Foi importante o levantamento bibliográfico e leitura do conjunto da obra de José Veríssimo, desde os textos publicados em periódicos do final século XIX início do XX, não de imediato coligidos, até os textos reunidos em volumes, quando ainda em atividade. Acompanhamos, além disso, trabalhos póstumos importantes de Veríssimo. Ademais, a partir da Teoria da Recepção questionamos o "horizonte de expectativas" da produção de Veríssimo em torno da produção de S. Romero e Araripe Jr. ("geração de 1870"), seguidamente pensando sobre as rupturas desses horizontes, em Veríssimo, para a constituição de argumentos críticos e historiográficos outros. Serviram-nos de fontes para compreensão mais larga de nosso objeto a discussão fundamental de H. R. Jauss sobre A História da Literatura como Provocação à Teoria Literária (1994) e o trabalho de K. Stierle sobre o Que Significa a Recepção dos Textos Ficcionais? (1979).

Veríssimo e Candido compreendiam que a literatura brasileira tomaria forma nacional, tendo em vista o "processo de formação", especialmente no período romântico e que desse sistema resultaria uma nova informação cultural, o novo lugar da literatura e da nação. É principalmente em resenhas como Sobre a Formação da Literatura Brasileira (quase homônima à história de Candido) (1906) e Os Períodos ou Épocas da Literatura Brasileira (1908) que Veríssimo entende "formação" como período decisivo para a culminância de uma forma autêntica e independente, "formação" enquanto processo de construção e afirmação de identidade. O conceito de "literatura como sistema", caro à obra de Candido, é pensado por Veríssimo, mas não foi metodologicamente praticado como argumento para seleção canônica no conjunto de ensaios de sua História, a qual sinalizou sustentação sobretudo a partir de critérios estéticos. Também a metáfora da "literatura brasileira como galho da portuguesa", largamente debatida em torno da obra de Candido, é, no Brasil, inicialmente levantada por Veríssimo para referir à relação entre as literaturas dentro de um sistema transnacional de assimilação e comercialização cultural: consciência sobre o Brasil enquanto lugar do subdesenvolvimento.

O horizonte histórico de nascimento da obra de José Veríssimo aponta para uma nova compreensão do processo de canonização literária (critério sistêmico), que teria seu ápice a partir da recepção de Antonio Candido na década de 1950 no Brasil. Veríssimo e Candido, cada qual sob as limitações de seus lugares ("horizontes"), bem de perto compartilharam de uma ideologia universalista por pensarem a literatura enquanto jogo autor-obra-leitor, enquanto processo que se realiza a partir da existência de um leitor (mundo), sob a ideologia da mundialização da cultura. Além da importante contribuição de Veríssimo em fornecer ao crítico e historiador mais eminente da literatura brasileira do século XX, Antonio Candido, os conceitos e critérios centrais de sua Formação, o legado mais significativo do crítico amazônico, o qual articula a posição conceitual do crítico contemporâneo, está na leitura do fenômeno literário nacional enquanto problema universal, que não se resolve apenas do ponto de vista do Brasil, mas que adquire um lugar no complexo sistema transnacional de trocas simbólicas. O Brasil enquanto projeto de cidadania do mundo.