62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 2. Microbiologia Aplicada
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM AIDS INTERNADOS NO HOSPITAL GISELDA TRIGUEIRO EM NATAL/RN, NO PERÍODO DE 1998 A 2008
Bruno Tardelli Diniz Nunes 1
Valeska Santana de Sena Pereira 1
Victor Soares Cavalcante Costa 1
Josélio Maria Galvão de Araújo 1
Judson Welber Veríssimo de Azevedo 2
José Veríssimo Fernandes 1
1. Departamento de Microbiologia e Parasitologia, UFRN
2. Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba - FCM - PB
INTRODUÇÃO:
A doença hoje conhecida como síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), surgiu no início da década de 80. O agente etiológico foi isolado pela primeira vez por pesquisadores do Instituto Pasteur, sendo classificado como um retrovírus. Inicialmente foi chamado LAV (vírus associado a linfoadenopatia), depois HTLV (vírus linfotrópico de células T humanas) e, finalmente, HIV (vírus da imunodeficiência humana). Inicialmente vinculado aos homossexuais masculinos, particularmente nos países industrializados, o HIV se disseminou rapidamente, atingindo mulheres, crianças, homens com prática heterossexual e hemofílicos, disseminando-se principalmente, pela via sexual. Hoje a epidemia apresenta três aspectos: vem atingindo pessoas pobres (pauperização), mulheres (feminilização), e adolescentes (juvenilização). Cerca de 33 milhões de pessoas no mundo estão infectadas, sendo que 68% dos casos e 76% das mortes concentram-se na África Subsaariana. O Brasil vem apresentando nos últimos anos uma tendência de queda do número de óbitos, com significativas mudanças no perfil epidemiológico. Neste estudo analisou-se dados do livro de registro de pacientes com AIDS internados no Hospital Giselda Trigueiro visando traçar um perfil dos indivíduos afetados.
METODOLOGIA:
O presente estudo constou de uma análise dos livros de registro de internamentos do hospital Giselda Trigueiro (HGT), referência em AIDS no Rio Grande do Norte, abrangendo o período de 1998 a 2008. A amostra estudada foi composta pelo total de indivíduos soropositivos para HIV que estiveram internados em algum momento naquela unidade hospitalar. Foram levantados dados tais como: idade, sexo, procedência, forma de aquisição do vírus, registro de doenças oportunistas, complicações e óbitos. Os casos de re-internamentos foram considerados apenas para efeito de computação dos episódios de manifestação de alguma doença oportunista que necessitou a internação. Para determinar a proporção de casos por município, distribuição por faixa etária e sexo, utilizou-se o número de pacientes internos exclusivos de cada ano considerado. Os dados obtidos a partir dos livros de registros foram quantificados, tabulados e analisados objetivando identificar as características dos indivíduos internados com a doença no período estudado, visando identificar possíveis mudanças no perfil epidemiológico da doença. Para isso, amostra foi estratificada em função do ano do internamento, faixa etária, município de origem, sexo, manifestação de doença oportunista, complicações e ocorrência de óbito.
RESULTADOS:
Durante o período estudado foram registrados 868 internamentos de pacientes com AIDS, 70,0% do sexo masculino e 30,0% do feminino. A faixa etária de maior incidência foi dos 13 aos 45 anos com 50,2% dos casos. A maioria era de Natal, solteiro, heterossexual, etnia branca, origem pobre, com baixo nível de instrução, que teve múltiplos parceiros, não usava preservativo nas relações sexuais e afirmou ter se infectado pelo contato sexual. De 1998 a 2002, foram registrados 311 internamentos, com média de 62 novos casos por ano, sendo 72,6% do sexo masculino e 27,4% do sexo feminino. De 2003 a 2008 foram feitos 557 registros, com média anual de 93 novos casos por ano, sendo 68,8% masculinos e 31,2% feminino. A razão de gênero da infecção foi reduzida de 3,13 em 1998 para 2,34 em 2008. Foram registrados 2.014 episódios de doenças oportunistas destacando-se a toxoplasmose (23,6%), tubérculos (18,5%), Candidíase (16,8%) e gastroenterites insepecíficas (16,6%). As complicações mais frequentes foram hepatopatias (27,3%), neuropatias (18,2%) e linfoma (15,5%). Foram registrados 320 óbitos durantes o período estudado, sendo 75,9% do sexo masculino e 24,1% do sexo feminino. A razão de gênero em relação aos óbitos apresentou uma redução de 15,0 em 1998, para 2,73 em 2008.
CONCLUSÃO:
Analisando-se o curso da epidemia de AIDS no Rio Grande do Norte, durante o período estudado, constatou-se que a doença vem se interiorizando, estando presente em 75 % dos municípios, embora a maioria dos casos se concentre na capital e região metropolitana. A epidemia cresceu ao longo do período estudado, dobrando praticamente, o número internações ao longo dos onze anos. A faixa etária com maior incidência foi dos 31 aos 45 anos, seguida de 16 aos 30 anos. Embora a maior prevalência de AIDS ainda seja no sexo masculino, observou-se um ligeiro aumento do número de casos entre as mulheres, com redução na relação homem mulher, passando de uma razão de três homens para cada mulher em 1998, para dois homens para uma mulher em 2008. Seguindo a tendência mundial, os resultados deste estudo apontam para um aumento da incidência da doença entre os mais pobres, nas mulheres e adolescentes. A toxoplasmose foi a doença oportunista mais frequentemente diagnosticada e a complicação mais registrada foi a manifestação de hepatopatias. O registro de óbitos teve um ligeiro incremento ao longo do período estudado, observando-se uma redução expressiva na razão de gênero em relação aos óbitos passando de 15 homens para cada mulher em 1998 para três homens para uma mulher em 2008.
Instituição de Fomento: CNPQ, FAPERN
Palavras-chave: AIDS, Perfil dos indivíduos, Epidemia.