No momento em que vivemos rodeados por desequilíbrios ecológicos decorrentes do efeito estufa, da poluição, de desmatamentos, das queimadas e dos demais desrespeitos cometidos contra a natureza por "necessidade" ou simples ganância, se torna imprescindível a abordagem de uma educação ambiental nas escolas básicas. Nosso trabalho parte da assunção pedagógica de uma infestação de besouros, que tem ocorrido nos últimos três anos, no município de Sinop, região norte de Mato Grosso, localizada dentro da faixa de transição cerrado-floresta amazônica e caracterizada por crescimento demográfico e econômico que ultrapassa os dez por cento ao ano.  Devido ao fato de os livros didáticos de Ciências utilizados não enfatizarem esse fenômeno local com a devida importância, nosso objetivo foi o de propor uma seqüência didática para o ensino do tópico curricular, do Ensino Fundamental: Anfíbios, a partir de um problema cotidiano de infestação de besouro.

Nossa proposta assumiu a seguinte conformação, inspirada em Delizoicov e Angotti (1990): Num primeiro momento, antes de apresentarmos tema curricular Anfíbios, exibimos aos alunos uma foto retratando a infestação de besouros e pedimos para que coletassem informações a partir da questão: o que explica a superpopulação de besouros vivenciada em Sinop nos últimos meses? Num segundo momento, em aula posterior, exploramos os saberes por eles pesquisados. Evidenciamos as respostas que podiam ter alguma relação com os anfíbios. Como o fenômeno da infestação é complexo, entrevistamos professores de entomologia da UFMT. Uma possível causa para o fenômeno é o fato de que essa espécie de besouro é foto positiva, ou seja, utiliza-se de luz para obter mais energia. Logo, à noite, no seu período de reprodução, os besouros são atraídos pelas luzes provenientes do perímetro urbano, de modo a ficarem afastados de seus predadores naturais, dentre eles, os anfíbios. Ainda, para a sistematização do conhecimento, utilizamos uma reportagem do Só Notícias, os vídeos Los Anfibios e os conceitos abordados no Livro Didático, procurando relacionar os diferentes aspectos que circunscrevem ao fenômeno em questão como: cadeia alimentar, equilíbrio ecológico, determinantes biogênicos e antropogênicos.

A investigação e a construção de uma estratégia de ensino para o tema Anfíbios, no sétimo ano do ensino fundamental, demonstraram-nos as limitações dos livros didáticos frente à sua capacidade de contextualizar conceitos científicos face às dinâmicas das realidades regionais, bem como, a desconstrução da idéia de professor como "mestre onipotente do saber". Mais do que apontar obstáculos, a nossa experiência conseguiu problematizar a pesquisa como um aspecto fulcral para formação de professores de Ciências. Nossas limitações puderam ser  percebidas-refletidas por meio do terceiro momento pedagógico, no qual realizamos uma atividade onde os alunos relacionaram os anfíbios e suas características com a sua importância para o meio ambiente dentro do âmbito do equilíbrio ecológico. Aqui, os alunos constroem uma estória em quadrinhos com o tema: Os anfíbios e o meio ambiente. As referidas produções são lidas coletivamente visando à socialização das idéias e o replanejamento das aulas pelo futuro professor.

Durante esse trabalho, concluímos que a construção de estratégias didáticas pode constituir-se como um momento relevante para refletirmos sobre nossa atuação em sala de aula, no intuito de superar as enfadonhas ensinagens baseadas na repetição e na ilustração mecânica de saberes pré-determinados. Se, por um lado, o ato de educar não se mostra tarefa simples, por outro, educar ensejando a formação de uma consciência ambiental é um processo desafiador que só pode ser vislumbrado a partir de um encontro crítico com os nossos limites e as nossas falsas certezas, mergulhando, dialeticamente, na reflexão teórica-prática de nossos fazeres docentes em Ciências.