62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde
ANSIEDADE PERANTE O VESTIBULAR: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO E CURSINHOS PRÉ-VESTIBULARES
Thiago Francisco de Andrade 1
Rômulo Lustosa Pimenteira de Melo 1
Hermesson Daniel Medeiros da Silva 1
Joilson Pereira da Silva 2
1. Departamento de Psicologia - UEPB
2. Prof. Dr./Orientador - Departamento de Psicologia - UFS
INTRODUÇÃO:
A adolescência é uma época de transformações físicas e emocionais, responsáveis por uma verdadeira reviravolta na vida de quem a enfrenta. Nesse contexto, a escolha profissional, permeada pelo exame vestibular, surge como um fator ansiogênico, sobretudo quando levamos em consideração um contexto competitivo como é a concorrência a uma vaga no ensino superior. A ansiedade, cujas relações com o desempenho acadêmico têm sido claramente apontadas, é ainda um elemento que aflige um sem-número de estudantes que, mesmo estando preparados para a prova, frequentemente apresentam um desempenho insatisfatório no vestibular. Apesar de estudos terem se aprofundado no tema da ansiedade entre os jovens, ainda não tem sido dada a devida relevância ao vestibular enquanto evento ansiogênico. Nesse sentido e tomando como base a natureza bidimensional da ansiedade, ou seja, tanto como estado emocional quanto como um traço de personalidade, o objetivo do presente estudo foi efetuar um levantamento sobre a incidência de ansiedade traço-estado perante o vestibular, entre estudantes de ensino médio e cursinhos pré-vestibulares de Campina Grande, bem como a realização de comparações relativas ao gênero, tipo de escola, religião e experiências prévias com o vestibular.
METODOLOGIA:
Um total de 636 estudantes, homens (40,3%) e mulheres (59,7%), com idade média de 17,8 anos (dp=3,58), das redes pública (45,3%) e privada (54,7%) de ensino médio e cursos pré-vestibulares da cidade de Campina Grande - PB, responderam voluntariamente a um questionário composto de uma folha de caracterização sociodemográfica e duas escalas de ansiedade: a escala Test Anxiety Inventory, que avalia a ansiedade-traço perante exames escolares; e a Escala de Ansiedade de Beck (BAI), utilizada no levantamento clínico de sintomas característicos da ansiedade-estado. As escalas foram aplicadas em sala-de-aula, com a devida autorização dos dirigentes das escolas componentes da amostra. A coleta dos dados se deu entre os meses de novembro e dezembro de 2009, época em que são realizados os vestibulares das principais universidades. Os dados foram tabulados utilizando o pacote estatístico SPSS para Windows, onde foram computadas estatísticas descritivas (tendência central e dispersão) e efetuados testes de diferenças entre condições (teste U de Mann-Withney, teste t de Student, teste de Kruskal-Wallis e ANOVA).
RESULTADOS:
Os resultados indicam diferenças significativas entre os gêneros nos escores das duas escalas, sendo as mulheres afetadas de modo mais contundente [t(634)=-6,02, p<0,001; U=34584, p<0,001]. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas nos escores de ansiedade em relação ao tipo de escola (pública ou privada) [t(634)=0,15, p=0,88; U=48653, p=0,527]. Em relação à série, uma ANOVA indicou diferenças estatisticamente significativas no tocante à ansiedade-traço [F(3)=6,39, p<0,001], situada entre os estudantes do primeiro ano e os demais (p<0,001; p=0,018; p=0,035). A ansiedade-traço perante exames apresentou maior incidência entre os estudantes do segundo, terceiro ano e cursinhos. Os índices de ansiedade-estado não apresentaram diferenças significativas em função da série [χ2(3)=4,033, p=0,258]. Na amostra consultada, a experiência prévia com vestibulares (número de vestibulares prestados) parece não estar relacionada à incidência de ansiedade-traço [χ2(6)=6,27, p=0,39] ou estado [χ2(6)=3,036, p=0,804]. Por fim, as diferenças em função da religião indicam que os estudantes que se declararam sem religião apresentaram escores mais elevados de ansiedade traço-estado quando comparados àqueles que se dizem católicos (U=6654,5, p<0,001; U=7580, p=0,011).
CONCLUSÃO:
Os resultados obtidos auxiliam a preencher uma lacuna ainda existente sobre a compreensão do fenômeno da ansiedade perante o vestibular entre estudantes, em termos de incidência e relações com algumas variáveis sociodemográficas. A ansiedade parece, na amostra estudada, afetar os estudantes de forma semelhante em relação, por exemplo, ao tipo de escola e à série, com exceção aos estudantes do primeiro ano, entre os quais, naturalmente, o vestibular parece ainda não constituir fator ansiogênico de modo a eliciar estados ou traços de ansiedade perante exames. Por outro lado, como tem sido apontado em outros estudos, as mulheres tendem a ser mais afetadas pela ansiedade, apresentando escores mais elevados em termos de sintomas e traços. Ademais, a religião parece ser uma estratégia de afrontamento à ansiedade, uma vez que os estudantes que se declararam sem religião tenderam a apresentar índices mais elevados de ansiedade. Os dados apontam para a necessidade de intervenções psicossociais nas escolas, uma vez observados elevados índices de ansiedade-estado em nível severo, afetando mais de 8% dos estudantes consultados. Por fim, sugerimos a realização de outros estudos em outros contextos, bem como levando em consideração outras variáveis.
Palavras-chave: Ansiedade, Vestibular, Estudantes.