nesse espetáculo que seu processo de montagem coreográfica mostrou, em algumas de suas coreografias, uma utilização de elementos da própria dança tradicional, mas usados nesse caso no intuito de criar uma coreografia que faça apenas uma referência a dança pesquisada. Um exemplo disso é a coreografia denominada 'Sangê' (derivado do francês échange), que não aparece como decodificação fiel do passo original presente nas quadrilhas tradicionais e caracterizado pela troca de pares, mas sim como uma grande brincadeira em que toda a coreografia é pensada a partir de múltiplas tramas espaço-temporais em que os dançarinos estabelecem trocas diversas durante a dança. A apropriação realizada nesse processo, bem como nas demais coreografias, levou em consideração os desdobramentos que há no universo dos festejos juninos para poder comunicar ao público a proposta espetacular do Grupo de trazer à cena um período marcante e importante no cenário cultural e social brasileiro, especialmente no Nordeste.
CONCLUSÃO:
O Grupo Parafolclórico da UFRN vem se ajustando à uma tendência que envolve as práticas artísticas da contemporaneidade, ao buscar uma proposta estética que sinaliza o reprocessamento de idéias, o incentivo às novas experimentações, o acoplamento de técnicas, estéticas, estilos, entre outros elementos das linguagens.Com isso, a composição coreográfica do Grupo está se distanciando de sua concepção inicial de releitura das danças da tradição e enveredando num campo de referências, apenas, dessas danças. Ao mesmo tempo, o Grupo se envolve com outros parâmetros artísticos para compor sua proposta espetacular.Dessa forma, a reelaboração coreográfica das danças da tradição que é tão própria dos grupos parafolclóricos vai ganhando outros sentidos e formatações no Grupo Parafolclórico da UFRN desencadeando um processo de concepção artística original que utiliza os elementos da tradição como base, ao mesmo tempo em que convida outras técnicas e estéticas na construção desse processo criativo.
Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES
Palavras-chave: Concepção estética, Produção coreográfica, Espetáculo.